Yoga: meu caminho de busca por uma vida em paz

Não me recordo exatamente quando foi que o Yoga me trouxe o insight que inspirou este texto. Mas sei que, naquele dia, algo na minha vida mudou radicalmente: ficou claro, bem diante dos meus olhos, um fato óbvio (que até então, de vez em quando, eu costumava ignorar): todos os seres humanos sofrem.

Todinhos, sem exceção. Eu, você que me lê. A blogueirinha que parece ter a vida perfeita no Instagram. O rico e o pobre. Qualquer pessoa no mundo já experimentou o sofrimento. Não por acaso, esta também é a primeira das nobres verdades expressas por Buda: a dor existe

Também não por acaso, tanto pela sabedoria indiana, quanto pelo budismo, está dito que existe um caminho para atenuar essa dor. Mas será mesmo que é possível ter uma vida em que os altos não são tão altos e os baixos não são tão baixos? Uma vida em que, independente do que aconteça externamente – mesmo que se trate de uma pandemia mundial -, seja possível manter um pouquinho da serenidade interior?

Jamais teria a pretensão de dizer que tenho a resposta para todas essas questões. Mas, neste artigo, quero compartilhar um pouquinho da minha jornada diante de tais perguntas.

A vida perfeita é sempre uma criação ilusória

Por mais louco que possa soar, compreender que todos sofremos foi libertador para mim. Até então, eu realmente achava que algumas pessoas eram simplesmente mais afortunadas que outras. Diante de uma “vida perfeita” nas redes sociais, acreditava que certos sortudos “ganhavam na loteria da vida”, enquanto outros estavam destinados a sofrer.

Só que, quando comecei a me aprofundar nos estudos de Yoga – não somente focando na parte física, mas também em seus ensinamentos enquanto escola filosófica – constatei algo óbvio, mas tão facilmente ignorável: o simples fato de todos termos um corpo já é pré-requisito para sofrermos.

Acompanhe o raciocínio. Corpo é matéria. Matéria envelhece, se degrada facilmente. Ou seja: em algum momento de nossa existência, na infância, juventude ou velhice, o simples fato de estarmos dentro de um corpo capaz de se deteriorar já vai nos fazer sofrer. Ocorre que adoramos ignorar isso e fingir que estamos imunes, não é?

Aí está o ponto-chave. A ignorância da verdade desse sofrimento é o que leva a maioria das pessoas a buscarem distrações por meio de coisas materiais e prazeres externos, entrando em um infinito ciclo de dor versus prazer, mas que não traz nenhum tipo de satisfação plena. O medo continua ali, pois quando se ignora o sofrimento, ele logo reaparece na outra esquina.

Já reparou como algumas pessoas têm extrema dificuldade em lidar com a quarentena? Não conseguem ficar em casa, sempre inventam algo para fazer? Precisam de uma distração constante? Não conseguem lidar com o silêncio? É porque o silêncio exige respostas mais profundas sobre a nossa existência.

E, sim: é necessário coragem para encará-las.

O corpo como porta de entrada para Yoga

Vamos agora continuar por partes, então: se o corpo é a primeira causa mais óbvia do sofrimento humano, faz sentido começar um caminho de cura por meio dele também, não é? É aí que entram as posturas físicas que você já deve ter visto por aí, chamadas de asanas.

Uma maravilhosa reportagem na hoje já extinta Revista Yoga Journal, escrita por Leslie Peters (que foi diretor executivo do Instituto Iyengar Yoga de Los Angeles de 1993 a 2004), esclarece detalhadamente o porquê da jornada de libertação proposta pela filosofia do Yoga começar com práticas físicas.

Acontece que o corpo é nossa parte mais externa, densa, palpável. Somos capazes de tocá-lo. Ele é nosso veículo para atingir uma consciência mais presente – esta que não vai se abalar tanto diante de mil acontecimentos externos que ocorrem em nosso dia.

“A firmeza do corpo vem antes, porque nós começamos nossa jornada pela periferia – o que podemos ver, sentir, tocar. O corpo é o veículo do caminho do Yogi na libertação máxima. A menos que ganhemos domínio do corpo, não podemos esperar prestar atenção à alma”, escreve.

Em outras palavras, não conseguimos aquietar nossa mente usando a mente. Não somos capazes de encontrar um espaço de quietude interna e tranquilidade “pensando que não queremos ficar ansiosos”. Só podemos mudar nosso estado mental através do corpo. Mais precisamente, pelo movimento e pela respiração.

O verdadeiro caminho é procurar a essência

Conforme escrevi em uma postagem no meu Instagram no último domingo, quando foi comemorado o Dia Internacional do Yoga, a verdade é que viver Yoga é, sim, sobre fazer posturas físicas para buscar um espaço de tranquilidade interna. Mas a busca não termina aí.

Yoga é algo para a vida toda. Meditar e praticar fisicamente é uma partezinha do que seus ensinamentos propõem. Até mesmo o estudo das escrituras faz parte dela. 

Aliás, uma das melhores decisões que tomei na quarentena foi iniciar um Curso sobre os Yoga Sutras de Patañjali, ministrado pela maravilhosa professora Maria Nazaré Cavalcanti.

Nele, já pude compreender ainda melhor que Yoga é, na verdade, uma das seis escolas de conhecimento dos Vedas. Eles são alguns dos textos mais antigos escritos pela humanidade, datados de cerca de 5.000 anos e originalmente colocados em sânscrito – um idioma muito característico por sua construção sofisticada -, de modo que cada estrutura de uma palavra abre margem para uma interpretação profunda de seu real valor.

Ou seja: Yoga diz respeito a uma apropriação de ensinamentos escritos, códigos de conduta (como dizer a verdade, não acumular demais, buscar o desapego, não roubar o que é do outro) e práticas físicas para a vida, visando essa libertação do sofrimento. Não se trata de uma religião moralista, mas de uma bússola norteadora.

Hoje, entendo que é preciso viver Yoga, não apenas praticar Yoga. É quando a gente realmente se apropria dos ensinamentos e mantém a constância de uma prática diária que a diferença começa a acontecer. Ela inicia pequenininha, mas vai se tornando cada vez mais transformadora à medida em que se amplia.

Por isso, se você tem experimentado muita ansiedade neste período de tantas incertezas, quero finalizar reforçando:

  • Por mais que pareça, você não está sozinho(a). Todos sofremos. Você nunca sofre sozinho(a).
  • Se você não tem nenhum conhecimento sobre Yoga para fazer práticas físicas agora, procure ao menos ler sobre o assunto. Veja perfis na internet, reportagens e materiais que transmitam ensinamentos válidos e lhe inspirem confiança.
  • A nossa mente oscila demais todos os dias. Buscar uma prática de Yoga, mesmo quando a quarentena acabar, com a ajuda de um professor ou professora, pode ser um caminho realmente capaz de transformar sua vida.

Namastê. 🙂




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