Desperto já imersa em pensamentos melancólicos. Maldito padrão típico de determinados dias de isolamento.
Necessito desesperadamente de algo que me leve daqui. Queria estar em uma praia, poderia ser em qualquer outro lugar do mundo.
Preciso sentir outros aromas. Meu país ainda cheira a necrotério.
Sento. Medito. A única solução capaz de me salvar da insanidade ao redor.
Não é que não pense em nada. Mas consigo me transportar a algum outro lugar.
Entro na água e a temperatura me arrepia, arrancando o torpor.
A areia me aterra.
O silêncio da imersão total no azul pacifica.
As falésias me fazem sentir pequena, dimensionando a brevidade da vida e, ao mesmo tempo, o milagre que é existir.
As gaivotas traduzem a beleza da fauna, as árvores colorem os olhos de verde exaltando a perfeição da flora.
O sal cura as partes do corpo que doem.
O balançar das ondas me faz lembrar do trecho da canção da Lana: “pegue uma onda e absorva a doçura, pense bem…a obscuridade, a profundidade, todas as coisas que me tornam quem sou”.
Tudo aqui tem sabor de paz.
Retorno do devaneio com uma sensação doce e amarga. Ainda estou presa.
É tudo ilusão.
Mas sinto que, em breve, a maresia não será só miragem.
Então, a melancolia já não me esmaga.
Sigo apenas pensando que a vida é a poesia mais trágica e estupidamente linda já escrita por alguém.
*texto originalmente escrito em 29 de novembro de 2020.