Monólogo interno
“Ninguém iria notar se você simplesmente desaparecesse e nunca mais escrevesse nada.”
“Como você foi capaz de cometer um erro de português tão idiota naquele artigo?”
“Você está passando vergonha se acha que vai chegar a algum lugar com um blog estúpido.”
Essas eram as linhas da batalha interna, o discurso torturante de minha mente contra mim mesma no último fim de semana.
Decidi reler e revisar alguns dos artigos, poemas e textos que postei desde que criei coragem de expor minhas palavras na internet e nas redes sociais.
O resultado foi o recém mencionado monólogo silencioso e autodepreciativo comigo mesma.
Às vezes é assim: minha mente começa a falar coisas horrendas e simplesmente se recusa a parar. Algo em mim – talvez uma consciência mais elevada – buscava contra-argumentar.
“Mas houve tantos textos sem nenhum erro.”
“Tantas pessoas já comentaram que gostaram do livro e foram tão carinhosas em comentários por aqui. Algumas até escreveram para dizer que você as inspira!”
“Você chegou até a dar entrevistas para podcasts este ano falando sobre o seu trabalho.”
Parecia não importar. Meu cérebro já havia decidido me machucar.
Não foi a primeira vez que aconteceu. Também duvido que será a última.
Porém, nos últimos tempos descobri algumas formas de encontrar respiro em meio a esse filme de terror que por vezes se instala internamente aqui.
O patriarcado tem culpa, sim.
Na verdade, diria que a grande transformação tem sido compreender melhor o porquê se desencadeia esse processo de descida ao inferno da impostora dentro de mim.
O patriarcado é a primeira razão. Isso não é “mimimi” ou vitimismo.
Acontece que todas as mensagens subliminares da sociedade gritam à mulher: “você só merece um lugar de destaque se for perfeita – física e intelectualmente. Nada menos que perfeita.” (Naomi Wolf explica bem a construção de tal mecanismo em “O Mito da Beleza”, recomendo a leitura).
Aí já está o primeiro entrave. Afinal, a perfeição é uma exigência muito elevada. Errar é premissa básica de ser humano.
Então, com suas narrativas, a sociedade ocidental forja dentro do inconsciente feminino esta mensagem: “não adianta nem tentar. Esconda-se. De preferência, no vazio invisível do trabalho doméstico.”
Essa lógica foi embutida a fórceps dentro de mim pela mídia, pela disparidade salarial, por todo o contexto que me cerca – e olha que, dentro de casa, tive uma criação muito livre, nunca fui encaixada em um estereótipo pelos meus pais, por exemplo.
Buda também estava certo: domine sua mente, ou ela o dominará
A segunda razão é que a mente tem mesmo essa tendência de não parar de falar quando se apega a determinado assunto. Aí só Yoga entra mesmo para me salvar.
Somente a respiração, o centramento, a meditação são capazes de me fazer perceber que quando algo dentro de mim está tagarelando maldades, muito provavelmente, é a minha mente. Esta, condicionada por conceitos e pressões sociais, que não é a minha verdadeira essência.
A prática diária me fez compreender, como diz minha professora Maria Nazaré Cavalcanti, que a mente é nada mais que uma bailarina tímida.
Quando elevamos a consciência pela prática, ela se aquieta. É aí que mora a liberdade. Só assim a batalha interior finda.
E por que decidi partilhar um artigo sobre isso?
Porque imagino que você – especialmente se for mulher nesta sociedade machista – já deixou de fazer algo que gosta, ou até de acreditar e bancar alguns de seus sonhos, por conta desse tipo de tortura mental programada como um software de computador.
Portanto, queria frisar aqui:
- Você não está sozinha;
- Você não precisa ser perfeita;
- Não deixe de percorrer seu caminho e fazer o que ama por conta desse peso;
- Cerque-se de pessoas que elevam sua autoestima – e não o contrário;
De minha parte, o que posso dizer é que também não vou ceder à mente. Vou continuar aqui.
Rabiscarei minhas palavras e as deixarei soltas ao vento, partilhando um pouco do que acredito com o mundo.
Mesmo sabendo que não serei perfeita. Nem tendo certezas absolutas sobre para onde o caminho me levará.
Sei que vou errar. Talvez seja criticada. Ou mesmo ignorada.
Ainda assim… Não. Vou. Parar. Porque hoje reconheço que meu processo nunca foi sobre a chegada. Ele tem sido sobre estar em movimento.
Não deixe esta sociedade doente, preconceituosa e julgadora destruir seu sonho. Qualquer que seja.
Parafraseando Emicida:
“Você é o(a) maior representante do seu sonho na face da Terra”.
Não esqueça disso quando estiver em uma das suas batalhas internas.
por que as mulheres demoram mais para voar?
resistência não-violenta.
5 livros que me ajudaram a “sair da bolha” em 2020
Tenho 26 anos, o que se traduz em uma experiência de vida ainda bastante limitada. No entanto, ouso dizer que 2020 tem sido um dos anos mais difíceis na história do Brasil. Por quê?
Bem, pois está escancarada bem diante de nossos olhos a abismal desigualdade social de nosso país patriarcal. Tudo isso em meio a um genocídio (sim, assim descrevo o que acontece quando mais de 170 mil pessoas perdem sua vida, devido à necropolítica praticada por um governo).
Ontem mesmo, o LinkedIn divulgou nova pesquisa do Ministério da Economia, apontando que as mulheres concentraram 65,6% dos empregos formais eliminados na pandemia.
Em um lado da balança, os extremamente ricos ficaram ainda mais ricos: segundo levantamento do banco suíço UBS, a fortuna dos bilionários em meio à pandemia passou de 10 trilhões de dólares. Enquanto isso, a miséria extrema também avançou (onde uns têm demais, outros têm de menos, por obviedade).
Mais de 13,2 milhões de brasileiros, segundo dados do Cadastro Único do Ministério da Cidadania, estão em situação de extrema miséria.
Sair da bolha é dolorido e demanda coragem
Para contextualizar melhor a introdução deste texto (antes que alguém me chame de socialista de iPhone ou comunista), primeiro quero frisar: sei bem que sou uma menina branca, de classe média. E que, provavelmente, ainda vivo em uma bolha de inúmeras maneiras.
Só que isso não me impede de tentar enxergar outras realidades além da minha. Penso, inclusive, que é o mínimo dever que tenho diante dos privilégios que possuo enquanto cidadã.
Além disso, acredito que minha função como jornalista é realmente procurar falar por aqueles que não têm voz. Foi por isso que, no texto de hoje, decidi compartilhar cinco livros que me ajudaram a “sair um pouco da bolha” neste ano de 2020, justamente para compreender melhor o contexto que me cerca neste país.
Sair de bolhas é dolorido, eu sei. É um processo – muitas vezes desconfortável – reconhecer privilégios, mas isso nos engrandece enquanto seres humanos. Nos torna mais gratos e empáticos.
Além disso, enquanto nós da classe média – e alta, principalmente! – não observarmos para além das nossas bolhas, viveremos com medo da violência e da barbárie, que são frutos da desigualdade social.
Então, sem mais delongas, vamos aos livros?
Para ampliar horizontes: 5 obras essenciais
1. Quarto de Despejo, por Maria Carolina de Jesus
“Que efeito surpreendente faz a comida em nosso organismo! Eu, que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.”
Nunca passei fome na vida, mas fui capaz de ter dimensão da experiência com a história de Maria Carolina de Jesus. Em seu livro, amplamente comentado neste ano de 2020 e já citado em palestras da Feira do Livro de Porto Alegre e Araxá (que, aliás, estão rolando online pelo Youtube com palestras e convidados incríveis!), é possível mergulhar na vida dos moradores da favela de Canindé, em São Paulo, década de 50.
A obra, tristemente, segue atual. O mundo ainda está repleto de “Marias Carolinas de Jesus”. Basta você passar por uma grande cidade para perceber. Enquanto mulher, esse livro me tocou muito e fez com que pudesse desenvolver um senso de gratidão ainda maior pelas coisas mais simples da vida, como a beleza do entardecer e um prato de comida.
2. Os Miseráveis, por Victor Hugo
“O que é a história de Fantine? É a sociedade comprando uma escrava. De quem? Da miséria. Da fome, do frio, do isolamento, do abandono, da privação. Dolorosa negociação. Uma alma por um pedaço de pão. A miséria oferece, a sociedade aceita. […]. Dizem que a escravidão desapareceu da civilização europeia: é um erro. Existe ainda, mas não pesa senão sobre a mulher, e chama-se prostituição.”
Ainda não finalizei a leitura deste clássico calhamaço, mas já vale a pena dividir algumas palavras por aqui. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que a obra de Victor Hugo é das mais tocantes que já li em toda a minha vida. Principalmente porque versa sobre a miséria humana em todos os espectros possíveis: do âmbito financeiro ao moral.
Este livro tem me feito compreender diversos tipos de miséria que permeiam a existência. A do dinheiro é apenas uma delas – e que exige, de fato, muita atenção e compaixão por parte de todos nós que nunca passamos pela privação extrema.
Por outro lado, a obra também abre o coração do leitor para o que é realmente o aspecto mais importante da vida: amar. Sem amor, somos todos miseráveis (ricos ou pobres).
3. O Mito da Beleza, por Naomi Wolf
‘Depois do sucesso da segunda onda do movimento das mulheres, o mito da beleza foi aperfeiçoado de forma a impedir o avanço do poder em todos os níveis na vida individual da mulher. As neuroses modernas na vida de um corpo feminino se espalham de mulher para mulher em ritmo epidêmico.”
Enquanto mulher, também faço parte de uma minoria oprimida da sociedade. Mas, neste contexto, há ainda outras bolhas mais profundas, que afligem diferentes camadas sociais.
A obra da jornalista Naomi Wolf me fez ter a sensação de sair de uma nova bolha este ano: aquela que permeia a “obsessão pelo corpo perfeito”, que atinge tantas e tantas mulheres neste exato momento.
Neste livro, ela tece um argumento poderosíssimo de que, para brecar o avanço intelectual das mulheres e suas conquistas profissionais, a sociedade patriarcal associou o crescimento patrimonial da mulher à uma “beleza comprável”, por meio de cosméticos, cílios, maquiagens e horas gastas na academia.
Em outras palavras: a sociedade de consumo aprisiona a mulher em seu ideal de corpo, de modo que despendemos nossos salários (já mais baixos), muito frequentemente, em coisas relativamente fúteis – quando poderíamos estar lendo um livro, ou nos cuidando em casa mesmo…
A quem interessa, afinal, que sejamos ignorantes e apenas belos “cabides” maquiados, ao invés de seres pensantes?
4. O Conto da Aia, por Margaret Atwood
“Somos úteros de duas pernas, isso é tudo: receptáculos sagrados, cálices ambulantes.”
Embora seja ficcional, a obra de Atwood me fez sair da bolha no sentido de pensar profundamente sobre as diferentes experiências de dor que podem impactar a mulher em uma sociedade. Sobre como somos colocadas em caixinhas e, frequentemente, julgamos umas às outras pelos papeis que assumimos (mãe, amante, esposa fiel, “lésbica”, dona de casa, etc).
As palavras da autora despertaram em mim compaixão por outras mulheres que, com certa vergonha, hoje confesso que já cheguei a julgar. Me fez aprofundar também a compreensão de que a única forma de modificarmos a estrutura patriarcal, inserida no contexto do fanatismo religioso, é ajudando umas às outras, jamais competindo e apontando dedos.
ps: já escrevi uma outra resenha mais completa sobre “O Conto da Aia”, você pode ler neste link.
5. Admirável Mundo Novo, por Aldous Huxley
“As flores do campo e as paisagens têm um grande defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica.”
A distopia de Huxley foi perfeita para o momento de quarentena, pois acentuou minha percepção do que estava por trás do colapso social e econômico que pautou 2020: a diferença de salários e o nível de valorização que permeiam distintas profissões, além da alienação coletiva que ocorre, justamente, quando não saímos da bolha.
Por que as pessoas não pararam de trabalhar em meio à uma pandemia? Algumas não tiveram opção, precisavam do dinheiro. Outras não aguentaram o peso de sua consciência dentro de casa e, mesmo com bens acumulados para três gerações, acabaram saindo. Houve, ainda, aquelas que mal pararam para refletir sobre tudo o que está acontecendo e seguiram rotinas em um automatismo assustador.
A ignorância continua a mover grande parte da massa populacional do Brasil. E o maior problema dela é justamente o fato de ser mortal, como ficou claro com o Covid-19.
E você? Já leu alguma dessas obras? Se quiser me contar aqui nos comentários, vou adorar saber!
Observação: os livros indicados neste post contêm meus links de afiliada. Ao comprar por meio deles, você não paga nada a mais, mas ajuda a rentabilizar meu trabalho para que eu possa seguir escrevendo esses textos. Obrigada!
Eu queria estancar tua dor
Sinto tua perda, de certa forma, como se fosse minha. É estranha, desconfortável, agoniante a distância.
Ouvir lágrimas em áudios pelo WhatsApp. Ser incapaz de estender os braços para ti.
Tantas vezes a vida já nos fez chorar juntas. Algumas lágrimas de tristeza, fosse por conta de um relacionamento ou uma situação difícil no trabalho.
Outras, de alegria inexplicável. Como aquela vez ouvindo a Lana em São Paulo debaixo de uma lua cheia mágica e incrível, parecendo encomendada para tornar aquele momento ainda mais perfeito.
E agora, no meio deste luto tão inimaginável e inesperado pelo qual tu passa, sequer posso oferecer um abraço. É doído demais.
Sabe, às vezes penso que 2020 é o maior baque que nossa geração já sofreu. A gente não tinha dimensão do que é passar por uma espécie de guerra. Ou, como está acontecendo aqui no Brasil, um verdadeiro genocídio.
Enfim, descobrimos. É excruciante.
Amiga, eu queria ser capaz de diminuir tua dor – assim como a dos quase 170 mil brasileiros e brasileiras que já perderam pessoas amadas nesta pandemia.
Penso que mesmo nós, que continuamos vivos, morremos um pouco junto com eles.
Queria ter o poder de diminuir tanto sofrimento. Só que não tenho. Porque, invariavelmente, agora caberá a ti viver essa dor.
O luto vai exigir o espaço dele.
Em algum momento, talvez ignorá-lo até pareça mais simples. Mas não funciona assim. Aliás, tem me preocupado essa recusa coletiva em nosso país de encarar a morte.
Penso que é absolutamente insano que o Brasil ainda tenha tamanho número de pessoas que só pensam em mover a máquina do dinheiro, esquecendo de que a alma precisa do seu momento também.
Perder alguém deixa marcas que não podem ser mascaradas.
Então, chore. Chore rios, oceanos. Chore ainda tudo que precisar chorar. Depois o tempo vai encarregando de cicatrizar o coração. Mas a dor é um estágio. Também é parte da cura.
É por poder te oferecer tão pouco agora que compartilho essas palavras, em uma tentativa – talvez boba – de consolo.
Só precisava dizer que a memória de quem amamos permanece conosco.
Meu coração está contigo.
*Dedico este texto à minha amiga Carolina Marco que, no último fim de semana, perdeu sua avó Adelina Tarouco para o Covid-19. Também, de certa forma, a todas as pessoas que tiveram de lidar de forma tão abrupta, dolorosa e inesperada com a morte este ano.
O paradoxo
Ouço a chuva lá fora e sinto meus olhos cansados. Acho que já passou das 22h. Não posso ter certeza. Há tempos que já não durmo com o celular próximo.
Durante este dia inteiro algo me arranhou internamente. Essas palavras aqui imploravam pelo encontro com o papel, pois há algo em mim que busca compreensão.
Necessito de algum vestígio de clareza sobre o paradoxo.
O imenso, assustador e magistral paradoxo que é 2020. Pensar nele me dói de tantas maneiras.
Há o sofrer ainda mais acentuado dos que já sofrem. A insanidade do homem se voltando contra ele mesmo.
Aquele negacionismo que lotou as praias no último feriado. A descrença egocêntrica dos que se recusam a usar uma máscara e acabam por revelar sem querer o que há de mais insensível ou ignorante dentro de si mesmos.
Não sei porque essas coisas me doem tanto. Mas foram raros os dias em que não chorei.
E era mais fácil chorar quando havia braços que me acolhessem para secar as lágrimas. 2020 não teve.
Só havia meus meus próprios braços ali e foi neles que me envolvi. Simplesmente não houve saída senão o amor-próprio.
Quando deitei na cama vazia e chorei, fui eu quem disse a mim mesma: “isso também vai passar”. É aí que o paradoxo se acentua.
Surgiu mais um ponto de interrogação na pureza deste reencontro comigo mesma. Me acolher e trazer o amor mais importante de volta – o próprio – tem sido talvez a parte mais doce para mim neste amargo ano.
O ápice de sua contradição.
Eu amo e odeio 2020. A parte de odiar é mais fácil, pois o ódio sempre é, mas também não consigo deixar de ver beleza escondida em tudo.
Não sei porque sou assim. Simplesmente sou incapaz de não ver algo de belo na vida, mesmo quando todos buscam me convencer do contrário.
Não posso crer que este planeta é horrível e o mundo é um lugar feio.
Sou mais da opinião de que nós é que pintamos tudo de cinza com nossa pressa e falta de sensibilidade. Aqui poderia ser muito mais colorido.
Falando em colorir, amanhã quero pintar alguma coisa. Ou quem sabe procurar algo interessante para fotografar.
Porque estou chegando à conclusão de que talvez estas palavras aqui não solucionem o paradoxo.
Talvez ele não tenha de ser solucionado, apenas atravessado.
E no meu ouvido há algo que sempre parece sussurrar incansavelmente até por trás dos pensamentos: o único caminho é a arte.
Sem ela, tudo isso é pura insanidade.
Um mergulho no processo criativo de Fragmentos, meu primeiro e-book de poesias e fotografias
Me lembro bem de como foi o sentimento quando compartilhei meus primeiros artigos lá no LinkedIn e aqui no blog. Escrevia, lia e revisava duzentas vezes os textos (não vou mentir, ainda reviso 200 vezes os textos, mas enfim).
Naquela época, postava e saía correndo (não vou mentir de novo, às vezes ainda faço isso). Não sei se com mais medo de possíveis reações adversas, de ser ignorada ou da minha própria Síndrome da Impostora que dizia: “quem é tu para opinar sobre qualquer coisa?”.
Hoje, faz mais de um ano que compartilho pensamentos, experiências pessoais e profissionais por aqui. Quase 80 artigos escritos. Tem sido uma aventura e tanto.
Inúmeros altos e baixos já aconteceram desde então. Há dias em que ainda penso ser incapaz de escrever palavras relevantes, em outros sinto o calor forte de cada comentário carinhoso em um novo texto publicado e me permito continuar.
O ápice da jornada aconteceu nas últimas semanas: decidi escrever, diagramar e lançar meu primeiro e-book de poesias e fotografias completamente autoral – Fragmentos (talvez você tenha percebido minha emoção quando anunciei o projeto aqui e lá no Instagram).
Nesta semana, então, pensei: por que não compartilhar um pouco dos bastidores do processo criativo também? Já que o livro é bastante vulnerável, será que não posso ir ainda mais fundo e contar como toda ideia surgiu?
Bom, aí vai:
Antes da coragem, a incerteza
Sem dúvidas, acho que na minha jornada o maior desafio para criar um livro tenha sido este: crer que realmente eu era capaz. Vou tentar explicar com uma referência. Você já assistiu à série This Is Us?
Pois bem, se eu estivesse nela, seria o Randall. O personagem que se esforça na medida do impossível para que tudo seja perfeito. Então, você pode ter dimensão do grau de exigência que colocava em mim mesma antes do projeto sequer ser concebido.
Sabia desde o início deste ano que gostaria de escrever um livro – tava lá na minha listinha de metas do Trello (olha o Randall aí de novo). Mas não sabia muito bem ainda como, sobre o que, de que formas criá-lo.
Além disso, não é segredo que sou apaixonada por arte. Tudo que envolva livros, música, fotografia e poesia me interessa. Talvez por isso tenha sido tão desafiador me reconhecer também como artista, acreditar que poderia criar algo de valor assim como as pessoas talentosas que admiro.
Some isso ao fato de que posso até ter certa habilidade reconhecida com as palavras, mas nunca me julguei muito talentosa com processos gráficos. Não manjo de design e ilustração. Então, fiquei por meses um pouco travada nessa situação.
Por onde começar o caminho que eu desejava trilhar?
Quando a criatividade floresce
Há algo interessante que às vezes acontece na vida: quando a gente para de se cobrar tanto, as ideias brotam mais facilmente. Na verdade, “Fragmentos” nasceu justamente assim: como um impulso criativo em meio a caminhadas na Natureza e pensamentos aleatórios.
O que ocorreu, na verdade, é que me dei conta de que o livro já estava pronto. Apenas não havia se materializado.
Como adoro fotografar, meu celular estava cheio de imagens que gostaria de compartilhar, mas nunca tinham ganhado espaço. Meus diários estavam cheios de poeminhas e pensamentos que desejava compartilhar.
Tinha pela minha mesa inúmeros desenhos de folhas e rabiscos feitos em giz de cera que, até então, eram só fragmentos de um passatempo (aí também veio a fagulha que inspirou o nome).
Fui me dando conta de que todo meu processo e potencial criativo já estava ali. Só não havia conseguido compilar tudo isso ainda de uma forma que me agradasse.
E o que me faltava? Apenas começar. Digitalizei o material e construí o e-book que, confesso, não creio até agora – depois de lançado – que esteja perfeito.
Mas está vivo.
E isto foi lindo: perceber que sempre houve em mim a capacidade de fazê-lo acontecer.
O que encontrei do outro lado do medo
Quando deixei florescer meu processo criativo, o e-book basicamente ficou pronto em duas semanas. Só que ainda havia um outro desafio: pensar em como mostrar para as pessoas que meu trabalho realmente valia a pena.
Já trabalho com Marketing Digital há anos, conheço as ferramentas, sei de inúmeras “estratégias infalíveis de vendas”. Acontece que existe um entrave bem pessoal meu no que se refere a tudo isso…
Não sei se por ser mulher (a sociedade nunca favoreceu minha autoestima, né), por ser perfeccionista, ou se por ter ranço de “papo de vendedor” desde sempre, mas a verdade é que odeio a ideia de “me vender”. Tipo muito, muito mesmo.
Gosto de ser quem eu sou e, a partir daí, penso que quem se identificar com minha forma de ver o mundo talvez queira comprar o que escrevo. Então, quando parei para estruturar uma “campanha de lançamento”, também optei por deixar o processo fluir.
Não pensei exclusivamente na melhor forma de ser persuasiva. Escrevi a partir do meu coração. Falei sobre como o livro é um sonho se tornando real e compartilhei isso com as pessoas que me acompanham em minha Newsletter e nas redes sociais.
Assim, todo o processo do lançamento, em si, foi muito mais leve e gostoso.
De qualquer forma, um certo frio na barriga foi inevitável. Primeiro, porque o livro é super vulnerável. É difícil se abrir assim em uma sociedade que nos cobra ser fortes o tempo todo. Não ter medo de mostrar o que sentimos e sermos julgados por isso é uma batalha interna extensa.
Mas valeu a pena. Recebi feedbacks maravilhosos e ganhei novamente uma dose grande de coragem para continuar partilhando minhas ideias, devaneios e visões de mundo por aqui e nos meus outros canais.
Então, foi realmente muito recompensador. E por que compartilho tudo isso?
Porque acredito que todos nós temos sonhos e desejos que, muitas vezes, colocamos em uma caixinha e deixamos de realizar, seja pelo nosso medo ou dos que estão ao nosso redor.
Quantas vezes você já deixou de voar por conta daqueles que te prendiam ao chão? De verdade, não quero fazer a coach aqui, mas permita-se. Não engavete seus projetos mais ousados pelo medo e a autocobrança exagerada.
Sei que não é fácil. Eu mesma já estou aqui pensando se um dia terei coragem de fazer tudo de novo e escrever outro livro.
Mas, sério: encontre um espaço para fazer aquilo que você gosta. Mesmo que dê medo ou que o retorno financeiro não seja o mais interessante do mundo.
Te prometo que a vida vai ganhar mais brilho.
Ah!! E, não vou deixar de lembrar, claro, que meu livro agora já está oficialmente lançado. A capa está aí – você pode clicar nela para comprá-lo, ou também direto neste link aqui.
Ao adquiri-lo, como expliquei, você ajuda a rentabilizar também o meu sonho de continuar escrevendo e criando arte.
Obrigada. 🙂
Dicas para escrever: 5 formas de inserir as palavras na sua rotina
Dicas para escrever pipocam diariamente pelas redes sociais e o que não faltam por aí são fórmulas prontas sobre como produzir conteúdos incríveis. Acontece que, a meu ver, permitir que a escrita aconteça nada tem a ver com processos engessados.
Conforme mencionei em outro artigo recente, compreender que existem técnicas e demandas de mercado para variados contextos de escrita pode até ser legal para começar a escrever. Mas só isso não basta.
Escrever, para mim, é como respirar. É como se as palavras aqui dentro aguardassem pelo encontro da caneta com o papel – ou a tela do computador. Por meio delas, tudo o que ainda não foi bem elaborado internamente começa a ficar mais claro.
Vale a pena seguir dicas para escrever prontas?
Minha escrita é um ato revolucionário de reencontro comigo mesma. Justamente por isso me permito publicar aqui um artigo com dicas para escrever: acredito que, quando aceitamos dar vazão ao que sentimos e transformamos nossas percepções em palavras, processos muito profundos acontecem.
Ainda assim, para não ser incoerente, preciso dizer que talvez as dicas a seguir não são as que vão funcionar melhor para você. Elas têm muito a ver também com a rotina que estabeleci para minha vida, com práticas que fazem parte do meu dia a dia.
Mas isso sou só eu. Você não precisa ser igual. Ainda assim, se quiser alguma dose de inspiração para começar, acredito que as ideias abaixo realmente podem ajudar. 🙂
5 ideias práticas para começar a escrever
1) Tire 15-30 minutos por dia para meditar ou fazer uma prática formal de Yoga
A escrita mais bela sempre vai nascer de um encontro com você mesmo. Só que você precisa permitir que esse encontro aconteça.
Sei que a vida é, muitas vezes, corrida. Lembre-se, porém, de que tudo é uma questão de saber eleger prioridades. Em minha opinião, nada pode ser mais importante do que se permitir, uma vez por dia, ficar consigo mesmo.
Portanto, reserve esse tempinho para você. Permita-se. Está tudo bem largar o celular, desligar o rádio e a televisão por alguns momentos. O mundo não vai acabar nesse meio tempo. Acredite.
Há muitas e muitas formas de você meditar. Eu comecei com um aplicativo mesmo – chamado Insight Timer – que tinha um cronômetro e me permitia colocar barulhinhos de chuva, vento, ou músicas relaxantes. Depois que comecei a ficar mais confortável com o silêncio, nem senti mais necessidade do app.
Em relação ao Yoga, sei também que existem aplicativos (embora nunca tenha experimentado), e diversos vídeos no Youtube. Mas recomendo que, para começar, você procure um professor ou uma professora de confiança. Busque essa orientação. Com certeza vai ajudá-lo(a) a ter disciplina e tranquilidade para praticar.
Mas o grande barato é justamente isto: depois que você conhecer algumas das principais posturas e técnicas de respiração, também desenvolverá autonomia para realizá-las sozinho, no quarto, ou em qualquer lugar.
A chave é começar. Permita-se criar um vínculo com a prática. Olhar para o seu corpo e senti-lo, prestar atenção aos seus pensamentos, mas sem julgamentos. Deixe o encontro acontecer. Ele pode ser assustador a princípio, porém é mágico na mesma proporção.
2. Faça uma caminhada contemplativa
Você já parou para pensar que é possível também meditar ativamente? Caminhar sem rumo, para mim, é uma forma de fazer isso – aliás, já ouvi falar também de vários escritores e espiritualistas que defendem essa prática. A ideia de vagar sem o propósito de chegar a algum lugar determinado é, por si só, um exercício de contemplação.
Vou dar um exemplo: escrevo estas palavras em meio à pandemia do Coronavírus. Nas poucas vezes que tenho saído de casa, reparo em tudo. No andar das pessoas, naquelas que usam e não usam máscaras. Nas cores das máscaras. Em como a vida diária, o andar, as feições das pessoas se transformaram.
Só isso já me rendeu inspiração para diversos textos. Como escritora, se não sou capaz de olhar para a realidade e fazer alguma leitura, refletir, internalizar de alguma forma o que estou observando, não terei acesso a material criativo.
Não adianta só beber em outras fontes, ver conteúdos de outras pessoas. Preciso captar aquilo que eu vejo.
3. Anote um pensamento ou sentimento no moleskine (ou bloco de notas). Elabore-o
Sentir e pensar. Algo que todos nós fazemos diariamente, não é? O problema é que ficamos no raso. É gostoso lá. A gente não precisa elaborar nada.
A questão é que, para escrever textos que realmente valham a pena, é necessário aprofundar. Texto bom é texto que reflete na alma. Então, comece por aí. Capte um pensamento.
Permita-se sentir a sua alma. Como ela reage a tudo o que você escuta, assiste, ouve?
Pode ser um sentimento de indignação frente à política. Ou algo positivo, como um pequeno gesto de amor que você observou entre um casal na rua. O que isso desperta em você? Você lembra de um antigo amor? Ou de um possível novo amor? Alguém que você ama e está longe?
Procure mergulhar nessa autoanálise. Quando faço esse processo, gosto bastante de fugir do celular. Coloque esse pequenino em modo avião, pelo menos por uma horinha. Pegue um caderninho e uma caneta. E deixe fluir. Conecte-se a esse fio de sentimento que brotou a partir da observação.
Não existe certo e errado. Porque, no momento em que começar a escrever, você já vai estar criando. Isso é arte. Ela não precisa de roteiro. Deixe brotar, florescer.
Esqueça a cobrança embutida pela sociedade sobre seu pensamento ser “certo” ou “errado”. Ou sobre gêneros de escrita. Invente. Passeie pela crônica, pela poesia, pelo texto informativo.
Brinque com seu texto. Ele é seu. Portanto, você é livre para fazer o que quiser com essa criação.
4. Converse com um estranho e preste atenção
Quando éramos crianças, nossos pais nos advertiram – com sabedoria – a não falar com estranhos. Afinal, isso poderia ser perigoso. No entanto, a vida adulta nos permite ser um pouco mais ousados. Creio muito que, para escrever algo incrível, é necessário sair da bolha.
E como saímos dela? Falando com pessoas que, muitas vezes, não estão inseridas nela.
Fale com a caixa do supermercado. Pergunte algo a ela. Troque ideias com pessoas que são de classes sociais diferentes, que têm origens étnicas distintas da sua. Agora, durante a pandemia, você pode fazer isso pelas redes sociais mesmo.
Garanto: você vai se surpreender ao ouvir as histórias das pessoas.
A vida humana, por si só, já é a maior fonte de inspiração possível à escrita. Mas precisamos saber ouvir uns aos outros. Confiar mais.
Sair da nossa prisão mental e escrever melhor também depende da habilidade de se permitir abrir-se ao outro. Ser vulnerável. Parar de erguer muros.
Ouça mais. Fale menos.
5. Descreva algo que lhe machucou no seu dia
Vamos ser sinceros aqui? Cá entre nós: nossas vidas não são tão maravilhosamente perfeitas conforme mostramos lá no Instagram. Nada é 100% lindo o tempo todo.
Mas sabe o que eu acho bonito? Quando a dor se transforma em arte. Escrita que brota da tristeza é algo lindo, pois nos aproxima, nos faz sentir compreendidos quando tudo está uma droga.
Então, se você quer escrever, comece se abrindo à possibilidade de admitir que você sente dor. Que às vezes as coisas não saem conforme o planejado. Que às vezes você se percebe triste, com inveja, ciúme, ou raiva. Todos esses sentimentos estão dentro de nós e, volta e meia, eles batem na porta.
A questão é: como você lida com isso? A escrita também é uma excelente companheira nesse sentido. Ela nos permite canalizar toda essa dor e transformá-la em algo para o mundo. Alguns textos meus, extremamente vulneráveis, foram também os mais difíceis de escrever.
Mas foram justamente eles que renderam comentários do tipo: “me identifiquei muito com a sua história”, “passei por algo muito parecido, obrigada por ter compartilhado isso”.
Porque, por trás das máscaras, a verdade é que todo mundo sofre de vez em quando. Liberar isso por meio das palavras ajuda em nosso processo de cura, ao mesmo tempo em que auxilia outras pessoas na trajetória delas também.
Então, diante de um dia ruim, ao invés de deitar na cama e sofrer com ansiedade, a dica é: transforme o que é ruim também em inspiração para escrever. Descreva como alguém lhe machucou, lhe ignorou ou foi injusto com você. Bote para fora. Quem sabe a dor não vira crônica ou poesia?
Um comovente exemplo que posso trazer aqui nesse sentido é o da Carolina Maria de Jesus. Ela é autora de um dos livros mais tocantes que li nos últimos tempos, chamado “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”.
Como o próprio nome da obra entrega, ela foi escrita por uma ex-moradora da favela de Canindé – uma das primeiras de São Paulo, na década de 50.
O livro é, na verdade, uma série de extratos dos diários de Carolina Maria, descritos com uma lucidez impressionante e, ao mesmo tempo, marcados pela dor de uma mulher relegada pela sociedade capitalista.
É excruciante ler os depoimentos dela narrando, por exemplo, a tortura da fome e os pensamentos suicidas provenientes de acordar diariamente sem saber se haverá comida na mesa para ela e para os filhos.
A linguagem que ela utiliza é simples – mas nada simplista -, há erros de português, mas ao mesmo tempo tudo isso só confere um realismo ainda mais impressionante à narrativa.
É belo e torturante de ler. Eis um exemplo de alguém que transformou dor em escrita. No caso dela, possivelmente as palavras lhe tenham salvado a vida inúmeras vezes.
Recomendo muito a leitura, mas aqui lhe apresento ela como ilustração de que a dor também pode se transmutar em uma escrita pura e que transcende qualquer pretensão de ser algo específico.
Explore sua dor. Não a ignore. Ela pode lhe ajudar a escrever melhor.
E a lidar com a vida – em toda a sua profundidade – também.
Curtiu as dicas? Já colocou ou vai colocar alguma delas em prática? Me deixa saber aqui nos comentários. 🙂 vou adorar ouvir sobre o seu processo.
Como produzir conteúdo interessante? Esqueça um pouco a técnica
“A escrita que abraça, acolhe, encontra uma quantidade maior de pessoas não é aquela cheia de palavras inatingíveis, mas a que todos têm capacidade de compreender” – Ana Holanda
Escrevo profissionalmente desde que comecei minha carreira no Jornalismo, em 2013 – de lá para cá, pude acumular uma boa dose de insights sobre como produzir conteúdo relevante.
Se você está começando a trilhar um caminho no Marketing Digital como redatora ou redator e deseja trabalhar com produção de conteúdo, portanto, este artigo é justamente para lhe ajudar.
Durante a faculdade e minha trajetória profissional, descobri que nossa forma de escrever pode ser afetada por inúmeras referências, técnicas de escrita e demandas de mercado. A forma como nos expressamos com palavras varia de acordo com nosso trabalho e o momento em que vivemos.
Sei que parece óbvio, mas você topa aprofundar para entender melhor como tudo isso impacta no momento da escrita e, portanto, no resultado do conteúdo?
Entender o contexto é essencial para identificar como produzir conteúdo de valor
Vou iniciar com exemplos. Você já deve ter notado que a reportagem jornalística possui uma liberdade poética mais ampla do que um texto informativo de jornal, que preza por conceitos de objetividade e esclarecimento de fatos.
Já uma monografia ou Trabalho de Conclusão de Curso exige cuidados pontuais mais específicos em relação a citações e referências.
Na internet, um texto bem focado em SEO (otimização para buscadores) demanda a observação de inúmeros detalhes minuciosos – como a repetição bem colocada de determinadas palavras-chaves e a formatação de intertítulos. Um post escrito para uma rede social, por sua vez, pode incluir emojis e outras “ferramentas de linguagem”.
Se você atua no mercado digital, muito provavelmente também já ouviu o termo “Copywriting”. Trata-se de um estilo de escrita mais persuasivo, que leva em consideração a necessidade de conduzir o leitor a tomar uma ação. Apresenta uma estrutura mais envolvente, sedutora, com o intuito de promover produtos/serviços e converter vendas.
Outra técnica amplamente utilizada em filmes, séries e na internet é a do Storytelling, a já bem conhecida “jornada do herói”. Ela consiste, para explicar de forma bem resumida, em relatar fatos por meio de narrativas, acompanhando a trajetória de um personagem que passa por provações e, no fim da história, encontra uma solução e as supera.
O que quero dizer com tudo isso? Que, se falarmos em “fórmulas” de escrita, a lista é praticamente interminável. E, ao longo da vida e de nossa jornada como escritores(as), nos deparamos com muitas delas!
Particularmente, acho ótimo ter um repertório, conhecer técnicas diferentes e dominá-las.
Eu mesma estudei todas as que acabei de referir. Jamais diria que foi desnecessário ou perda de tempo. Pelo contrário, anseio cada vez mais por mergulhar nos mais distintos caminhos de escrita e estilos literários.
Adoro ver referências, analisar templates e metáforas, ampliar minha compreensão acerca do uso da palavra.
A grande questão é que, como toda a “regra”, fórmulas mágicas de escrita também podem nos tornar mais tensos e travados. É o que acontece com muita gente na hora de fazer o trabalho de conclusão da faculdade. São tantos detalhes para se pensar…parece que tudo simplesmente não flui.
Percebo muita gente perdida quando começa a ouvir termos como Copy e SEO. De fato, são universos tão profundos que você poderia passar anos estudando. Mas, vamos lá: de que adianta fazer mil cursos online diferentes e nunca colocar nada em prática? A pessoa se afunda em teoria e peca na prática.
Quando, na verdade, praticar é sempre melhor do que ficar só na teoria. Você melhora sua escrita a partir dos feedbacks que recebe. Só que, para obtê-los, precisa começar a mostrar seu trabalho.
Eliminando entraves na produção de conteúdo para a web
No livro Hit Makers, o escritor norte-americano Derek Thompson relembra que as mentes mais brilhantes por trás de hits – sejam eles textos, músicas, filmes ou quaisquer tipos de produtos – são aquelas capazes de transcender a ideia da fórmula. Sua habilidade com as palavras, digamos, é tão intrínseca que a mecânica se torna invisível.
O texto, no caso, simplesmente flui. Quase que sem perceber, você já está fisgado pela história.
Porque quem realmente se destaca com as palavras não leva apenas a escrita como processo, mas sim como um ato de total devoção e entrega. O amor pela criação da obra também é ingrediente da narrativa.
Assim, o artigo toca algum lugar mais profundo e se torna como um amigo, um carinho. É algo semelhante a quando você assiste um seriado e lembra de alguém. Ou escuta uma música e se transporta imediatamente para uma situação ou lugar.
Está além da superfície. A identificação chega até a alma.
Vou propor outro exemplo para contextualizar melhor. Você já deve ter assistido seu filme favorito mais de uma vez, não é? Há pessoas que relatam com alegria, por exemplo, já terem visto a série Friends milhares de vezes (eu também!). Por quê? Porque gostamos dessa familiaridade.
Nossas séries e músicas prediletas se tornam parte de nós. Se transformam em uma linguagem de lembranças.
O mesmo pode acontecer com um texto, perfil de Instagram, blog, ou qualquer projeto de conteúdo online. Pense aí: qual é o DNA do seu conteúdo que gera esse impacto nas pessoas?
O que vai fazê-las quererem ler, reler seus textos, ou acompanhar seus vídeos semanalmente? Como você toca as pessoas de modo que elas anseiem pelo que você publica?
Aí está o ponto-chave sobre o porquê as fórmulas não funcionam. Porque, como gosto de dizer, tudo na vida está em constante fluxo de movimento.
Se há uma “fórmula para um texto de sucesso” e todos optam por segui-la, logo aquele formato provavelmente não será mais tão atraente assim. Por quê? Porque terá virado simplesmente um lugar comum.
Nenhuma série que copiasse Friends seria tão perfeita quanto Friends. Friends é Friends. O que torna o seu texto seu? Como seu projeto de conteúdo revela uma singularidade? Você não vai obter essa resposta de modo exclusivamente analítico.
Apenas voltando a sentir. A saber, afinal, o que torna você única ou único.
Se você quer saber como criar conteúdo interessante, foque nas pessoas
Para concluir o raciocínio, penso que é muito mais válido pensar na escrita e na criação de conteúdo como um processo de libertação, não como algo a ser feito para se atingir um determinado objetivo final. O que vale, como na vida, é a caminhada.
Ao pensar dessa forma, você automaticamente se liberta do “peso” de quaisquer julgamentos e medos de escrever. Pelo menos comigo tem sido assim.
Enquanto escritora, há textos meus dos quais morro de orgulho. Outros, releio e não gosto tanto. Penso que poderia aprimorar. Mas isso tudo é parte do processo. Assim como estou em constante transformação, minha escrita também está.
Isso vai acontecer com você também. Só que é preciso se permitir viver essas transições.
Não entenda mal, mais uma vez: eu mesma recomendo – e fiz – cursos de SEO, Storytelling, Branding e Escrita Criativa. A grande questão é que, ao analisar todas essas técnicas, fui percebendo de forma cada vez mais cristalina como o centro de tudo são as pessoas.
A pessoa que escreve e a pessoa que lê.
As pessoas são tudo. Um bom texto é aquele capaz de impactar outro ser humano.
Então, se você quer realmente produzir conteúdo relevante, observe ao seu redor. Olhe para as pessoas. Não há nada mais inspirador do que a própria vida para escrever.
E comece.