Ouço a chuva lá fora e sinto meus olhos cansados. Acho que já passou das 22h. Não posso ter certeza. Há tempos que já não durmo com o celular próximo.
Durante este dia inteiro algo me arranhou internamente. Essas palavras aqui imploravam pelo encontro com o papel, pois há algo em mim que busca compreensão.
Necessito de algum vestígio de clareza sobre o paradoxo.
O imenso, assustador e magistral paradoxo que é 2020. Pensar nele me dói de tantas maneiras.
Há o sofrer ainda mais acentuado dos que já sofrem. A insanidade do homem se voltando contra ele mesmo.
Aquele negacionismo que lotou as praias no último feriado. A descrença egocêntrica dos que se recusam a usar uma máscara e acabam por revelar sem querer o que há de mais insensível ou ignorante dentro de si mesmos.
Não sei porque essas coisas me doem tanto. Mas foram raros os dias em que não chorei.
E era mais fácil chorar quando havia braços que me acolhessem para secar as lágrimas. 2020 não teve.
Só havia meus meus próprios braços ali e foi neles que me envolvi. Simplesmente não houve saída senão o amor-próprio.
Quando deitei na cama vazia e chorei, fui eu quem disse a mim mesma: “isso também vai passar”. É aí que o paradoxo se acentua.
Surgiu mais um ponto de interrogação na pureza deste reencontro comigo mesma. Me acolher e trazer o amor mais importante de volta – o próprio – tem sido talvez a parte mais doce para mim neste amargo ano.
O ápice de sua contradição.
Eu amo e odeio 2020. A parte de odiar é mais fácil, pois o ódio sempre é, mas também não consigo deixar de ver beleza escondida em tudo.
Não sei porque sou assim. Simplesmente sou incapaz de não ver algo de belo na vida, mesmo quando todos buscam me convencer do contrário.
Não posso crer que este planeta é horrível e o mundo é um lugar feio.
Sou mais da opinião de que nós é que pintamos tudo de cinza com nossa pressa e falta de sensibilidade. Aqui poderia ser muito mais colorido.
Falando em colorir, amanhã quero pintar alguma coisa. Ou quem sabe procurar algo interessante para fotografar.
Porque estou chegando à conclusão de que talvez estas palavras aqui não solucionem o paradoxo.
Talvez ele não tenha de ser solucionado, apenas atravessado.
E no meu ouvido há algo que sempre parece sussurrar incansavelmente até por trás dos pensamentos: o único caminho é a arte.
Sem ela, tudo isso é pura insanidade.
Rafa, amo ler teus textos. Tem dias que fico algumas horas pelo teu blog, deixo abas abertas e vou lendo em doses. Esse tá tão lindo, tive várias vezes esses sentimentos nesse ano de 2020. Obrigada por compartilhar… Beijos, Bibi.
Ahhhh, sua linda! <3
Obrigada de todo meu coração.
Fico muito feliz de saber que as palavras que escrevi ressoaram por aí também...é só por isso que faço o que faço aqui. Pela conexão.
Beijo,
Rafa