Enxergo São Paulo de cima. Da janela em um pequeno apartamento no histórico edifício Copan, projetado por Niemeyer e inaugurado em 1966. Aliás, como muitas construções mais antigas, a estrutura está em obras.
É justamente ali, observando pelo vidro uma espécie de viga de concreto suspensa, que Audrey Hepburn me vem à lembrança. Na verdade, me recordo dela no filme “Breakfast at Tiffany’s” ou “Bonequinha de Luxo” (1961). Mais precisamente, a cena em que ela senta à janela do apartamento em Nova Iorque e toca “Moon River”.
Lembro que há tanta doçura na cena. O olhar de Audrey, este cheio de bondade, contrasta em minha mente com os sons que a capital paulista emana. Sons de uma vida corrida, carros, buzinas, às vezes gritos de manifestações. No Brasil, século 21, tudo está em ebulição.
Em meio ao devaneio, me vêm à mente também outras frases atribuídas à atriz, algumas que dizem algo sobre a maior preciosidade da vida ser as pessoas que nos cercam, com quem trocamos experiências. “Talvez só precisemos disso. Um pouco mais de amor e gentileza, tranquilidade, música, paz”, reflito.
Não sei se Audrey teria gostado daqui. Talvez não agora, quando tudo está tão embaçado e a luta pela sobrevivência parece massacrar as relações. Penso que, na esfera pessoal, tudo que eu quero é ser capaz de conservar um pouquinho da mesma doçura no olhar que a atriz – uma das mais belas e gentis de Hollywood, dizem – possuía.
Por ironia, uma semana depois Moon River tocou no meu Shuffle do Spotify.
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