Eu não gosto quando sobra alguma louça suja na pia de um dia para o outro. Acho desagradável acordar ainda diante de resquícios da noite anterior, como vestígios de um tempo que já foi.
Gosto de amanhecer com a pia limpinha, sempre. Tu sabes disso.
Mas, de uns tempos para cá, confesso que quando sobra alguma louça suja na pia já não me incomodo mais tanto. Parei de me perturbar quando entendi o que está por trás de alguns pratos e copos esperando silenciosamente para serem limpos.
É a nossa essência. Um desejo pulsante de ocupar o tempo com músicas, amigos, livros, histórias, poemas, criações.
A louça suja na pia me diz que somos donas de nós mesmas e de nosso tempo.
A louça suja na pia me diz que somos intensamente dedicadas, pois tantas vezes o trabalho acaba sendo nossa prioridade. Nossa contribuição para construir um mundo melhor que, para muitos, é utópico. Só que nós acreditamos nele.
A louça suja na pia me diz que somos mulheres fortes, que não se definem apenas por sua casa, ou suas posses.
A louça suja na pia me diz que evoluímos espiritualmente, pois entendemos que um pouquinho de bagunça também faz parte do nosso processo de autoconhecimento aqui na Terra.
Obrigada por ter me ensinado que, de vez em quando, está tudo bem deixar a louça suja na pia.
*Dedico esta crônica à minha mãe, Maria do Carmo. Tu és apenas Luz em um mundo de caos.