“Jeffrey Epstein: Poder e Perversão”, série documental da Netflix, quase me fez vomitar. Precisamos falar sobre cultura de estupro

Jeffrey Epstein e Donald Trump

O aviso antes da exibição de cada episódio era um prenúncio do que estava por vir:

“Esta série contém descrições explícitas de abuso sexual de menores, que podem incomodar alguns telespectadores”.

A nova série criminal da Netflix incomoda. “Incomodar”, na verdade, é um verbo que não faz jus às sensações que ela evoca. Eu descreveria a experiência de acompanhá-la mais como um soco no estômago. Entrou para a lista de coisas mais nojentas que já vi na vida.

De forma resumida, o documentário dividido em quatro episódios demonstra como o bilionário Jeffrey Epstein utilizou de seu dinheiro, de sua influência e de sua inteligência perversa para criar uma rede internacional de tráfico de meninas menores de idade. Só pelo trailer você já pode ter uma ideia:

O foco eram, claro, meninas frágeis. Que vinham de famílias com problemas, muitas não tinham condições financeiras, tampouco perspectiva de melhorarem de vida. Epstein se alimentava, triunfava diante de sua impotência – o que devia aumentar sua sensação de poder mentalmente doentia.

Era um predador que seduzia pelo dinheiro, lhes chamava para fazer “massagens”, que rapidamente se transformavam em outra coisa. Depois, como um astuto abusador costuma fazer, lhes prometia pagar seus estudos no exterior, ajudá-las a crescer na vida. Bancava o pai bonzinho e convencia as próprias vítimas a chamarem outras amigas para as tais massagens.

Assim, facilmente, montou um esquema de pirâmide sexual com menores.

Cultura de estupro e a proteção do mais forte: o homem hétero, rico e branco

A série é reveladora em inúmeros sentidos, aliás. Primeiro, ao expor mais uma vez diversos nomes associados a Epstein. Príncipe Andrew. Bill Clinton. Kevin Spacey. Woody Allen. Harvey Weinstein. Este último que, graças às vozes corajosas de mulheres que encabeçaram o movimento #MeToo, foi parar atrás das grades.

Isso sem falar no próprio Trump. Sim: cada vez mais, ao que tudo indica, o presidente norte-americano não é perigoso só por não ter escrúpulos. Trata-se de um pervertido sexual em potencial.

Segundo, por elucidar de forma clara toda a estrutura de poder por trás do sistema que nos oprime como mulheres. Quando se trata de um homem rico, com influência, de cor branca e bons contatos, até mesmo a justiça se calou (foi comprada para se calar, dito de outro modo) diante das mais sólidas evidências. O que só aumentou o número de vítimas.

Eles fazem o suborno de um juiz aqui, melhoram sua imagem na mídia com uma filantropia ali e a coisa toda vai se arrastando. O esquema de Epstein revela o que há de mais podre no sistema capitalista: a possibilidade do dinheiro e da influência serem utilizados para silenciar e intimidar as sobreviventes. Não permitir que sejam ouvidas.

Ainda pior: culpabilizá-las. Algumas das que ousaram falar, conforme a série demonstra, foram automaticamente denominadas pela mídia como “prostitutas” ou “ex-prostitutas”. Eram menores de idade quando os abusos aconteceram. Eram vítimas. Ví-ti-mas.

Esta é justamente a essência da cultura do estupro: não só permitir que abusos aconteçam, como também culpabilizar a oprimida e, assim, viabilizar a continuação da violência. É perverso.

Sinto que nós ainda precisamos reforçar muitas vezes que um abuso mental ou físico contra a mulher nunca é culpa dela. Se você já ouviu comentários desnecessários sobre seu corpo, ou foi violentada por conta do uso de termos pejorativos que minaram sua autoestima, ou mesmo se já foi efetivamente estuprada, lembre-se de que isso não foi causado por você.

Não é sobre a roupa que você estava usando, nem sobre algo que você possa ter dito. A doença está na mente do predador.

Está na hora do nosso #MeToo

Enquanto mulher, me contorci na cadeira, suei frio e senti minhas entranhas apertarem a cada novo relato que a série trazia de uma mulher violentada. É uma experiência extremamente intensa ver tantas sobreviventes se pronunciando, chorando, relatando episódios semelhantes de abusos físicos e psicológicos. Uma após a outra.

Não vou entregar o spoiler de como ela termina, mas há um mínimo senso de justiça, pelo menos – embora incompleto. O fato é que a força e a cobertura do movimento que começou nas redes, o #MeToo, por meio do qual milhares de mulheres relataram ter sido violentadas e abusadas, garantiu a oportunidade das vítimas de Epstein se pronunciarem diante de um juiz que as ouviu. E colocou, finalmente, o pervertido atrás das grades.

Ainda assim, a verdadeira justiça não foi feita. Ao acompanhar o último episódio da série, você vai entender o porquê.

Mas e quanto às pequenas violências e estupros diários as mulheres ainda sofrem? E como fazer uma leitura disso aqui no Brasil?

Aproveito para recordar alguns dados estatísticos:

  • Segundo dados da Agência Brasil, só em São Paulo o número de casos de violência contra a mulher aumentou 44.9% durante a pandemia. Imagine com o número de casos não reportados.
  • Dados do Ministério da Saúde apontam que a cada quatro minutos uma mulher é agredida por um homem no Brasil. Um dos maiores índices de violência do mundo.

A opressão não está apenas na violência física e psicológica. Está em todos os setores da sociedade machista em que estamos inseridas. 

Ver as vítimas se pronunciarem no documentário da Netflix foi uma experiência tão difícil, quanto empoderadora para mim. Ficou ainda mais claro: nossa força enquanto minoria é coletiva.

Mulheres, nós, aqui no Brasil, também precisamos começar a falar.

Está na hora do “nosso” Me Too.

Ps: não costumo fazer uma chamada no fim dos meus artigos pedindo para que o leitor compartilhe meu texto. Mas, se você sentir que ler o que escrevi pode ser transformador para uma mulher, por favor, compartilhe. Obrigada.




Memórias póstumas de um ano nômade

imagem de uma janela de avião

Eu adorava sentar na janela. Colocar os fones de ouvido, minha música favorita do momento e ficar ali quietinha. Só esperando o ônibus ou avião começar a andar, até que as paisagens se transformassem em traços coloridos ou nuvens. Se diluíssem, como a antiga versão de mim que ficava para trás a cada nova viagem.

Pensava comigo mesma que a vida, enfim, se transformara em uma versão do monólogo que a Lana Del Rey – assumidamente uma das minhas letristas contemporâneas favoritas – profere no clipe que antecede a canção Ride.

“Quando as pessoas que eu conhecia descobriram o jeito que eu estava vivendo, elas me perguntaram ‘por quê’? Mas não há sentido em falar com pessoas que têm um lar. Elas não têm ideia do que é buscar a segurança em outras pessoas e o seu lar ser onde você encosta a sua cabeça. (…) Eu não pertencia a ninguém e pertencia a todos. Não tinha nada e queria tudo, com um desejo por cada experiência e uma obsessão por liberdade que me levaram à uma loucura nômade que me deixava deslumbrada e aterrorizada. (…) E, se eu dissesse que não havia planejado para ser assim, estaria mentindo”.

Não sei se eu mesma seria capaz de descrever tão bem o que se passava dentro de mim. No ano de 2019, eu simplesmente precisava vagar. Havia me planejado para isso. Ainda assim, assumir esse lugar não foi simples. Se você é homem, sinceramente, provavelmente nem vai entender o que vou dizer agora.

É que, para uma mulher, entrar em um avião sozinha, rumo muitas vezes ao desconhecido – principalmente no Brasil – é um misto de sentimentos. Por um lado, sensação de independência e orgulho pela realização do sonho construído. Por outro, o medo gritante da exposição e da violência. Um país machista é perigoso, afinal.

Acontece que existe essa partezinha de mim que gosta de flertar com o perigo. Onde moro hoje, na verdade, ninguém gosta dele. Há um certo vício por estabilidade, uma necessidade de fugir do medo. O que, paradoxalmente, parece só gerar ainda mais medo.

Os muros estão cada vez mais altos. Há câmeras por todos os lados. E olha que estou falando de uma cidade pacata.

Talvez por isso eu não me encaixe tão bem. São vidas estruturadas demais, quadradas demais, presas demais. Acabam ficando tão entediados diante da própria existência que começam a comentar a dos vizinhos.

Sei lá. Acho um desperdício tão grande de vida. Cada vez mais tenho dificuldade em compreender esses comportamentos ortodoxos demais. Só que foi justamente a estrada que me fez ter mais clareza sobre tudo isso. Antes, eu era parte da bolha. Hoje, vivo nela, porém desprendida. Ainda que signifique, muitas vezes, estar só.

Meu ano nômade causou esse senso de não pertencimento em mim, mas não me arrependo. Ele dividiu meu coração em pedacinhos e lhes deixou espalhados por diferentes partes do mundo. O nomadismo me fez relembrar o que é a essência do amor.

Me fez recordar que é possível amar pessoas mesmo sabendo pouco sobre elas e que o mundo é cheio de seres humanos incríveis com ideais similares aos meus. Nós já não queremos mais tanto dinheiro ou posses. 

Queremos nos embebedar da vida. Já não temos tanto medo de ganhar ou perder. Nossa ambição maior é transformar nossa existência em arte. Deixar algum tipo de legado.

Nesta terça-feira gelada, reflito sobre tudo isso. O Coronavírus acabou com o nomadismo, pelo menos por enquanto. Por estar bastante ligada à comunidade de nômades por aí, sei que nossas almas ansiosas por desbravar o mundo estão sofrendo bastante com isso.

Ainda assim, restam as memórias de tudo o que vivi. Gosto de olhar para trás com esse sentimento de que tudo valeu a pena. Hoje, percebo com mais clareza que o nomadismo me trouxe também outro aprendizado importante no decorrer do caminho: às vezes, ficar requer mais coragem do que partir

O mundo é gigante e usá-lo como refúgio de si mesmo nem sempre funciona. Estar em quarentena no Brasil, na Europa, na Ásia ou qualquer outro lugar não nos permite fugir. Agora, chegou o momento de começar outro tipo de viagem. 

Não há saída: a maior aventura será para dentro da gente.

Por aqui, essa viagem tem sido intensa.

*A tradução foi minha mesmo e adaptada ao contexto do texto.





Você calcula o custo emocional das suas decisões no trabalho remoto?

plaquinha de fundo rosa com o texto "don´t panic"

Decidir. Eis uma imposição que a vida sempre nos apresenta. Cada um de nós, todos os dias, se percebe diante da necessidade de tomar decisões – algumas de maior importância, outras nem tanto. No contexto do trabalho remoto, porém, a percepção acerca da relevância de fazermos escolhas inteligentes se acentua ainda mais.

De certa forma, foi isso que percebi no decorrer da minha jornada de quase um ano e meio trabalhando exclusivamente como produtora de conteúdo freelancer. Ocorre que, quando nossa casa também se torna nosso escritório, é inevitável que a vida profissional se misture um pouco mais com a vida pessoal

Em outras palavras, torna-se mais fácil identificar que suas decisões profissionais terão um impacto muito forte na qualidade do seu dia como um todo, bem como na sua própria sanidade mental. Especialmente agora, em um período de tantas incertezas.

Topa aprofundar um pouco mais a reflexão?

Não meça o valor do seu trabalho apenas pelo dinheiro, mas pelo impacto em sua saúde

Se você trabalha como freelancer, provavelmente se depara diariamente com questionamentos do tipo “será que estou precificando bem o meu trabalho?”, ou “será que eu deveria trabalhar mais, ou menos?”. Sei bem como é. Desde que optei por esse modelo de trabalho, essas são questões constantes em minha vida.

Mas vejo que até mesmo quem ainda está no modelo CLT, neste momento de home office, pode encontrar certos dilemas na rotina diária. “Será que devo fazer uma pausa no trabalho agora?”, “reservo um tempinho para me exercitar, ou dou conta de toda essa demanda de uma vez?

Em ambos os contextos, são questões que nos levam a tomar decisões. Estas, nem sempre fáceis. Por isso, penso ser este momento de pandemia o timing perfeito para observarmos mais atentamente a forma como trabalhamos, nosso nível de exigência e cobrança interna.

Principalmente porque, trabalhando em casa, qualquer tendência workaholic fica mais evidente. Você pode se perceber pulando uma refeição, trabalhando até muito tarde, ou observando seus níveis de ansiedade chegarem às alturas. 

No trabalho remoto, sentimo-nos mais livres, por um lado. Mas é preciso cuidado, uma vez que a sociedade de desempenho embutiu em nosso inconsciente a ideia de que para sermos “vencedores” precisamos trabalhar incansavelmente, sem nenhum descanso. Até atingirmos a ideia de um certo “eu-ideal-bem-sucedido” completamente ilusório.

Acho brilhante a forma como o filósofo Byung-Chul Han descreve esse processo no livro “Sociedade do Cansaço”.

“Frente ao eu-ideal, o eu real aparece como fracassado. O eu trava uma guerra consigo mesmo. Nessa guerra não pode haver nenhum vencedor, pois a vitória acaba com a morte do vencedor. O sujeito do desempenho se destrói na vitória. (…) É assim que doenças psíquicas como burnout ou depressão, enfermidades centrais do século 21, apresentam todas elas um traço altamente agressivo a si mesmo. A gente faz violência a si mesmo e explora a si mesmo. Em lugar na violência causada por um fator externo, entra a violência autogerada, que é ainda mais fatal, pois a vítima acredita ser alguém livre”.

Passei por várias fases desses processos mencionados por ele – e até hoje ainda caio em armadilhas de vez em quando. Mas é justamente por isso que, atualmente, antes de abraçar um trabalho ou projeto, não penso apenas na precificação em termos de execução. Avalio o custo emocional que haverá para mim em atender tal demanda.

Às vezes, não há preço que pague.

Em tempos de Coronavírus, nenhum trabalho vale a sua saúde física e emocional

Diante de todo o contexto que acabei de mencionar, confesso que me espanta também a forma como algumas pessoas estão simplesmente “vivendo a vida normal” no meio de uma pandemia mundial. Na esfera digital, principalmente, observei que há até mesmo um certo aumento de demanda e aceleração de processos.

Claro que aqui falo somente por mim, do meu ponto de vista. Mas acho válido compartilhar que, nas últimas semanas, cheguei a recusar trabalhos justamente pelo custo emocional que teria ao assumir novos projetos em meio a um contexto de caos social. Para você, talvez pareça loucura ir na contramão e decidir trabalhar menos em um cenário econômico delicado.

Porém, hoje compreendo que o preço da minha ansiedade, somada à ansiedade externa do mundo, seria elevado demais. Não há como precificar minha saúde mental neste momento. Aliás, aproveito aqui o gancho para compartilhar novamente algo bem pessoal.

Tive um caso de Coronavírus dentro da minha família. Sabe quando as estatísticas ganham contornos físicos reais? Pois é. Meus familiares se recuperaram, mas um amigo que havia viajado com eles faleceu, infelizmente. A proximidade dos acontecimentos, assim, torna toda a questão ainda mais tangível para mim.

Mais uma vez, a vida me escancarou: a morte é a única certeza que temos. Foi por esse motivo que tomei ainda outra decisão ousada: abandonar alguns projetos pelos quais tinha enorme carinho, simplesmente para ficar mais offline, trabalhar no livro que quero lançar, ter mais tempo dedicado a mim mesma. 

Pretendo fazer uma espécie de quarentena sabática. Como minimalista que sou, vivendo com menos, gastando muito menos e, por consequência, trabalhando menos. Porque é fato: as pessoas estão morrendo. O mundo que eu conhecia até então mudou. E preciso de tempo para respirar e focar na minha saúde.

Essa é a minha decisão agora. Sei que cada um tem a sua história. Mas sinto que, de alguma forma, preciso externalizar este sentimento: lembre-se, por favor, de que neste momento da história a sua saúde é mais importante que qualquer dinheiro, trabalho, ou qualquer outra demanda que aparente ser prioritária.

Cuide-se. Pegue sol em casa, se possível. Respire, medite. Ouça música. Evite a tendência de se esconder da realidade e do Coronavírus afundando em mais trabalho. Permita-se desligar e ame-se mais.

Como disse o filósofo Clóvis de Barros Filho: a vida hoje vale mais.




4 lições poderosas sobre produção de conteúdo do livro Hit Makers

desenho de duas mãos coloridas se tocando

Eu sei. Sei que você já leu neste oceano de informações da internet milhares de dicas sobre como criar conteúdos incríveis. Mas o livro Hit Makers, sobre o qual decidi falar neste artigo, não é apenas uma obra que aponta caminhos acerca de como ser um “creator” (o novo termo da modinha), capaz de criar estratégias e textos incríveis.

É um livro sobre comportamento humano, essencialmente. Sobre sociedade. Sobre cultura. Sobre o porquê as pessoas fazem o que fazem. Compreender todos esses aspectos é, em minha visão, o ponto mais relevante para se tornar um bom produtor de conteúdo.

Por quê? Porque, embora seja fácil chamar seus seguidores/clientes de leads, não dá para esquecer a grande verdade: do outro lado da tela, consumindo seu conteúdo, está um ser humano. É para ele/ela que você quer escrever. 

Então, topa um mergulho mais profundo comigo na obra escrita pelo Derek Thompson?

Hit Makers não entrega fórmulas, mas instiga a pensar

Um dos aspectos que mais me fascinou na obra do editor-sênior da Revista The Atlantic é justamente este: seu objetivo não é propor uma estrutura milagrosa, aquela “ideia secreta” por trás da fabricação de um HIT. Pelo contrário.

Ao investigar e apresentar no livro os bastidores dos mercados de criadores de conteúdo (nos mais variados formatos, desde música, cinema, arte e, claro, a própria internet), ele aparenta concluir justamente o oposto. Há muito caos na vida. Diversos HITS se tornaram fenômenos com uma importante ajudinha do acaso.

Bem diferente do que o mercado de Marketing de Conteúdo em geral tenta nos vender, não é? “Use a estratégia x e tenha o resultado y” (hahahaha. Sério, se você ainda acredita nisso, por favor, não seja ingênuo). Mas ok, vamos lá. Não é só porque o livro não traz fórmulas que deixe de apresentar argumentos interessantíssimos.

Ao tecer entrevistas com neurocientistas, produtores musicais, donos de canais de televisão por assinatura, entre diversas outras autoridades no mercado de HITS, Thompson aponta algumas direções interessantes. Embora não exista receita de bolo, ao observar o comportamento humano sempre é possível ter insights que, a meu ver, colocam o produtor de conteúdo em uma direção mais certeira.

Abaixo, compilei quatro deles.

TOP 4 insights do livro Hit Makers para produtores de conteúdo

Já abriu o bloquinho de notas aí? Espia algumas sacadas geniais que tirei de Hit Makers:

1. Crie uma linguagem de lembranças por meio do seu conteúdo

“As pessoas gostam de repetir experiências culturais, não somente porque querem se lembrar da arte, mas também porque querem se lembrar de si mesmas, e existe alegria no ato de se relembrar” – Derek Thompson

Você já deve ter assistido seu filme favorito mais de uma vez, não é? Há pessoas que relatam com alegria, por exemplo, já terem visto a série Friends milhares de vezes (eu também!). Por quê? Porque gostamos dessa familiaridade. Nossas séries e músicas prediletas se tornam parte de nós. Se transformam em uma linguagem de lembranças.

Pense aí: qual é o DNA do seu conteúdo que gera esse impacto nas pessoas? O que vai fazê-las quererem ler, reler seus textos, ou acompanhar seus vídeos semanalmente? Como você toca as pessoas de modo que elas anseiem por seu conteúdo?

2. Esqueça a ideia de “aceitação”

“Talvez a genialidade floresça em um espaço levemente protegido da necessidade de ganhar um concurso de popularidade. (…) Talvez a maior obra venha dos criadores que procuram alguma coisa além da aceitação, empurrando a fronteira mais adiante”.Derek Thompson

Se você ainda tem medo de publicar conteúdo, ou medo de se expressar pela falta de aceitação, esqueça isso. De verdade. Sei que é difícil. Às vezes eu publico conteúdos pensando: “talvez fulano e beltrano não gostem disso que eu escrevi”. Mas, se me prendesse a isso, não teria chegado a publicar dois textos aqui.

Não produza conteúdo pensando sempre em agradar alguém. Seu conteúdo é sua arte na internet. Ele pode – e deve – ser autoral, original e, às vezes, crítico. Faz parte não agradar todo mundo. Talvez seja mais interessante fazer com que as pessoas reflitam, do que buscar sua aceitação unânime.

3. Humanize seu conteúdo

“As necessidades básicas das pessoas são complexas, mas antigas. Elas querem se sentir únicas e também querem pertencer a algo; querem banhar-se em familiaridade e também ser um pouco provocadas”. – Derek Thompson

O maior erro do produtor de conteúdo que se prende a templates e regrinhas é, repito, esquecer que do outro lado da tela existe uma pessoa. De que forma seu conteúdo dialoga com as necessidades mais intrínsecas do ser humano? Como ele resolve um problema, oferece uma solução, gera senso de pertencimento?

Vou ser meio enfática, mas lá vai: se você não pensa nisso ao produzir conteúdo, acredito que está dando um tiro no pé e, ao mesmo tempo, prestando um desserviço à sociedade. A internet não precisa de mais lixo eletrônico. Precisa de conteúdo com verdade, alma e propósito.

4. Reforce a mesma mensagem, de formas distintas, prezando pela simplicidade

“Conforme nós crescíamos, tentávamos ser tudo para todo mundo. Nós tentávamos promover todas as coisas em vez de focarmos em poucas. (…) A ESPN havia se tornado uma rede que servia muitos pratos medíocres, como um restaurante barato” – John Skipper, ex-presidente da ESPN

Ah, o tal do minimalismo. Viu só como ele serve para o mercado de produção de conteúdo também? Vou ser bem sincera: para oferecer um bom resultado aos seus clientes, não creio que seja necessário estar presente em todas as redes sociais e plataformas. Apresentar todos os formatos possíveis. Falar sobre 15 assuntos diferentes.

Foque no essencial. Se você for capaz de fazer o essencial bem feito, já tem tudo para conseguir resultados.

E aí, curtiu as dicas? Já leu o livro? Ficou com vontade? Vou deixar o LINK aqui, caso você queira adquirir seu exemplar pela Amazon.*

Se você também já vem estudando o mercado de produção de conteúdo e deseja se aprofundar, sem essa de firulas ou fórmulas prontas, mas mergulhando de cabeça mesmo em como entender seu cliente e criar uma estratégia, convido a espiar os Cursos de Produção de Conteúdo que já fiz e recomendo.

AH! E, se você ler o livro do Thompson, não deixa de vir aqui também depois me contar o que achou! 🙂

*Observação: o livro e os posts indicados neste post contêm meus links de afiliada. Isso significa que, ao comprar através deles, você ajuda a rentabilizar meu trabalho para que eu possa seguir escrevendo esses textos. Obrigada!




Admirável Mundo Novo: o de antes, o de agora ou o próximo?

foto de árvores aparecendo atrás de uma janela redonda

A última ida à Biblioteca

Algo muito estranho pairava no ar naquela quarta-feira. Era como se o vírus já estivesse por toda parte, ainda que nenhuma autoridade tivesse declarado oficialmente orientações corretas para a quarentena. Eu sabia, sentia. De alguma forma, tudo estava prestes a mudar.

Clichê, talvez. Mas parecia mesmo que estava em um filme. A insegurança e o desnorteamento no olhar de algumas pessoas; a cegueira estampada nas feições de outras que aparentavam, simplesmente, escolher a opção de crer que a ameaça não era real. Sempre é mais fácil, afinal.

Eu já havia decidido, naquele dia 18 de março, que não mais sairia de casa – a menos que fosse necessário – pelas próximas duas semanas. Estranhamente, me percebi diante de um misto de terror e euforia ao selar essa escolha. Isso era novo, absolutamente novo. O que jamais imaginaria é a falta enorme que fazem os abraços.

Em uma espécie de lampejo elétrico de consciência, antes de me confinar, decidi: vou uma última vez à biblioteca. Naquele misto de euforia ansiolítica interior diante da maior crise pela qual já vi o mundo passar em meus 25 anos de idade, algo parecia sussurrar: “você ainda tem as palavras”.

Percorri as estantes e, mais uma vez, absorvi o conforto daquela calmaria silenciosa das obras de quem já viveu outras crises, tão ou mais fortes que eu jamais ousaria dimensionar considerando minha juventude. Bibliotecas são templos. Há mais espiritualidade ali do que em qualquer igreja.

Alfas, Betas e Gamas

Fiquei mais tempo por lá do que deveria. Só que o tempo já não importava. Que fazer com ele agora, quando a morte disfarçada de vírus me convidada de novo a encarar a fragilidade de toda a humanidade?

Percorri as estantes sem encontrar nada específico. Qualquer livro capaz de me tirar da realidade externa cruel e das notícias horríveis que viriam nas próximas semanas, pressenti, bastaria.

Passei os olhos por aquele exemplar de capa roxa que se sobressaía. “Admirável Mundo Novo”. Aldous Huxley. Já estava na minha listinha há tempo. Quem sabe não era a hora exata?

Todo aquele mundo de Alfas, Betas, Gamas, Ípsilons. Indivíduos presos em uma sociedade autoritária e biologicamente hackeada. Dopados de “soma” (como é chamado o medicamento antidepressivo sem efeitos colaterais na distopia). Condicionados a sacrificarem qualquer sensação minimamente humana em prol do capital e da ordem social. Fabricados artificialmente para se contentarem a trabalhar em funções condizentes com suas castas.

Sexo banalizado. Mulheres deliberadamente prostituídas de acordo com a ordem normativa daquele status quo. Quimicamente castradas com anticoncepcionais.

Como você pode imaginar, finalizei o livro. E compreendo a mensagem. Tudo isso é tão perigosamente próximo ao andar de nossa sociedade “pré-coronavírus”. Bizarramente real. Espantosamente previsto por um inglês no ano de 1932.

Sempre é um mistério para mim. Como artistas são capazes de antecipar, de certa forma, algo tão semelhante a um novo modelo social mesmo décadas antes dele efetivamente se concretizar?

Paro. Reflito. Será que a quarentena está nos deixando loucos, ou será que estávamos loucos antes dela? 

Admirável Mundo Novo

Qual seria ele? O de antes? O de agora? O próximo? Não sei.

Mas continuo sentindo falta dos abraços. 





Minimalismo criativo: uma solução para o momento e o início de uma nova sociedade?

mesa de madeira com uma mão pintando árvores verdes com pincel

Era meados de outubro ou novembro de 2019. Acho que um domingo. Eu e minha mãe saímos para um café e, em uma dessas coincidências gostosas da vida, encontramos a professora e instrutora de Yoga Maria Nazaré Cavalcanti. Ela é uma daquelas pessoas brilhantes que a gente poderia ouvir por horas e horas, sabe?

Pois bem, naquele dia ensolarado, a Nazaré aceitou o convite de sentar-se conosco. Papo vai, papo vem. Falamos de política e desigualdade social. Me lembro bem que ela comentou sobre algumas teorias que já estavam rolando, sobre o capitalismo extremo estar chegando ao seu limite, prestes a ruir.

O 11 de setembro teria sido o strike one. Não por acaso, tenho lembrado muito dessa conversa nos últimos dias. Acho que a pandemia global equivale aos strikes dois e três juntos, né? A loucura do consumismo está ruindo bem diante de nossos olhos.

Se você não concorda com essa visão, tudo bem. Sei que muita gente crê simplesmente que “vivemos uma crise”. Mas peço licença para discordar e ir além. Creio fortemente que estamos diante da oportunidade/necessidade de construir um novo modelo social, mais humano e igualitário.

Topa aprofundar?

Usamos máscaras nas ruas, mas as verdadeiras máscaras agora caem

Algo que está evidente nesses tempos de pandemia é a desigualdade social e tecnológica que tanto nos esforçamos para ignorar. E que, não por acaso, se tornou justamente a maior problemática em nosso modelo econômico.

Enquanto alguns privilegiados podem exercer o trabalho remoto, falar com seus amigos pelo celular, se alimentar bem e “seguir a vida”, de certa forma (me incluo nesta categoria, aliás), outras pessoas enfrentam um temor cada vez maior da fome, do desemprego e da morte. Está na cara que a balança está desequilibrada.

Na filosofia da Yoga, um dos preceitos éticos que buscamos seguir na vida é o de Aparigraha que, conforme explica o professor Pedro Kupfer em coluna da hoje já extinta revista Yoga Journal, significa contentar-se com o necessário.

“O Yogi não tem interesse em acumular objetos inúteis, pelo mesmo motivo que as águias voam carregando apenas o indispensável para ficarem leves”.

Compreendo esse conceito no sentido da ideia de “não-ganância”, de não acumularmos em excesso. Por quê? Porque, pela lei do equilíbrio, sempre que eu acumulo demais (dinheiro, comida, posses, etc), significa que este meu excesso será a falta de outra pessoa

Percebe como é ridículo, na falta de uma palavra melhor, o fato de que para algumas pessoas a maior preocupação na quarentena seja comer demais porque estão entediadas em casa, enquanto para outras é simplesmente ter o que comer e sobreviver?

Isso é sintoma do desequilíbrio na balança social. E esse é meu gancho para falar de minimalismo criativo em tempos de pandemia.

Minimalismo e criatividade no contexto do isolamento social

O minimalismo, conforme já expliquei em outros artigos, diz respeito a uma filosofia de vida que prioriza termos menos coisas, valorizando mais a qualidade destas, e empregando nosso tempo a favor daquilo que realmente nos é precioso na vida. Creio, cada vez mais, que a aplicabilidade desses conceitos nunca foi tão urgente.

Em minha visão, sim: ser minimalista é entrar em sintonia com a mentalidade de uma nova Era. De mais igualdade, amor, cooperação e criatividade. Para aproximar essa ideia um pouco mais da realidade, vou trazer alguns exemplos.

Mesmo eu, que já me considero minimalista, estou percebendo na quarentena diversas novas possibilidades de aprofundar a filosofia na prática. A título de ilustração: diante da dificuldade/cautela necessárias para ir ao supermercado, tenho literalmente usado todos os ingredientes da cozinha até o fim.

Resultado? Estou pesquisando e criando diversas novas receitas super criativas e gostosas. Entendo, também, que o fato de os alimentos naturalmente aumentarem de preço durante a crise é uma oportunidade de pensar cada vez mais sobre o que estou comendo, a quantidade de comida essencial ao corpo, em me nutrir com o essencial apenas.

Percebi na cozinha algo que já havia constatado quando me tornei minimalista com roupas. Quanto menos peças temos, mais criativos ficamos na forma de explorá-las. A escassez nos obriga a pensar melhor sobre como utilizar nossos recursos com inteligência.

Então, ao invés de deixar ela lhe apavorar, por que não usá-la para aflorar seu lado mais criativo?

Esta é a sua oportunidade de aprender a viver com menos

Talvez você, ao ler este texto, conclua que sou uma pessoa exageradamente otimista. E, se for o caso, tudo bem. Dia desses, li uma frase do Oscar Wilde, que dizia assim:

“O pessimista é aquele que reclama do barulho quando a oportunidade bate à porta”. 

Sei que esta pandemia é mais que um barulho. É um estrondo. Mas que ele possa, então, nos estremecer a ponto de incentivar todas essas mudanças que a Natureza já declarou: são inadiáveis.

Concorda comigo? Você já leva ou está tentando levar uma vida mais minimalista? A quarentena também aflorou sua criatividade? Me conta aqui nos comentários que eu vou amar saber. <3





Meu ego estava me matando. A estrada ajudou a me salvar.

espelho-retrovisor-carro

Eu só precisava ser livre

Quando tatuei a palavra “free” (“livre”), na lateral do meu pulso direito no ano de 2018, ainda nem tinha dimensão de como seu significado se desdobraria na minha vida. Sempre desejei ser livre. Isso é um fato incontestável sobre mim. Na época, porém, era muito mais sobre o trabalho.

Marquei isso na pele porque finalmente sentia que estava na direção do meu sonho de vida: dentro de alguns meses, pediria demissão da CLT e me tornaria a empresária autônoma que sempre tinha desejado ser. O mais empolgante de tudo? Começaria meu projeto de ser nômade digital.

O engraçado é que, naquele ponto, eu já me sentia até bem “satisfeita” com a minha vida. Trabalhava 6h em uma agência de Marketing Digital (curtia mesmo o que eu fazia), tinha ótimos clientes também como freelancer e, no fim do mês, uma soma “boa” de salário – considerando a realidade do Brasil.

Aparentemente, tudo perfeito, né? O que nem percebia com tanta clareza na época é que essa rotina tinha um custo emocional grande. Quando me dei conta, já não tomava mais café da manhã, malhava 6x por semana (para aliviar uma ansiedade oculta) e comecei a ter algumas questões de saúde, como alterações menstruais.

Aliás: se você for mulher, fique atenta. Alterações no seu ciclo podem ser fortes indícios de desequilíbrios. Resumo da ópera: cheguei a pesar 56kg para meus 1,68m de altura. Mas, para mim – e para a sociedade – estava tudo bem. Afinal, eu era magra, produtiva e ainda “bem sucedida”, não é?

Estava apenas dando tudo de mim para ser aquilo que as pessoas esperam de uma mulher: perfeita. E aí começou o nomadismo. Ele seria o ápice da realização do meu ego. 

A agonia do ego ao sair da bolha

Mas, ao contrário da glamourização que aparece em alguns perfis de redes sociais, descobri que viajar e trabalhar na verdade pode ser um enorme golpe ao nosso “falso eu” nos bastidores. Por quê? Porque você começa a perceber que, aí fora no mundo, você não tem tanta importância quanto na sua família ou no seu trabalho “fixo”.

Você realmente percebe que é ignorante. Que sabe, de fato, MUITO pouco sobre outras culturas, idiomas, formas de vida. É como ser criança novamente. Aliás, em uma das minhas andanças no ano passado, me deparei com uma frase de Pablo Neruda em uma livraria, que dizia assim:

“Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente encontrarás a ti mesmo. E essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de tuas horas.”

Esses dias chegaram para mim com o trabalho remoto e o nomadismo. Comecei a me ver obrigada a olhar de frente para aquele meu ego que insistia em me definir exclusivamente pelo meu sucesso profissional, minha aparência ou minha conta bancária. Na estrada, há coisas maiores em jogo. Você tem que se virar.

Vai ficar em um Airbnb ou na casa de alguém? Terá que aprender a limpar, dormir em outra cama, lavar louça, limpar banheiro. Só isso já traz uma dimensão mais apurada da realidade. A importância do trabalho dos outros que, quando estamos presos somente em nosso mundinho, muitas vezes não reparamos.

A verdadeira libertação

Ontem, assistindo um filme do Gandhi, algo me inspirou a escrever este texto. Em uma determinada cena, ele pede que sua mulher limpe uma latrina. A princípio, ela se recusa – depois cede. 

A essência do gesto era demonstrar justamente isto: não nos definimos exclusivamente pelas funções que executamos, mas pelas pessoas que somos. E nosso ego detesta isso, porque ele adora se apegar em personagens. Ama se sentir importante.

Embora não seja profissional da saúde mental, acredito que não é por acaso o sofrimento de muitas pessoas trabalhando em casa devido ao Coronavírus. O ego sente essa porrada. Pode acontecer de você perceber que não é o rei ou a rainha do pedaço que era lá no escritório. Mas, acredite: sentir isso é parte de um processo de cura.

A frase de Neruda, em minha concepção, diz respeito a essa percepção. Dissolver o ego para, então, olharmos de frente para nós mesmos de novo. Esse é o verdadeiro encontro com a essência. Assustador, a princípio, mas libertador em seguida.

Hoje, a palavra “free” no meu braço tem um sentido diferente. Não almejo necessariamente uma liberdade geográfica (embora isso ainda seja importante para mim). Quero, na verdade, me libertar cada vez mais desse ego que me aprisiona. Posso fazer isso viajando, ou dentro de casa, refletindo, lendo, escrevendo, meditando.

O processo é longo, não acontece de um dia para o outro. Mas tenho certeza, cada vez mais, de que esse é o caminho para uma vida mais plena.

Se você é nômade, me conta se passou por algum processo semelhante? Ou, se está na carreira corporativa, compartilha se em algum momento seu ego já começou a te consumir por inteiro e como você lida com isso? Adoraria saber!




Em nossa história, ou somos protagonistas, ou somos reféns

caneta com fundo branco

Todos os dias, quando o despertador toca e levantamos da cama, uma nova história está prestes a começar. É o que diz a jornalista Ana Holanda, em seu maravilhoso livro sobre Escrita Afetuosa. Mas será que realmente temos responsabilidade pelas narrativas que criamos em nossas vidas?

Talvez agora, neste momento tão singular em que uma ameaça invisível nos fez “dar uma pausa forçada na rotina”, sejamos mais capazes de perceber que às vezes a correria da vida moderna nos torna tão autômatos a ponto de não prestarmos atenção ao que fazemos com nossas vidas. Apenas repetimos os mesmos padrões e histórias.

Por isso, creio ser o momento perfeito para propor uma reflexão: em que direção você quer levar sua história pessoal e profissional daqui para frente? Topa esse devaneio comigo?

Qual é a história que você quer escrever?

Se você está lendo este artigo em um celular ou computador, vou assumir que – assim como eu – provavelmente ocupa um lugar de maior privilégio na sociedade capitalista. Mas é engraçado que, tantas vezes, justamente por estarmos neste lugar mais privilegiado, deixamos de perceber o infinito número de escolhas que temos à nossa frente.

Acreditamos que precisamos trabalhar ainda mais, consumir ainda mais, ter sempre mais e mais e mais. Sei bem como é essa pressão. Ela vem de todos os lados, de todos os meios. “Preciso dar o melhor para o meu filho(a), então não tenho a escolha de sair de um trabalho do qual não gosto”. “Preciso ganhar mais, senão vão dizer que sou fracassado(a).”

Terceirizamos a responsabilidade sobre nossa história ao chefe, à empresa, ao governo. E passamos a agir como reféns. É neste ponto que a vida perde o brilho. Por um motivo intrinsecamente egoísta: deixamos de enxergar que a realidade é feita de infinitas possibilidades para a maioria de nós, os privilegiados.

Temos liberdade para ler, estudar, criar, expressar sentimentos. Como pontua a monja Jetsunma Tenzin Palmo no livro “O Coração da Vida”, se vivemos no Ocidente e temos o mínimo básico para sobreviver, temos liberdade de escolha sobre nossa vida pessoal e profissional:

“Vocês têm a oportunidade de treinar a mente. Não estão pensando o tempo todo em como poderão conseguir a próxima refeição. Têm tempo livre e oportunidade para pensar além. Vocês nunca terão um melhor momento do que este agora para usar esta vida de maneira tão significativa. (…) Se pelo menos estamos sentados e alguém não está nos ameaçando, isso já é ótimo. Então, o que há de tão preocupante?”

Percebe como as preocupações que nos mantêm presos em histórias de vida que já não nos agradam vêm de invenções da mente? O medo de não ter dinheiro, ou prestígio, ou má reputação, ou status? É o ego em seu temor de se dissolver. Mas, quando você percebe que é maior que isso, abre-se um mundo inteirinho de possibilidades à frente.

E você pode perceber, finalmente, que é responsável por sua história e pode escrevê-la como quiser. A vida imita a arte, dizem por aí. 

As novas histórias que já são escritas na era tecnológica

Quando decidi que iria me tornar nômade digital/trabalhar remotamente, era justamente por querer escrever uma história diferente para a minha vida. A narrativa de acordar, trabalhar, ir à academia, dormir, repetir 5x isso na semana e descansar no sábado e domingo já não bastava.

Precisava sentir que eu realmente vivia. Que teria vivências mais interessantes para contar antes de morrer. Contemplar outras realidades. Graças à internet, hoje podemos realmente escolher escrever histórias pessoais e profissionais muito distintas do que a geração dos baby boomers, por exemplo. 

Ontem mesmo, acompanhando uma Live no Instagram com o Matheus de Souza e o Lucas Morello – que acabaram de lançar um projeto incrível de capacitação para trabalhadores remotos, chamado Remote Box – refleti ainda mais sobre isso. Eles falavam sobre como o próprio trabalho remoto pode ser exercido de formas diferentes para cada pessoa.

Há quem goste de trabalhar de pijama, há quem goste de se arrumar. Há quem prefira trabalhar em um café, ou então ter um escritório em casa. Ou, por que não, intercalar? Vivemos uma era em que a liberdade na forma de trabalharmos nunca foi tão extrema. Agora é o momento de aproveitar essa oportunidade.

Um certo vírus chegou para nos avisar que nada será como antes. Então, que possamos olhar para este novo mundo e contemplar não apenas as coisas ruins que acontecem – e sim todos os benefícios que este novo período traz. Porque sim: ninguém esperava por tudo isso. Sim: a vida é caótica. Isso simplesmente são fatos.

Porém, como escreve Derek Thompson em “Hit Makers”: “Qualquer história é melhor do que o caos. Na verdade, pode-se dizer que o caos da vida é uma condição crônica para a qual as histórias são o remédio”.

Como você quer escrever a sua?

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Os consumidores viraram os consumidos: será que tudo vai voltar logo ao “normal”?

estátua pequena de buda em um jardim

Em tempos de crise global, um dos melhores mantras é visualizar dias melhores. Eu mesma tenho feito isso nos últimos dias de quarentena. Me imagino indo à praia, ao cinema, passeando em uma livraria, frequentando aulas de Yoga, abraçando amigos. Deixa meu coração mais aliviado focar na certeza de que somos capazes de superar o momento atual.

Por outro lado, tenho refletido cada vez mais sobre o fato de que, muito provavelmente, a melhor forma de honrar as pessoas que já foram vítimas da tragédia do vírus é  justamente EVITAR que tudo volte “ao normal”. Porque os sinais já estavam aí: nosso “modo normal” de vida não tinha nada de normal.

Topa aprofundar o devaneio comigo? 

Os sinais que ignoramos

Joaquin Phoenix alertou em seu discurso do Oscar sobre o potencial destrutivo do egoísmo de nossa espécie. Greta Thunberg enfrentou autoridades com a mesma mensagem e seu movimento Friday’s for Future. Até Bill Gates, bizarramente, fez basicamente uma previsão do Coronavírus em um TED X de 2015.

Espie aí:

Bem, a realidade evidencia o óbvio: durante muito tempo, nós ignoramos os alertas de pessoas brilhantes e que buscaram abrir nossos olhos. E por quê? Porque estávamos engolidos pelo próprio sistema. Sempre mais preocupados com o dinheiro, as roupas, nossos celulares. Futilidades.

Ao invés de usarmos a tecnologia a nosso favor como humanidade, nos perdemos nela. Comparando nossas vidas no Instagram, ficando mais centrados em nosso próprio mundinho e olhando cada vez menos para o lado. Deixamos de perceber, muitas vezes, a importância das conexões reais. A relevância de outras pessoas em nossas vidas.

Li recentemente uma coluna na hoje já extinta revista Yoga Journal escrita por David Frawley, intitulada “Uma abordagem védica sobre a tecnologia”. Nela, o escritor faz a seguinte crítica:

“Talvez o principal problema seja que a tecnologia da informação tenha sido lançada no contexto de uma cultura consumista em seus valores, o que determina a maneira como ela é usada. (…) O consumidor frequentemente vira o consumido. Nós mesmos nos tornamos mercadorias que são eventualmente descartadas do supermercado, como trabalhadores velhos de uma fábrica.”

Forte, não é? Mas esse é um ponto crucial que julgo importante enfatizar. Outro fator que contribui para a proliferação de vírus é justamente a decadência da saúde humana. Nessa “rodinha do hamster” na qual nos encontrávamos julgando que isso era o modo “natural” de se viver – sempre correndo -, sacrificávamos tudo em detrimento do capital.

Inclusive a nossa saúde física e mental, nosso amor-próprio. Não é preciso ser especialista para identificar que uma doença é contraída quando o sistema imune está frágil – e tal fragilidade provém justamente de má-nutrição, falta de contato com o sol, sedentarismo. Vivíamos ignorando que somos seres biológicos, que necessitam da Natureza.

Até que o jogo virou. E agora?

O minimalismo pode nos ajudar a retomar a normalidade

Já recebi – e elaborei – diversas analogias interessantes em relação ao vírus. O fato de ser invisível, nos obrigando a prestar de novo mais atenção em como nos relacionamos com outras pessoas. Também o uso de máscaras, que nos força a voltar a “olhar no olho” do outro. Até mesmo o fato da doença atacar a “Coroa” – nosso EGO patriarcal – e o chakra cardíaco.

Seriam esses indícios de que necessitamos resgatar o feminino que há em todos nós (vale para homens e mulheres), vibrar mais amor, cooperação, entrega, calma? Acredito que sim, pois tudo é muito simbólico. Nosso ego nos trouxe até aqui. Chegamos ao ápice da autoexploração e da destruição do planeta.

Por mais que seja gostoso esperar que tudo volte a ser como era antes, penso que agora é a hora de nos reconstruírmos. Não há mais espaço para o “normal” que vivemos antes de toda a crise. Necessitamos retomar a verdadeira normalidade, um modo mais minimalista de viver. 

Se o capitalismo não começar a ruir de vez, que pelo menos possamos encontrar formas mais dignas de viver nele. Que comecemos a aproveitar a quarentena para meditar todas as manhãs. Que os almoços e cafés com quem amamos sejam menos corridos. Que encontremos tempo para falar com nossos amigos e perguntar se estão bem.

Que comecemos a valorizar o trabalho de profissionais como caixas de supermercado, entregadores, motoristas – que estão se arriscando neste momento para continuar a suprir as pessoas. A meu ver, é assim que honramos a todos os que já morreram por conta da situação e os que estão lutando para salvar vidas neste exato momento.

Lembrando também mais uma vez de todo o coração: se você pode ficar em casa neste momento, fique. É a primeira ação mais altruísta que pode ser realizada agora.

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Sobre ameaças invisíveis, home office e mudanças na humanidade

duas pessoas se dando as mãos

Tenho a sensação de que, a nível global, estamos passando por um momento crítico e decisivo na história da humanidade. Quase que de forma irônica, em meio a transformações climáticas preocupantes e muros erguidos, eis que surge um vírus que nos força a parar, entrar em quarentena e refletir sobre tudo o que acontece em profundidade.

Planos e viagens tendo de ser adiados, turbulência econômica, incerteza sobre o futuro. Ao mesmo tempo, porém, paira no ar uma atmosfera de recolhimento e solidariedade, de pensarmos um pouco no outro. Em meio ao caos, acredito que ainda exista algum tipo de beleza.

Meu intuito neste artigo, portanto, é tentar traçar um panorama otimista acerca do que o vírus veio nos ensinar. Porque sim: é muito triste pensar que pessoas já estão e ainda vão perder empregos – e, claro, muito pior! – morrer por conta disso. Porém, isso só reforça a importância de aprendermos a passar pela crise e sairmos dela melhor do que entramos.

Topa esse aprofundamento comigo? 

Os benefícios do home office no cenário atual (e como você pode extrair o melhor dele agora)

Segundo informações do Nexo, diversas empresas – Amazon, Google, XP Investimentos e Microsoft, para citar algumas – já estão liberando o trabalho remoto como alternativa ao cenário atual. E a tendência, aparentemente, é a de que outras sigam o formato. 

Resultado? Como se pode prever, menos carros circulando nas ruas, menos poluição na atmosfera. Esse vírus danado parece ter vindo para nos fazer “testar por obrigação” um futuro que já poderia estar sendo implementado graças à tecnologia. Quem sabe agora não é o momento de propor essa possibilidade de trabalho remoto ao seu chefe?

Penso que não custa tentar. Sou home officer/nômade há pouco mais de um ano, mas em outras situações anteriores – como na Greve dos Caminhoneiros – cheguei a propor isso na agência em que trabalhava. Acredito que esse é o momento perfeito para líderes demonstrarem empatia e abrirem portas ao novo modelo.

E, caso a possibilidade efetivamente se concretize – ou caso você esteja agora trabalhando de casa pela primeira vez – creio fortemente que esse pode ser um momento decisivo para a sua evolução pessoal e profissional. Aproveite para desacelerar, reestruturar a rotina, pensar com mais clareza.

Valorize o fato de que você não precisa pegar o seu carro e sair correndo para o trabalho de manhã. Medite pelo menos 15 minutos ao acordar. Aliás, aproveite essa OPORTUNIDADE por aqueles que não podem. Inclua em seus pensamentos quem ainda precisa pegar o metrô, ou o ônibus lotado para ir ao trabalho.

Recomendo também que você estabeleça uma boa rotina, defina horários para pausas estratégicas no expediente e tome cuidado com as distrações. Exemplo: eu costumo trabalhar das 9h às 11h, preparar o almoço, seguir trabalhando às 13h30, fazendo uma pausinha às 16h e depois encerrando o expediente por volta das 17h/18h.

Funciona. Você só precisa se comprometer. Aproveite a chance de mostrar à organização a qual você pertence que é possível conciliar home office e produtividade. 

Já pensou se após essa crise um número cada vez maior de empresas permita a flexibilidade de horários e a liberdade geográfica? O bem que isso faria ao planeta e às pessoas? Sou otimista. Acho que estamos em um momento divisor de águas do mundo capitalista.

O invisível veio para nos ensinar algo mais importante?

Engraçado que sempre falo bastante em meus textos sobre o medo. E o que poderia ser mais assustador do que uma ameaça invisível? Creio que o tal do vírus causa mais pânico por conta disso: está no ar, você não pode ver, não pode tocar

Isso nos coloca de novo diante da compreensão do quanto realmente somos pequenos e imponentes. Algo que nem sequer somos capazes de ver poderia nos matar. É como um soco na cara do nosso ego.

Tenho refletido também sobre o paradoxo de estarmos vivendo em um mundo que, embora globalizado, apresente a tendência de fechar suas fronteiras. Na esfera individual, provavelmente em breve também estaremos em quarentena, isolados. É como se alguma força maior nos obrigasse a experimentar isso na máxima potência.

Será que realmente é assim que queremos viver? Sozinhos? Isolados de tudo e todos? Eu sou apaixonada pelo home office, mas faço muita questão de sair com amigos, participar de cursos, eventos e não estar em casa o tempo inteiro. O vírus veio para nos lembrar: precisamos de pessoas

Acredito que todos nós já percebemos: necessitamos rever nossos rumos pessoais e profissionais urgentemente. Essa ameaça invisível, embora horrível, pode ser a melhor oportunidade para isso. Para nos recolhermos, pensarmos com mais clareza, experimentarmos usar menos o carro, comprar menos.

Quem sabe não seja este o marco final para o início de uma nova era de mais cooperação, consumo consciente/minimalismo, trânsito sustentável, saúde no trabalho?

Quero saber o que você pensa também. Concorda comigo? Discorda? Me conta aqui nos comentários que vou adorar ouvir sua opinião. 🙂