Eu não imaginava que a paranoia de fim de ano ia bater por aqui já em novembro. Mas ela apareceu – e com intensidade. Talvez porque uma de minhas avós faleceu na última semana e a morte faz isso. A gente começa a repensar tudo.
No início deste ano eu tinha sonhos. Principalmente o de viajar, viver novas experiências, cruzar com pessoas incríveis. Sou muito feliz de olhar para trás hoje e ver que isso realmente aconteceu. Conheci seres humanos maravilhosos, percorri diferentes estados, ouvi sotaques distintos. Estive em lugares marcados pela riqueza e pela pobreza.
Comecei a sentir o gostinho do que é ser nômade. Só que o que eu não sabia – e descobri agora – é que o que estava por trás disso era, na verdade, um anseio de me conhecer melhor.
Talvez nem todas as pessoas que cruzaram comigo saibam, mas elas me ensinaram mais sobre mim do que qualquer aula de Yoga ou sessão de terapia. Isso porque elas espelharam todas as partes mais lindas e feias de quem eu sou.
Estive pensando que o ímpeto de viajar e percorrer o mundo – que é o que pretendo seguir fazendo – na verdade é um anseio da alma, um chamado para a gente olhar mais pra dentro. Porque é fácil criar uma vida cheia de distrações e nunca olhar. Só que uma hora bate aquele vazio. É inevitável.
Não sei o que 2020 me reserva, para falar bem a verdade. E aprendi que está tudo bem não planejar tanto. Sei que vou percorrer novos lugares, encontrar outras pessoas. Estou aberta ao que vier. Mas hoje percebo que o clichê é real: não é sobre para onde a gente vai, é sobre a jornada.
A viagem externa não importa tanto. O destino é só um detalhe. Como a Lana canta: “turns out everywhere you go you take yourself, it’s not a lie” (“acontece que para qualquer lugar que você vá, você se leva junto”). Ou seja: não adianta a gente querer fugir de si mesmo rodando o mundo.
Embora viajar – no sentido literal – seja uma grande jornada de autoconhecimento. a maior viagem é aquela que a gente faz para dentro da gente mesmo. A viagem externa só nos coloca em contato com isso mais fácil, porque tira a gente da bolha da nossa vidinha, da rotina estabelecida.
E olha… essa viagem interna é a que requer mais coragem. Olhar para as nossas dores machuca demais. É como tirar casquinhas de feridas esquecidas depois de muito tempo.
Aí você abre o Instagram e parece que ninguém precisa mexer nas casquinhas. E você pensa: “por que eu estou aqui cutucando?”. Bem, é porque você precisa. Porque já não consegue mais ignorar. E percebe que isso só vai fazer mais mal do que finalmente cutucar o machucado e depois, finalmente, fazer um curativo.
Para falar bem a verdade, não sei qual é o intuito deste texto. Talvez sejam só devaneios de um domingo à noite, depois de assistir uns 6 episódios de This Is Us, me lavar chorando e pensar: “caramba, não tenho a mínima ideia do que estou fazendo da minha vida”, mais um ano está no fim e nem planos eu tenho.
Mas esta é a vida real: um eterno exercício de desapegar de todas as certezas. Talvez, na verdade, a vida talvez seja a maior viagem e cada vez mais eu desconfio que nenhum de nós tem a mínima ideia mesmo do que está fazendo aqui. E o mais louco? É só vivendo que a gente vai descobrindo.
Se a gente estiver de coração aberto, a vida sempre coloca as pessoas certas no nosso caminho de autodescoberta. O que eu aprendi até aqui é que nada – nem ninguém – é por acaso.
E apreciar a vista sempre vale a pena.