Em tempos de crise global, um dos melhores mantras é visualizar dias melhores. Eu mesma tenho feito isso nos últimos dias de quarentena. Me imagino indo à praia, ao cinema, passeando em uma livraria, frequentando aulas de Yoga, abraçando amigos. Deixa meu coração mais aliviado focar na certeza de que somos capazes de superar o momento atual.
Por outro lado, tenho refletido cada vez mais sobre o fato de que, muito provavelmente, a melhor forma de honrar as pessoas que já foram vítimas da tragédia do vírus é justamente EVITAR que tudo volte “ao normal”. Porque os sinais já estavam aí: nosso “modo normal” de vida não tinha nada de normal.
Topa aprofundar o devaneio comigo?
Os sinais que ignoramos
Joaquin Phoenix alertou em seu discurso do Oscar sobre o potencial destrutivo do egoísmo de nossa espécie. Greta Thunberg enfrentou autoridades com a mesma mensagem e seu movimento Friday’s for Future. Até Bill Gates, bizarramente, fez basicamente uma previsão do Coronavírus em um TED X de 2015.
Espie aí:
Bem, a realidade evidencia o óbvio: durante muito tempo, nós ignoramos os alertas de pessoas brilhantes e que buscaram abrir nossos olhos. E por quê? Porque estávamos engolidos pelo próprio sistema. Sempre mais preocupados com o dinheiro, as roupas, nossos celulares. Futilidades.
Ao invés de usarmos a tecnologia a nosso favor como humanidade, nos perdemos nela. Comparando nossas vidas no Instagram, ficando mais centrados em nosso próprio mundinho e olhando cada vez menos para o lado. Deixamos de perceber, muitas vezes, a importância das conexões reais. A relevância de outras pessoas em nossas vidas.
Li recentemente uma coluna na hoje já extinta revista Yoga Journal escrita por David Frawley, intitulada “Uma abordagem védica sobre a tecnologia”. Nela, o escritor faz a seguinte crítica:
“Talvez o principal problema seja que a tecnologia da informação tenha sido lançada no contexto de uma cultura consumista em seus valores, o que determina a maneira como ela é usada. (…) O consumidor frequentemente vira o consumido. Nós mesmos nos tornamos mercadorias que são eventualmente descartadas do supermercado, como trabalhadores velhos de uma fábrica.”
Forte, não é? Mas esse é um ponto crucial que julgo importante enfatizar. Outro fator que contribui para a proliferação de vírus é justamente a decadência da saúde humana. Nessa “rodinha do hamster” na qual nos encontrávamos julgando que isso era o modo “natural” de se viver – sempre correndo -, sacrificávamos tudo em detrimento do capital.
Inclusive a nossa saúde física e mental, nosso amor-próprio. Não é preciso ser especialista para identificar que uma doença é contraída quando o sistema imune está frágil – e tal fragilidade provém justamente de má-nutrição, falta de contato com o sol, sedentarismo. Vivíamos ignorando que somos seres biológicos, que necessitam da Natureza.
Até que o jogo virou. E agora?
O minimalismo pode nos ajudar a retomar a normalidade
Já recebi – e elaborei – diversas analogias interessantes em relação ao vírus. O fato de ser invisível, nos obrigando a prestar de novo mais atenção em como nos relacionamos com outras pessoas. Também o uso de máscaras, que nos força a voltar a “olhar no olho” do outro. Até mesmo o fato da doença atacar a “Coroa” – nosso EGO patriarcal – e o chakra cardíaco.
Seriam esses indícios de que necessitamos resgatar o feminino que há em todos nós (vale para homens e mulheres), vibrar mais amor, cooperação, entrega, calma? Acredito que sim, pois tudo é muito simbólico. Nosso ego nos trouxe até aqui. Chegamos ao ápice da autoexploração e da destruição do planeta.
Por mais que seja gostoso esperar que tudo volte a ser como era antes, penso que agora é a hora de nos reconstruírmos. Não há mais espaço para o “normal” que vivemos antes de toda a crise. Necessitamos retomar a verdadeira normalidade, um modo mais minimalista de viver.
Se o capitalismo não começar a ruir de vez, que pelo menos possamos encontrar formas mais dignas de viver nele. Que comecemos a aproveitar a quarentena para meditar todas as manhãs. Que os almoços e cafés com quem amamos sejam menos corridos. Que encontremos tempo para falar com nossos amigos e perguntar se estão bem.
Que comecemos a valorizar o trabalho de profissionais como caixas de supermercado, entregadores, motoristas – que estão se arriscando neste momento para continuar a suprir as pessoas. A meu ver, é assim que honramos a todos os que já morreram por conta da situação e os que estão lutando para salvar vidas neste exato momento.
Lembrando também mais uma vez de todo o coração: se você pode ficar em casa neste momento, fique. É a primeira ação mais altruísta que pode ser realizada agora.
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