RESENHA – Pós-F: Para além do masculino e feminino

O que é cafonice para você?

Eu não sei exatamente definir.

Sei o que talvez sintetizaria seu oposto.

Fernanda Young.

Direta. Contraditória. Profunda. Vulnerável. Firme. Ambiciosa. Audaciosa.

São adjetivos que me parecem definir a complexidade de sua obra e, possivelmente, da própria Fernanda enquanto mulher escritora.

Em “Pós-F”, a autora expõe com coragem suas percepções acerca de questões de gênero, apontando para uma pergunta que também julgo cada vez mais urgente:

Quando é que, finalmente, poderemos transcendê-las?

Quando é que, finalmente, poderemos enxergar homens e mulheres em sua beleza humana – para além de identificações aprisionantes?

Quando é que a dolorosa Guerra dos Sexos – geradora de sofrimento para tod@s/todes – irá finalmente acabar?

Infelizmente, a própria Fernanda não apresenta uma resposta muito otimista.

Desde que li a Beauvoir tendo a concordar: ainda precisaremos de muito tempo, possivelmente séculos, para ir além de discussões sobre gênero e simplesmente vivermos em paz, igualdade.

Mas Fernanda, generosa, deixa uma sugestão para que até lá o percurso seja mais leve:

Cuidemos de nossa autoestima.

Trabalhemos para nos acolhermos, em nossas individualidades, potencialidades e obscuridades.

Se amarmos a nós mesm@s, seremos também melhores em amor aos outr@s. Para além de uma visão restrita envolvendo rótulos.

RESENHA – Na Minha Pele

“Quando você se deu conta de que é branca?”

Esta é uma das questões mais relevantes para reflexão que ficou marcada em mim recentemente, trazida por @olazaroramos, em seu livro “Na Minha Pele”.

Ao mesclar a narrativa de trechos marcantes de sua vida pessoal – a criação na Bahia, a relação com @taisdeverdade, os valores que busca passar aos filhos – aos seus questionamentos enquanto autor, diretor e cidadão negro, ele nos provoca a buscar soluções para uma sociedade mais justa.

Ao admitir que ele próprio, tampouco, possui todas as respostas, enriquece nosso pensamento crítico ao apresentar novas perguntas importantes.

Uma delas:

Como brancas e brancos podem participar ativamente de uma educação antirracista?

Ele sugere leituras como as de “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves e “O Olho Mais Azul”, de Toni Morrison.

Também coloca os questionamentos:

“Como as negras e os negros podem se sentir mais valorizadas(os), acolhidas(os), representadas(os)? Que formato de representatividade é necessário para isso?

Importantíssimos também os pontos do autor acerca da solidão da mulher negra – que hoje ainda é a mais desvalorizada em toda a hierarquia social.

Em geral, recebe menos afeto, menos salário, menos assistência (mesmo na hora do parto, com menos anestesia!)

Como garantir a dignidade da mulher negra?

São questões atuais e urgentes. Agradeço a Lázaro que, por meio de seu livro, as colocou em pauta.

Temos um novo governo começando. Estas questões, agora mais do que nunca, precisam ser pautadas – pelos nossos representantes políticos (por meio de políticas públicas que ajudem a solucioná-las) e por nós, sociedade civil, igualmente.

E você? Tem alguma sugestão acerca delas?

#racismoestrutural#resenhas#leituras2023#racismoestruturalnobrasil#racismoestruturalnao

RESENHA – A Grande Magia

Você já se perguntou de onde as ideias criativas vêm?

Para a escritora @elizabeth_gilbert_writer, elas simplesmente vivem por aí – no ar! – apenas aguardando um momento em que baixemos a guarda, nos permitindo que se expressem.

Seja por meio da música, do desenho, da escrita, da fotografia, ou de qualquer outra manifestação que nos mova.

É sobre isto que versa seu belo livro “A Grande Magia”.

A persistência em permitir que sejamos veículos para a criatividade, deixando de lado os medos dos julgamentos, críticas e, até mesmo, da prisão dos elogios.

Em paralelo, a autora também desconstrói a ideia de que criar é um processo doloroso. Ou de que há certo glamour no estigma d@ “artista criativ@ sofredor@“.

Afinal, se a arte lhe escolher como veículo para se expressar, por que haveria de lhe querer mal? Sem você na equação, como poderia se manifestar?

Super recomendo a leitura, que me fez refletir também sobre formas de tornar meu próprio processo de escrita mais acolhedor, suave e leve – e menos autocrítico.

E você? Como se relaciona com a escrita e a criatividade?

#leiamulheres

RESENHA (Peça de Teatro): O Inverno de Nosso Descontentamento – Nosso Ricardo III

🎭 Shakespeare.

O nome, por si só, carrega peso.

E pesados foram os últimos anos para a população brasileira, em sua maioria. (Lembrando que voltamos em 2021 ao Mapa da Fome, segundo relatório da ONU).

De modo que trazer ao teatro em 2022, ano eleitoral, uma releitura sobre um de seus emblemáticos personagens – Ricardo III – aspirante ao trono da Inglaterra, se mostrou uma iniciativa certeira da Cia Teatro ao Quadrado.

Luciano Abarse (diretor), Marcelo Adams (@marceloadamsteatro) e Margarida Peixoto (@margaridapeixotoatriz) reconstruíram a figura de um vilão que representa, em si, não apenas “Ricardo III”, mas monarcas e genocidas que por eras surgem e ressurgem no mundo.

E perduram somente até dado momento – homens pequenos que são por trás das máscaras autoritárias.

O que lhes sobra? Em seu próprio íntimo, uma incapacidade de conviver consigo mesmos diante da lembrança do sangue que derramaram em seu percalço.

O texto rápido, ágil, tragicômico, em sintonia com os elementos cênicos, traz camadas constantes de intensidade e tensão ao espetáculo.

A meu ver, reflete a confusão mental para a qual líderes autoritários procuram nos submeter (presos em suas próprias distorções psíquicas), utilizando estratégias de discursos genéricos, pouco específicos e contraditórios.

Viva o teatro.

Que nos faz pensar.

Repensar.

Resistir.

Porque o Inverno precisa acabar. Os tiranos sempre caem eventualmente – creio fortemente nisso – mas a cada minuto que estão no poder, vidas são ceifadas.

Então, que caiam rápido.

❤️ Obrigada, Cia Teatro ao Quadrado, pela experiência e por terem me proporcionado uma primeira vivência shakespeariana que ficará na lembrança.

Obrigada @dillymariadocarmo e @chicomarshall pela indicação da peça. E @ccmarioquintana – espaço democrático que é por proporcionar esse tipo de vivência. ☀️

RESENHA – Marte Um (filme)

Senti lágrimas quentes nos olhos – um sentimento misto de tristeza e alegria. Ouvi aplausos da plateia e me juntei a eles.

Os créditos na tela subiam e o coração palpitava. Assim foi o fim da sessão que acompanhei de Marte Um (filme nacional que representará o Brasil no Oscar, dirigido por @gabitomartins). 👏

O longa mineiro conta a história dos Martins – uma família negra de classe média baixa, vivendo em um Brasil governado pelo presidente Jair Bolsonaro. Redundante dizer, portanto, que é um filme pautado na atualidade.

Para o pai, a esperança de vida melhor é que o caçula, Deivinho, seja um jogador de futebol famoso. Talvez a mais ousada – embora não impossível, mas raramente concretizável – idealização de um brasileiro.

Aquilo que move um pai trabalhador “comum” a cumprir outro dia de serviço. A fé no menino. No esporte. No futuro. 🙏🏾

Algo que lhe impede de tomar aquele primeiro gole e recair no alcoolismo. Algo que ele preserva como um ideal, mesmo quando as contas apertam e a rotina se torna mais difícil diante da ascensão de uma extrema-direita.

Só que Deivinho tem planos diferentes….Quer ser astrofísico. Mais especificamente: colonizar Marte.

Mesmo sabendo que ir até lá deve custar “alguns milhões de dólares”. 😅 E, em um misto de ingenuidade infantil com ímpeto da alma (coisa linda de se ver), o menino começa com itens velhos de casa a construir seu primeiro telescópio.

O filme mostra, bravamente, como a política é interseccional ‼️ e, de fato, atravessa diferentes momentos da vida de cada personagem. E, para além do longa, a vida de tod@s/todes nós, creio eu.

Nossa fé, nosso otimismo e humor, nossa forma de comer e de amar. Os atritos do cotidiano, as crenças e os costumes.

Não há como sermos apolíticos, penso. Mesmo não cientes, por vezes, a política nos atravessa.

A tod@s/todes- porque impacta a tod@s/todes. Emocional, financeira, espiritualmente.

Porque não existimos sozinh@s neste mundo. Nem aqui, nem em Marte.

E é direito de todo ser humano viver em paz, sem armas ao redor, com dignidade para sonhar e um horizonte mais concreto que lhe permita realizar.

Em resumo: belíssimo é sensível filme 🎥. Mais um pra gente lembrar da importância do dia 2 de outubro. Escolher bem.

Não só nosso presidente, mas quem vai nos representar neste Congresso onde as decisões efetivamente são tomadas.

Que a gente retome nosso direito democrático de sonhar ❤️ e reconstruir um Brasil para os “Deivinhos”, seus pais e cada um de nós vivermos com mais dignidade.

Nós merecemos isso.

ps: aqui em POA, o filme ainda está em cartaz na Casa de Cultura e no Espaço de Cinema. Corre lá! 🎊

RESENHA – As Inseparáveis

Senti um aperto no peito. Li a última frase com olhos marejados. Sabia que o final ia doer, mas não esperava com tamanha intensidade.

E, aqui para você, não quero dar spoilers. No entanto, preciso recomendar a leitura de “As Inseparáveis”, romance inédito de Simone de Beauvoir publicado no Brasil em 2021.

Espécie de texto autobiográfico, ele versa sobre a relação entre Beauvoir (Sylvie, na ficção) e Zaza (Andrée, na ficção). Como o título sugere: ambas foram amigas de infância e adolescência inseparáveis.

No entanto, entre deveres burgueses, pressões familiares em relação ao casamento e amores dilacerados, Sylvie acaba por ver Zaza entrar em uma espiral de autodestruição que só poderia findar em tragédia.

Simone entendeu, diante da história da amiga, como a cultura mata. Aniquila a vida de mulheres diariamente.

O jornal El País, em razão do lançamento recente da obra, levantou a questão: haveria uma Simone de Beauvoir, esta que nos brindou com O Segundo Sexo – livro que emancipou e emancipa tantas mulheres (e que, penso eu, todas precisam ler) – sem uma Zaza?

Depois de conhecer em detalhes essa história forte, dolorida, mas repleta de doçura pelo desabrochar de uma amizade sincera e verdadeira brilhantemente descrita em palavras, acredito no mesmo.

Obrigada Simone, obrigada Zaza. Pelo seu legado. Por terem sido quem foram. Por continuarem a nos libertar.

Escrevo, também, por vocês. ♥️

RESENHA – A Vegetariana

Me lembro bem do dia: estava na livraria @livrariamegafauna, no Centro de São Paulo, imersa naquele “mar de livros” incríveis.

Por me encontrar sozinha na megalópole e passando por um momento interno intenso de transformações, acho que meu inconsciente me levou à capa deste livro…

“A Vegetariana”.

Folheei algumas páginas, percorri alguns trechos e logo me dei conta: estava diante de uma leitura arrebatadora. Feminista. Doída. Brilhante!

Já havia ouvido críticas positivas, mas não sabia nem se estava pronta psicologicamente para ler a obra inteira.

Deixei passar uns dias….Voltei lá e comprei o romance da autora sul-coreana Han Kang.

Que já inicia com esta premissa forte: uma mulher casada, Yeonghye, tem um sonho ruim envolvendo carne e decide virar vegetariana.

Mas se engana quem julga o livro pelo título e crê que se trata de uma obra intelectual sobre prós e contras desse “lifestyle”.

A meu ver, o ponto central envolve inúmeros mecanismos de controle do sistema patriarcal sobre a mulher.

Versa sobre distintos aspectos de uma sociedade estruturada com base em valores quase que exclusivamente masculinos: poder, virilidade, coerção.

O impacto das figuras masculinas (marido, pai, irmão) no destino devastador de Yeonghye são brutais, dolorosas. E, se eu disser mais, já estou dando spoilers…

A questão que me ficou mais presente é: as opressões contra a mulher na sociedade são tantas que é difícil saber onde começam e terminam.

Às vezes, podem iniciar com coisas pequenas – como a tentativa de controlar e dizer o que temos ou não que comer.

E, se não estivermos atentas, podem levar a extremos – como a doença e a autodestruição.

Ficou curios@? Super recomendo a leitura. Ou, se você já leu, me conta aqui nos comentários o que achou?

RESENHA – A realização espontânea do desejo

👉 Você acredita que, ao lidarmos com o mundo manifesto apenas por meio dos nossos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), estamos percebendo a totalidade do que é a vida?

Quem somos nós, afinal? Somos seres que apenas interagem com o mundo ao acaso? Ou algo mais? Será que podemos criar mundos e realidades?

Sou fã dos livros do @deepakchopra 🤍 e, nesta leitura, ele propõe uma tese que me faz refletir bastante e ecoa com meus estudos de Yoga.

O autor aponta que a realidade manifesta, na verdade, é alicerçada em pensamentos, dimensionados em energias que criam tudo aquilo que é externo, material, palpável.

Segundo ele, a mente é, portanto, a fonte de tudo o que existe no Universo que criamos para nós e ao nosso redor. 🧠

Nós somos uma verdadeira “sopa de energia”. (Você já reparou nisso, provavelmente, ao entrar em uma reunião com clima tão pesado que se podia sentir no ar). A energia se torna densa.

🤓 A própria fórmula de Einstein corrobora a ideia. E (Energia) = M (Massa/Matéria)

✔️ Em resumo: o livro trata de física quântica e expõe a ideia de que, ao percebermos a realidade mais profunda do Universo, somos capazes de identificar pistas, notar “coincidências” e, de certa forma, visualizar que estamos amparados por forças maiores.

Elas estão aí para nos proteger e ajudar a tomarmos decisões que fortaleçam nossa trajetória de vida.

De certa forma, temos poder de receber orientação e também fortalecer nosso mecanismo de tomada de decisões certeiras para que a vida se torne mais fluida, alegre, leve e feliz. 🌷

O caminho apontado para perceber tudo isso com mais clareza? Meditação!

👍 Ainda não terminei a leitura e já estou adorando, por isso decidi compartilhar.

Do mesmo autor, também já li e recomendo os livros:

📚 Você tem fome de quê?
📚 Supercérebro

Você já leu algo do Chopra? Gostou? Ficou com vontade de ler? Me conta nos comentários que vou adorar saber. 🌟

RESENHA – Comunicação Não-Violenta

👉 Você já reparou em como os pequenos diálogos do nosso dia a dia podem ser violentos?

Ou enriquecedores e estimulantes, claro – penso que tudo depende de como nos expressamos.

Acredito que muitos dos maiores problemas em empresas e famílias têm raízes em falhas de comunicação.

Nesse sentido, o livro de Marshall B. Rosenberg foi uma das melhores leituras que fiz na VIDA.

Me abriu os olhos para pontos como:

🔸 Compreender que, ao expormos algo, é interessante que identifiquemos nossas NECESSIDADES.

O ideal não é “acusar” os outros por seus comportamentos que achamos “errados”. Mas, sim, expressar como nos sentimos e sugerir como apreciaríamos que agissem de modo que as necessidades sejam atendidas e a paz prevaleça.

Abrir o diálogo e também ouvir a outra parte envolvida.

🔸 Entender que a RAIVA é provavelmente fruto de necessidades nossas que não estão sendo atendidas;

🔸Perceber que comentários genéricos geralmente são julgadores. “Fulano é feio” (julgamento) é uma percepção pessoal, mas não exprime algo que é necessariamente a realidade.

Comentários mais específicos e que nos incluem na percepção exposta são menos violentos. “A aparência de Fulano não me atrai” (observação).

Isso vale também para elogios: “Beltrana é bonita (julgamento) difere de “A aparência de Beltrana me atrai” (observação).

🔸 Identificar que, mesmo quando não conseguimos nos conectar com palavras, a empatia nos ajuda a ter uma comunicação mais pacífica – observando a postura do outro, seu olhar, seu tom de voz. Isso ajuda a nos conectar.

E você? Já leu o livro? Se sim, o que achou? Se não, ficou com vontade? Me conta nos comentários que vou amar saber. 💜🌷

, você teme o perigo?

peço um expresso
e me expresso
quem diria!
há palavras que podem
nascer dentro de mim
sou mais que uma
massa de carnes e toxinas
além de peles, ossos, costelas
braços, pescoços e pernas
eu sou
Alguém
minha amiga Vitória
disse que depois
de descobrir nossa força
é difícil meter
– ou manter o silêncio
talvez eu vá mesmo
é mover o silêncio
de dentro de mim
para fora
porque a minha caneta
tem voz
e você pode apostar
que será ouvida
– se não calo, falo
e com potência
de Mulher
estou me amando agora
a ponto de estar perigosa
ao sistema.

, e você teme o perigo?