Eu dançava sob a lua. Ou era a lua que dançava sobre mim? Não saberia dizer, pois no movimento as perspectivas se misturavam e já não havia mais nada claro.
Quem era a lua? Quem era eu? Alívio. Não saber quem sou. Não importar quem fui. Não me preocupar com quem serei.
O estado de não-personalidade tem gosto de liberdade. Aquele mesmo sabor que eu experimentava ao entrar em um avião ou pular em um ônibus rumo a qualquer lugar.
A possibilidade de ser, sem ser meu nome, minha casa. Sem ser o que os outros esperam de mim.
Antes eu procurava tudo isso fora, sem saber que estava tudo dentro – apesar de às vezes também ser mais fácil chegar ao interior quando nos jogamos a percorrer o universo exterior.
Tenho saudade do mundo. Me pergunto se ele também sente minha falta.
Todas as pessoas que ainda não conheci, todos os lugares que ainda não visitei.
Será que me esperam?
É estranho estar presa em quatro paredes – é desolador, mas também libertador. Descobri que existe essa música dentro de mim, incapaz de ser ouvida antes na correria do capitalismo exageradamente acelerado.
A ideia de ser melodia me soa cada vez mais bonita.
Lembrei de um amigo que, dia desses, depois de ouvir uma música que toquei no ukelele e enviei para ele, me descreveu a experiência assim:
“E como atravessar uma floresta com sol e conseguir sentir a textura da umidade no ar.”
Será que não bastaria isso da vida para essa tal felicidade? Despertar algo profundo em alguém. Tornar o dia de outra pessoa melhor. Cantar. Abraçar quem ainda está perto.
Poderíamos ser poesia em um mundo de pedra.
Eu poderia ser como a lua que ilumina. Se já nos confundimos, por que não?
É que a sombra do Brasil atual, cruel, ainda insiste em tentar nos engolir.
Isso às vezes me faz chorar.
E o problema do choro isolada é que ele dói ainda mais.
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