Confesso que sempre torcia um pouco o nariz quando lia relatos muito pessoais na internet. Hoje, porém, percebo que não é por acaso que em em 2019 falamos tanto em vulnerabilidade. Nossas vidas andam tão artificiais que simplesmente nos desconectamos de nós mesmos e uns dos outros.
Foi por isso que decidi escrever este texto – bem pessoal – e compartilhar alguns aprendizados que tive após um dos anos mais intensos da minha vida. O ano em que comecei a viver a vida nômade e praticar o desapego no sentido mais literal da palavra.
Tudo começou com o desapego de uma pessoa. Tive que me desapegar de uma relação longa, cheia de amor e memórias maravilhosas. Mas que acabou. Sabe quando existe ainda um certo tipo de afeto, mas as outras circunstâncias são complicadas demais, não há mais força para continuar? Foi mais ou menos isso.
E assim teve início o que chamei de minha “crise dos 30 aos 25”. Mudei de trabalho, comecei a viajar e ler livros de autoconhecimento e espiritualidade que me colocaram em contato com partes minhas que eu tinha enterrado lá no fundo e nunca mais tinha olhado.
Elas vieram à tona. E me assustaram demais, principalmente no começo.
O que descobri quando desacelerei
Nessa mudança de rotina, percebi o quanto, nos últimos anos, simplesmente entrei na “corrida dos ratos” e dediquei grande parte da minha vida ao trabalho, ao êxito profissional, a ponto de ter sido basicamente uma workaholic. Conquistei muita coisa – mas perdi muito no caminho também.
A partir dessa constatação, realmente comecei a mergulhar fundo no minimalismo. Doei roupas e livros, limpei gavetas, pratiquei Yoga, viajei e, no meio dessa loucura toda, conheci pessoas muito especiais que me ajudaram nesse processo de reconexão comigo mesma.
Pessoas que encontrei em aeroportos, bancos de ônibus e até pela internet. Tenho certeza de que nunca mais esquecerei delas, porque fazem parte da minha nova versão. E espero muito ter deixado alguma marca minha nelas também.
Ainda sobre desapegos, no meu aniversário, rabisquei algo assim no meu diário:
“Estou revirando tudo, limpando e recordando tudo o que já fui, para tentar entender quem eu sou hoje”.
E assim a vida seguiu acontecendo. Fui apresentada a autores como Thoreau e Byung-chul Han, que me fizeram ter ainda mais certeza de que uma vida com mais experiências, pessoas de verdade, amor-próprio e autocuidado – e menos coisas – é a que realmente vale a pena ser vivida.
Assim, vendi meu carro e segui focada no lema “mais experiências, menos coisas”. Mas, recentemente, uma das minhas viagens me fez descobrir algo extremamente importante…
Também é preciso desapegar do desapego
Porque eu me tornei viciada em desapegar. E isso é perigoso, pode se tornar confortável demais nunca se apegar a nada ou ninguém pelo medo de sentir.
É preciso ter coragem também de amar e dividir expectativas, sonhos e problemas com outras pessoas. Em todo e qualquer relacionamento – seja na vida pessoal ou no trabalho.
É bom ter leveza, ter menos coisas. Mas o desapego também pode ser solitário, especialmente quando é pelo medo de que nunca vamos ser perfeitos o suficiente para ninguém, ou porque temos medo de nos machucar. Fica fácil viver no raso e nunca aprofundar nada.
Tudo isso para dizer que o que sobrou de mim após um ano de desapegos foi a certeza de que ainda tenho muito a trabalhar em mim mesma. Que a jornada de autoconhecimento não é tanto sobre viajar, como escrevi neste artigo, mas sobre ter coragem de olhar para si mesmo(a) – independentemente de onde você estiver.
Desconectar do trabalho, meditar, ler, fazer terapia, ouvir sua voz interior. Quanto mais você tentar calar essa voz com coisas externas ou outros amortecedores (bebidas, comida, drogas ou qualquer outra coisa), mais doloroso será olhar para tudo isso depois. Pode acreditar.
Em 2020, pretendo fazer exatamente isto: seguir me autodescobrindo. Para que eu me sinta corajosa o suficiente para me apegar um pouquinho mais de novo e encontrar esse equilíbrio entre apego e desapego. No fim, o caminho do meio é aquele que sempre faz mais sentido.
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