“Ninguém iria notar se você simplesmente desaparecesse e nunca mais escrevesse nada.”
“Como você foi capaz de cometer um erro de português tão idiota naquele artigo?”
“Você está passando vergonha se acha que vai chegar a algum lugar com um blog estúpido.”
Essas eram as linhas da batalha interna, o discurso torturante de minha mente contra mim mesma no último fim de semana.
Decidi reler e revisar alguns dos artigos, poemas e textos que postei desde que criei coragem de expor minhas palavras na internet e nas redes sociais.
O resultado foi o recém mencionado monólogo silencioso e autodepreciativo comigo mesma.
Às vezes é assim: minha mente começa a falar coisas horrendas e simplesmente se recusa a parar. Algo em mim – talvez uma consciência mais elevada – buscava contra-argumentar.
“Mas houve tantos textos sem nenhum erro.”
“Tantas pessoas já comentaram que gostaram do livro e foram tão carinhosas em comentários por aqui. Algumas até escreveram para dizer que você as inspira!”
“Você chegou até a dar entrevistas para podcasts este ano falando sobre o seu trabalho.”
Parecia não importar. Meu cérebro já havia decidido me machucar.
Não foi a primeira vez que aconteceu. Também duvido que será a última.
Porém, nos últimos tempos descobri algumas formas de encontrar respiro em meio a esse filme de terror que por vezes se instala internamente aqui.
O patriarcado tem culpa, sim.
Na verdade, diria que a grande transformação tem sido compreender melhor o porquê se desencadeia esse processo de descida ao inferno da impostora dentro de mim.
O patriarcado é a primeira razão. Isso não é “mimimi” ou vitimismo.
Acontece que todas as mensagens subliminares da sociedade gritam à mulher: “você só merece um lugar de destaque se for perfeita – física e intelectualmente. Nada menos que perfeita.” (Naomi Wolf explica bem a construção de tal mecanismo em “O Mito da Beleza”, recomendo a leitura).
Aí já está o primeiro entrave. Afinal, a perfeição é uma exigência muito elevada. Errar é premissa básica de ser humano.
Então, com suas narrativas, a sociedade ocidental forja dentro do inconsciente feminino esta mensagem: “não adianta nem tentar. Esconda-se. De preferência, no vazio invisível do trabalho doméstico.”
Essa lógica foi embutida a fórceps dentro de mim pela mídia, pela disparidade salarial, por todo o contexto que me cerca – e olha que, dentro de casa, tive uma criação muito livre, nunca fui encaixada em um estereótipo pelos meus pais, por exemplo.
Buda também estava certo: domine sua mente, ou ela o dominará
A segunda razão é que a mente tem mesmo essa tendência de não parar de falar quando se apega a determinado assunto. Aí só Yoga entra mesmo para me salvar.
Somente a respiração, o centramento, a meditação são capazes de me fazer perceber que quando algo dentro de mim está tagarelando maldades, muito provavelmente, é a minha mente. Esta, condicionada por conceitos e pressões sociais, que não é a minha verdadeira essência.
A prática diária me fez compreender, como diz minha professora Maria Nazaré Cavalcanti, que a mente é nada mais que uma bailarina tímida.
Quando elevamos a consciência pela prática, ela se aquieta. É aí que mora a liberdade. Só assim a batalha interior finda.
E por que decidi partilhar um artigo sobre isso?
Porque imagino que você – especialmente se for mulher nesta sociedade machista – já deixou de fazer algo que gosta, ou até de acreditar e bancar alguns de seus sonhos, por conta desse tipo de tortura mental programada como um software de computador.
Portanto, queria frisar aqui:
- Você não está sozinha;
- Você não precisa ser perfeita;
- Não deixe de percorrer seu caminho e fazer o que ama por conta desse peso;
- Cerque-se de pessoas que elevam sua autoestima – e não o contrário;
De minha parte, o que posso dizer é que também não vou ceder à mente. Vou continuar aqui.
Rabiscarei minhas palavras e as deixarei soltas ao vento, partilhando um pouco do que acredito com o mundo.
Mesmo sabendo que não serei perfeita. Nem tendo certezas absolutas sobre para onde o caminho me levará.
Sei que vou errar. Talvez seja criticada. Ou mesmo ignorada.
Ainda assim… Não. Vou. Parar. Porque hoje reconheço que meu processo nunca foi sobre a chegada. Ele tem sido sobre estar em movimento.
Não deixe esta sociedade doente, preconceituosa e julgadora destruir seu sonho. Qualquer que seja.
Parafraseando Emicida:
“Você é o(a) maior representante do seu sonho na face da Terra”.
Não esqueça disso quando estiver em uma das suas batalhas internas.