Foto: A24/Divulgação
“De repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa…morna e ingênua que vai ficando no caminho.
Que é escuro e frio, mas também bonito, porque é iluminado pela beleza do que aconteceu há minutos atrás”.
Os versos são de Ney Matogrosso. Me vieram à mente ao relembrar o filme francês “Close”, dirigido por Lukas Dhont.
Um longa lindamente triste. Tristemente lindo. Nele, plantações de flores mimetizam ciclos de vida, morte, perdas e renascimentos – acompanhando a trajetória de dois amigos de infância, Léo e Remi.
Cena após cena, o(a) espectador(a) se vê tensionado a refletir:
Quando é que morre a inocência em uma criança? E quando esta “morte” se torna tão abrupta a ponto da dor de seguir vivo parecer insuportável?
Talvez seja esta a grande questão proposta pela narrativa.
É extremamente angustiante ver a amizade e sensibilidade entre dois amigos ganhar ares de malícia e passar a ser alvo de bullying.
Por que e como ainda permitimos que a cultura de nossa sociedade destrua a pureza das relações pela imposição de comportamentos idealizados por papéis de gênero?
Assim como mencionei que o filme “A Primeira Morte de Joana” apresenta este debate enfocando na relação entre duas meninas, acredito que “Close” nos permite analisá-las no contexto da relação entre dois meninos.
Tais reflexões são pontos-chave para compreendermos a violência mortal que espreita os jovens também nas escolas do Brasil.
Particularmente, creio cada vez mais que a violência começa pela morte do “sentir”.
Toque. Olhar. Afeto. Proximidade. São expressões de humanidade. E não podem ser perdidas pelo temor à sexualidade.