Sinto tua perda, de certa forma, como se fosse minha. É estranha, desconfortável, agoniante a distância.
Ouvir lágrimas em áudios pelo WhatsApp. Ser incapaz de estender os braços para ti.
Tantas vezes a vida já nos fez chorar juntas. Algumas lágrimas de tristeza, fosse por conta de um relacionamento ou uma situação difícil no trabalho.
Outras, de alegria inexplicável. Como aquela vez ouvindo a Lana em São Paulo debaixo de uma lua cheia mágica e incrível, parecendo encomendada para tornar aquele momento ainda mais perfeito.
E agora, no meio deste luto tão inimaginável e inesperado pelo qual tu passa, sequer posso oferecer um abraço. É doído demais.
Sabe, às vezes penso que 2020 é o maior baque que nossa geração já sofreu. A gente não tinha dimensão do que é passar por uma espécie de guerra. Ou, como está acontecendo aqui no Brasil, um verdadeiro genocídio.
Enfim, descobrimos. É excruciante.
Amiga, eu queria ser capaz de diminuir tua dor – assim como a dos quase 170 mil brasileiros e brasileiras que já perderam pessoas amadas nesta pandemia.
Penso que mesmo nós, que continuamos vivos, morremos um pouco junto com eles.
Queria ter o poder de diminuir tanto sofrimento. Só que não tenho. Porque, invariavelmente, agora caberá a ti viver essa dor.
O luto vai exigir o espaço dele.
Em algum momento, talvez ignorá-lo até pareça mais simples. Mas não funciona assim. Aliás, tem me preocupado essa recusa coletiva em nosso país de encarar a morte.
Penso que é absolutamente insano que o Brasil ainda tenha tamanho número de pessoas que só pensam em mover a máquina do dinheiro, esquecendo de que a alma precisa do seu momento também.
Perder alguém deixa marcas que não podem ser mascaradas.
Então, chore. Chore rios, oceanos. Chore ainda tudo que precisar chorar. Depois o tempo vai encarregando de cicatrizar o coração. Mas a dor é um estágio. Também é parte da cura.
É por poder te oferecer tão pouco agora que compartilho essas palavras, em uma tentativa – talvez boba – de consolo.
Só precisava dizer que a memória de quem amamos permanece conosco.
Meu coração está contigo.
*Dedico este texto à minha amiga Carolina Marco que, no último fim de semana, perdeu sua avó Adelina Tarouco para o Covid-19. Também, de certa forma, a todas as pessoas que tiveram de lidar de forma tão abrupta, dolorosa e inesperada com a morte este ano.
Eu não tenho palavras para agradecer ou explicar o significado de ter uma homenagem tão linda para uma pessoa que tanto amo eternizada pela minha escritora favorita, cujas palavras são sempre as mais lindas do mundo. Amo-te.
É o mínimo que posso te dar neste momento. Espero que tu possa ler e sentir algum tipo de conforto sempre que o coração doer. <3 Ela se foi, mas não vai ser esquecida! Amo tu. 🙂