Minimalismo: significado, prática e dicas para começar

Photo by Sarah Dorweiler, Evano Community

O minimalismo transformou a minha vida. Não é papinho furado. Estou falando de libertação mesmo, ainda que soe um pouco extremo. Me refiro a uma diminuição bizarra nos meus níveis de ansiedade, à conquista de um senso de segurança para fazer escolhas e, acima de tudo, à capacidade de me perceber independente.

Parece bom demais para ser verdade? Bem, no começo, pareceu para mim também. No entanto, em sintonia com diversas leituras e experiências, percebi que a filosofia menos é mais realmente tem razão de ser. Quanto menos bagunça mental, estresse, coisas para cuidar e pessoas para lidar, maior é a paz de espírito que você vai experimentar.

Só que não foi do dia para a noite que toda essa transformação aconteceu, pelo menos comigo. Longe disso! Aliás, ainda estou em processo de me desapegar cada vez mais e mais. Você pensa em iniciar uma jornada rumo a uma vida mais minimalista? Meu objetivo com este texto é ajudar compartilhando um pouquinho do meu processo.

Bem, vamos por partes. Começando pelo básico:

Qual é o significado de minimalismo?

O significado de minimalismo é “o princípio de reduzir ao mínimo o emprego de elementos ou recursos”, de acordo com a definição formal do dicionário. Já segundo o Wikipédia, o termo se refere a uma “série de movimentos artísticos, culturais e científicos que percorreram diversos momentos do século XX, e preocuparam-se em fazer uso de poucos elementos fundamentais como base de expressão”.

São definições pomposas, mas vou tentar resumir de uma maneira mais simples e didática. O minimalismo diz respeito a uma forma de existir no mundo que consiste em eliminar tudo aquilo que não é absolutamente essencial a você. Isso vale tanto para posses materiais, quanto para pessoas e recursos.

Aí você vai me perguntar: “mas como saber o que é essencial a mim?”

Bem, diante dessa perguntinha capciosa, a transformação minimalista dentro de você já terá começado. Pela minha experiência, o que acontece quando passamos a nos questionar sobre o que verdadeiramente é essencial já é um ato revolucionário, por si só. 

Aprofundo: vivemos na era pós-moderna. Conforme ressalta o historiador Yuval Harari – um dos pensadores mais brilhantes deste século, na minha humilde opinião – o desafio dos nossos tempos é lidar com o excesso. Excesso de informação, excesso de consumo, excesso de comida. O excesso está nos matando. 

Embora no Brasil a desigualdade ainda seja estarrecedora, nós – classe média, graduados, e com acesso a internet – temos basicamente uma infinidade de opções de consumo a nosso dispor. Mas, em algum momento, nos percebemos esgotados. Comigo, pelo menos,  foi assim.

O minimalismo foi um antídoto encontrado para essa doença mental que se instalou nas sociedades ocidentais: o vício pelo consumo e o materialismo. O vício pelo ter, acima do SER.

Mas como efetivamente praticar o minimalismo, considerando que estamos em uma sociedade que nos estimula o tempo todo a gastar dinheiro? Como começar a priorizar experiências, em detrimento de posses?

Abaixo, compartilho alguns insights.

Minimalismo na prática: moda, amizades, comida e arquitetura

Ninguém vira minimalista de uma hora para outra. É um processo. Aliás, um processo contínuo de desapego que se intensifica com o tempo. A primeira etapa é perceber que você realmente não precisa de tanto. Já parou para pensar que cada roupa que você compra lhe custou horas de trabalho e manutenção, por exemplo?

Aliás, um dos preceitos que pode lhe ajudar a se manter firme na filosofia minimalista é imaginar que tudo aquilo que você compra é um peso sobre seus ombros. Vai lhe exigir dinheiro – e mais importante ainda – tempo (!!!) para manter. Além de pagar pela roupa em si, a título de ilustração, você terá que usar recursos para lavar, secar, limpar, guardar.

Portanto, pense bem na relação custo-benefício antes de adquirir algo. Ou investir tempo em relações que não acrescentam em nada na sua vida.

Ah, mas então quer dizer que não posso comprar mais roupas, livros e outras coisas que eu gosto?”. Não! Nada disso. Você pode, claro que pode, mas pense realmente se há um propósito por trás disso. Será que você precisa mesmo de uma roupa nova para cada evento que participa? Ou isso é só um símbolo de status social?

A ideia do minimalismo NÃO É acabar com toda e qualquer forma de consumo. Mas é trazer mais consciência no processo de aquisição de bens e uso do seu tempo, de modo que você realmente usufrua da vida. Do que é essencial. De coisas e pessoas que realmente valham a pena.

Antes de ser minimalista, eu frequentemente sentia que não tinha tempo para nada. Isso mudou. Ainda tenho uma agenda apertada, mas hoje posso cozinhar, encontrar amigos(as) queridos(as) e falar com eles(elas) diariamente, praticar yoga, meditar e caminhar com meu cachorro. Não é utopia, estou aqui para dizer que é possível.

Minimalismo e criatividade

O minimalismo no âmbito da moda e da decoração é, na verdade, uma externalização de tudo o que estou dizendo aqui. Uma coisa muito INCRÍVEL que acontece quando você se torna minimalista é que você se percebe 100000% mais criativo. Antes, eu tinha um armário lotado e nunca sabia o que vestir.

Hoje, com menos peças, sou mais criativa. Sei onde estão minhas coisas. Faço combinações diferentes com roupas básicas. Ficou mais fácil e prático me arrumar. E isso aconteceu também na decoração! Ao invés de gastar dinheiro com objetos, comecei a pesquisar referências na internet

Aqui é um exemplo!

decoração de home office minimalista com escada e quadros
Meu home office minimalista.

Ao invés de comparar novos quadrinhos, fiz uma decoração fofinha de home office só com quadros antigos, uma escada velha e plantinhas. Redecorar meu espaço especial basicamente não me custou nada. E foi um processo super divertido!

Mas, como falei, tudo isso é parte de uma trajetória. Quanto mais me aprofundo no minimalismo, mais percebo que o essencial realmente é muito pouco. Só que foi uma estrada chegar até aqui. Por isso, se você está no início do processo, abaixo quero compartilhar algumas dicas de conteúdo que podem ser úteis. 

Documentário sobre minimalismo e dicas de livros

Uma boa dose de inspiração sempre é boa para ajudar a fazer mudanças efetivas na vida. Aí vão alguns “conteúdos práticos” que me auxiliaram em meu processo de transformação

Minimalism: a Documentary About The Important Things

Disponível na Netflix, este documentário conta a história de dois caras – Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus que, durante boa parte da vida, perseguiram o American Dream. Mas algumas perdas trágicas na esfera familiar fizeram eles repensarem sobre o que realmente importa na vida antes da morte. 

No doc, você percebe como o lifestyle deles com menos coisas trouxe mais significado à sua existência de forma prática. Inspirador, poético, gostoso de assistir.

Documentário Ordem na Casa, com Marie Kondo

“Isso te traz alegria?”. É com essa frase que a fofíssima Marie Kondo inspira pessoas a deixarem suas casas mais limpas, organizadas e livres de coisas desnecessárias. Em seu documentário na Netflix, ela demonstra como manter apenas bens que nos despertem algo bom traz mais leveza e bem-estar. Sensacional! 

Livro Everything That Remains, de Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus

É o livro dos caras do documentário, com mais algumas sacadas sobre minimalismo. Outra dica: eles também têm um podcast! Nele, falam de maneira aberta e prática sobre como inserir o minimalismo no dia a dia, nas relações, nas datas comemorativas, etc. Um verdadeiro manual. Eu ouço pelo Spotify (mas só está disponível em inglês).

Livro Essencialismo, de Greg McKeown

Na definição de McKeown, o essencialista – que seria como um minimalista – não faz mais em coisas em menos tempo. Ele faz apenas as coisas certas. Esse livro é absolutamente indispensável para quem quer retirar o excesso de supérfluos vida

Excesso de compromissos, de bagunça mental. Ensina até formas práticas de dizer “não”. Eu recomendo mil vezes!

Livro Propósito, de Sri Prem Baba

A palavra “propósito” já foi quase que prostituída neste mundinho de internet. Mas eu realmente acredito que, se não atribuímos um sentido ao que fazemos de nossa vida, fica difícil não sentir necessidade de “preencher o vazio” com coisas materiais. Afinal, o impulso ao consumo nasce da insatisfação.

Daí a necessidade de buscar o autoconhecimento. É justamente sobre isso que Prem Baba fala nesse livro. 

Livro Walden, de Henry David Thoreau

Thoreau levou o minimalismo ao pé da letra. Durante dois anos, dois meses e dois dias, ele se isolou da sociedade para viver às margens de um lago, em uma pequena cabana construída por ele mesmo, tornando-se totalmente autossustentável. Sua obra é uma crítica social e, simultaneamente, um convite a percebermos que podemos sobreviver com o básico.

Uma das muitas frases incríveis do livro que amei é esta: “A riqueza de um homem é proporcional ao número de coisas que ele pode deixar em paz”. Quanto mais compromissos, tarefas e bagunça mental para lidar, maior a ansiedade.

Livro “Nômade Digital: um Guia para Você Viver e Trabalhar Como e Onde Quiser”, do Matheus de Souza

Um dos meus projetos de vida é virar nômade digital. E sabe o que é necessário para isso? Nas palavras do Matheus de Souza: desapego. O livro que ele acabou de lançar (e eu devorei em uma semana), além de trazer dicas práticas para quem deseja viver na estrada, é uma verdadeira homenagem à filosofia menos é mais.

Penso que quem – literalmente – vive pelo mundo aprende que o mais importante na vida de qualquer um de nós são as pessoas, não as posses. Descobre na prática como discernir entre o que realmente é um problema e quando algo é apenas imaginário, uma projeção da mente. Desenvolve inteligência emocional e social para lidar com as situações que se apresentam, ao invés de criar ansiedades mentais sobre passado e futuro. 

Tudo isso está no relato do Matheus. Sempre é bom se inspirar em pessoas que já trilharam o caminho que a gente deseja percorrer. Recomendo muito!

E aí, curtiu as dicas? Se você achou elas úteis, deixe um comentário e compartilhe com aquele amigo/amiga que também vai gostar de ler no WhatsApp, LinkedIn, Twitter ou Facebook.

Observação: eu não fui paga por nenhuma marca/empresa para escrever este artigo. Mas os livros citados contém meu link de Afiliada da Amazon. Ao comprar através deles, você ajuda a rentabilizar meu trabalho para que eu possa seguir escrevendo esses artigos. Obrigada!

2 respostas para “Minimalismo: significado, prática e dicas para começar”

  1. Oii Rafa!
    E aí, como está?

    Já li esse teu texto mais de uma vez e cada vez me traz uma ideia diferente.
    Na primeira, a partir dele vi o doc Minimalism, ouvi alguns eps do podcast (muito bons mesmo), assisti alguns eps da série da Kondo.
    De lá pra cá li o livro do Matheus e o Essencialismo.
    O Essencialismo MUDOU MINHA VIDA.
    Você tem razão.

    Só fico em dúvida quanto à denominação… minimalismo vem do essencialismo ou essencialismo vem do minimalismo? São a mesma coisa? Tenho a impressão de o Essencialismo ser mais amplo. Mas podem ser apenas termos diferentes para a mesma filosofia de vida.

    2020 foi um ano de destralhar, desapegar de muitas coisas, pessoas, compromissos. Tem sido libertador! Realmente aumenta nossa sensação de independência, muito bem observado. A autoconfiança aumenta também.

    O Matheus de Souza fala muito do livro Walden também. Está na minha lista!

    Até logo, provavelmente vou ler de novo esse artigo daqui um tempo rsrs.

    Beijos, Bibi.

    1. Oi, Bibi!

      Ahhh, fofa. Delícia de comentário o seu. <3
      Fico feliz de saber que já leu e releu o artigo várias vezes.
      Penso que, na verdade, minimalismo e essencialismo são filosofias muito similares...a "nomenclatura" é algo mais técnico mesmo.
      Pórém, nossa concepção sobre tais conceitos e a forma como levamos eles da teoria à vida real é a grande questão.
      É bastante desafiador ser minimalista em um mundo extremamente pautado pelo consumo. O legal é a gente mergulhar no processo aos poucos e assimilar tudo em etapas.
      Sobre a leitura de "Walden", vale muito a pena, sim!! O Matheus me indicou e, com toda certeza, fez diferença na minha vida.
      Lendo a história do Thoreau, podemos ter dimensão de que realmente dá para viver com MUITO menos.
      E, por aqui, 2020 também foi um ano de muuuitos desapegos. Legal saber que você está no mesmo processo.

      Um abraço enorme e obrigada pelo comentário!!

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