Em nossa história, ou somos protagonistas, ou somos reféns

Todos os dias, quando o despertador toca e levantamos da cama, uma nova história está prestes a começar. É o que diz a jornalista Ana Holanda, em seu maravilhoso livro sobre Escrita Afetuosa. Mas será que realmente temos responsabilidade pelas narrativas que criamos em nossas vidas?

Talvez agora, neste momento tão singular em que uma ameaça invisível nos fez “dar uma pausa forçada na rotina”, sejamos mais capazes de perceber que às vezes a correria da vida moderna nos torna tão autômatos a ponto de não prestarmos atenção ao que fazemos com nossas vidas. Apenas repetimos os mesmos padrões e histórias.

Por isso, creio ser o momento perfeito para propor uma reflexão: em que direção você quer levar sua história pessoal e profissional daqui para frente? Topa esse devaneio comigo?

Qual é a história que você quer escrever?

Se você está lendo este artigo em um celular ou computador, vou assumir que – assim como eu – provavelmente ocupa um lugar de maior privilégio na sociedade capitalista. Mas é engraçado que, tantas vezes, justamente por estarmos neste lugar mais privilegiado, deixamos de perceber o infinito número de escolhas que temos à nossa frente.

Acreditamos que precisamos trabalhar ainda mais, consumir ainda mais, ter sempre mais e mais e mais. Sei bem como é essa pressão. Ela vem de todos os lados, de todos os meios. “Preciso dar o melhor para o meu filho(a), então não tenho a escolha de sair de um trabalho do qual não gosto”. “Preciso ganhar mais, senão vão dizer que sou fracassado(a).”

Terceirizamos a responsabilidade sobre nossa história ao chefe, à empresa, ao governo. E passamos a agir como reféns. É neste ponto que a vida perde o brilho. Por um motivo intrinsecamente egoísta: deixamos de enxergar que a realidade é feita de infinitas possibilidades para a maioria de nós, os privilegiados.

Temos liberdade para ler, estudar, criar, expressar sentimentos. Como pontua a monja Jetsunma Tenzin Palmo no livro “O Coração da Vida”, se vivemos no Ocidente e temos o mínimo básico para sobreviver, temos liberdade de escolha sobre nossa vida pessoal e profissional:

“Vocês têm a oportunidade de treinar a mente. Não estão pensando o tempo todo em como poderão conseguir a próxima refeição. Têm tempo livre e oportunidade para pensar além. Vocês nunca terão um melhor momento do que este agora para usar esta vida de maneira tão significativa. (…) Se pelo menos estamos sentados e alguém não está nos ameaçando, isso já é ótimo. Então, o que há de tão preocupante?”

Percebe como as preocupações que nos mantêm presos em histórias de vida que já não nos agradam vêm de invenções da mente? O medo de não ter dinheiro, ou prestígio, ou má reputação, ou status? É o ego em seu temor de se dissolver. Mas, quando você percebe que é maior que isso, abre-se um mundo inteirinho de possibilidades à frente.

E você pode perceber, finalmente, que é responsável por sua história e pode escrevê-la como quiser. A vida imita a arte, dizem por aí. 

As novas histórias que já são escritas na era tecnológica

Quando decidi que iria me tornar nômade digital/trabalhar remotamente, era justamente por querer escrever uma história diferente para a minha vida. A narrativa de acordar, trabalhar, ir à academia, dormir, repetir 5x isso na semana e descansar no sábado e domingo já não bastava.

Precisava sentir que eu realmente vivia. Que teria vivências mais interessantes para contar antes de morrer. Contemplar outras realidades. Graças à internet, hoje podemos realmente escolher escrever histórias pessoais e profissionais muito distintas do que a geração dos baby boomers, por exemplo. 

Ontem mesmo, acompanhando uma Live no Instagram com o Matheus de Souza e o Lucas Morello – que acabaram de lançar um projeto incrível de capacitação para trabalhadores remotos, chamado Remote Box – refleti ainda mais sobre isso. Eles falavam sobre como o próprio trabalho remoto pode ser exercido de formas diferentes para cada pessoa.

Há quem goste de trabalhar de pijama, há quem goste de se arrumar. Há quem prefira trabalhar em um café, ou então ter um escritório em casa. Ou, por que não, intercalar? Vivemos uma era em que a liberdade na forma de trabalharmos nunca foi tão extrema. Agora é o momento de aproveitar essa oportunidade.

Um certo vírus chegou para nos avisar que nada será como antes. Então, que possamos olhar para este novo mundo e contemplar não apenas as coisas ruins que acontecem – e sim todos os benefícios que este novo período traz. Porque sim: ninguém esperava por tudo isso. Sim: a vida é caótica. Isso simplesmente são fatos.

Porém, como escreve Derek Thompson em “Hit Makers”: “Qualquer história é melhor do que o caos. Na verdade, pode-se dizer que o caos da vida é uma condição crônica para a qual as histórias são o remédio”.

Como você quer escrever a sua?

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