lunar.
é como se todas as dores
que eles já causaram
me atingissem com mais força
nesta lua do mês
e a única forma de me livrar
dos resíduos da destruição
fosse sangrando
pela minha vagina
então eu vivo esse luto
que não é preto
é vermelho
me derramo
porque depois de tudo
sei que estarei recriada
e o que resta
do meu escorrimento
eu doo às plantas
porque é lindo pensar
que a minha morte
pode ajudar outros seres
em seu florescer.
poema escrito originalmente para a Revista Matilda.
20 frases de “Os Miseráveis” que me fizeram refletir sobre trabalho, sociedade e relações humanas
“Enquanto a ignorância e a miséria permanecerem no planeta, haverá necessidade de livros como esse” – Hauteville House, 1862
O ano de 2020 foi extremamente marcante em minha vida. Não só por conta da pandemia.
Como já mencionei em algumas outras postagens, se houve algo de positivo após o colapso do convívio social foi a oportunidade de me reconectar – ainda mais – com os livros.
Foi graças a um desafio literário lançado pelo podcast Tinha Que Ser Mulher que acabei mergulhando na leitura de um calhamaço que se tornou um dos mais fascinantes que já li. Os Miseráveis.
Difícil resumir mais de 1.400 páginas de enorme profundidade filosófica, histórica, religiosa e moral em breves palavras. Inquestionavelmente, mergulhar na narrativa publicada pelo escritor francês Victor Hugo em 1862 me fez repensar sobre inúmeros aspectos da vida em sociedade e da própria existência humana.
Naturalmente, também não poderia deixar de vir aqui compartilhar alguns aprendizados e frases marcantes da obra. Topa mergulhar comigo nas reflexões?
O amor sustenta uma existência
Há muitas frases em Les Mis que versam sobre o amor. Toda a narrativa (que perpassa a história de vida do personagem Jean Valjean) tem a capacidade de amar do ser humano quase como personagem atuante.
Victor Hugo parece querer frisar que uma solução possível para todas as esferas da miséria humana – da material à ética e moral – passa pela aptidão empática e existente em nós de amar.
É o amor que dá sentido a uma vida quando todo o mundo externo assusta e implode. O que me fez pensar: será que no contexto de nossa realidade cada vez mais acelerada e tecnológica, ainda encontramos tempo de amar?
Indo além…o que vai sobrar do tecido da nossa vida quando não mais estivermos aqui, se não deixarmos uma marca de amor no coração de alguém? São questões sobre as quais refleti e ainda pondero hoje.
Não basta dar “emprego” – é necessário dar dignidade ao ser humano
Tendo a Revolução Francesa e seus ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade como pano de fundo de alguns acontecimentos centrais, Os Miseráveis também nos impele a ponderar sobre problemas de cunho social e trabalhista que culminam em conflitos.
Ao traçar um paralelo com a realidade atual, como a desigualdade social no país vem aumentando – tendo se acentuado ainda mais com a pandemia -, novamente pensei mais a fundo sobre a importância da equidade.
No contexto de Brasil em que vivemos, necessitamos começar a refletir mais não apenas sobre como empregar pessoas ao invés de robôs. Mas, principalmente, em como gerar cargos e empregos dignos, que viabilizem a evolução humana.
Um salário não basta para formar intelectualmente um cidadão. Se queremos uma sociedade com menos criminalidade e brutalidade, precisamos desenvolver as pessoas. Ajudá-las a terem a capacidade de evoluir até o alcance de seu pleno potencial.
20 frases do livro “Os Miseráveis” para pensar além
O que compartilhei até aqui foram algumas de minhas percepções pessoais acerca da obra-prima de Victor Hugo. Abaixo, traduzi da versão em Língua Inglesa mais 20 trechos que aparecem no livro para que você leia, releia, questione e aprofunde.
Espero que goste:
“Amar ou ter amado. Isso é o suficiente. Não peça nada mais. Não há outra pérola a ser encontrada nas dobras escuras da vida. O amor é uma consumação.”
“Vamos compreender melhor o que diz respeito à equidade, pois se a liberdade é o cume, a equidade é a base; (…) civilmente, ela é todas as aptidões tendo iguais oportunidades; politicamente, todos os votos tendo o mesmo peso; religiosamente, todas as consciências tendo direitos iguais.”
“Se salvar pelos meios que lhe arruinaram, essa é a obra-prima dos grandes homens.”
“Viajar é um constante nascer e morrer.”
“A maior felicidade da vida é termos a convicção de que somos amados.”
“Com os olhos fechados é a melhor forma de olhar para uma alma.”
“Pobres daqueles que só amam corpos, formas e aparências. A morte levará tudo deles. Procure amar almas, você as encontrará de novo.”
“Monstros se incomodam facilmente.”
“Destrua o buraco Ignorância e você destruirá a toupeira Crime. O único perigo social é a escuridão. (…) Humanidade é similaridade. Todos os homens são a mesma argila. Não há diferença, aqui na Terra ao menos, por predestinação. A mesma escuridão antes, a mesma carne durante, as mesmas cinzas depois. Mas a Ignorância, mesclada com a composição humana, escurece essa percepção. É assim que a Ignorância possui o coração do homem e, daí, surge o Mal.”
“Diante daqueles cujo olhar não tem luz, reflita e estremeça. A ordem social tem seus mineiros sombrios. Há um ponto em que minar torna-se um sepultamento e toda a luz se vai.”
“Um cético cedendo a um crente é algo tão simples quanto a lei das cores complementares. O que nos falta nos atrai. Ninguém ama a luz como um homem cego.”
“O deleite que inspiramos nos outros tem esta encantadora peculiaridade: longe de ser diminuído como qualquer outro reflexo, ele retorna a nós mais radiante do que nunca.”
“É estranho como uma consciência clara resulta em uma geral serenidade.”
“Sobre métodos para se rezar, todos são bons, desde que sejam sinceros. Feche este livro e você está no infinito.”
“Este é, na verdade, o mais desastroso dos sintomas sociais: todos os crimes do homem começam com a vadiagem na infância.”
“Certamente nós falamos conosco mesmos; não há um ser pensante que não tenha experimentado isso. Alguém até poderia dizer que a palavra é um mistério ainda mais magnífico quando, dentro de um homem, ela viaja de seu pensamento até a consciência, e retorna da consciência ao pensamento.”
“A lei sagrada de Jesus Cristo governa nossa civilização, mas não a penetra. Eles dizem que a escravidão desapareceu. Isso é incorreto. Ela ainda existe, mas agora pesa especialmente sobre a mulher e se chama prostituição.”
“Em cidades pequenas, uma mulher desafortunada parece estar completamente nua diante do sarcasmo e da curiosidade de todos. Os maliciosos têm uma obscura felicidade (…) E algumas pessoas são maldosas pela simples necessidade de falar.”
“Ensine aos ignorantes tanto quanto puder; a sociedade é culpada por não prover educação universal gratuita, e deve responder pela escuridão que produz. Se uma alma é deixada na escuridão, pecados serão cometidos. E a responsabilidade não é de quem comete o pecado, mas daqueles que causam a escuridão.”
“Ser perverso não garante prosperidade.”
E você? Já leu Os Miseráveis ou ficou com vontade de mergulhar na obra? Fique à vontade para compartilhar suas percepções comigo aqui nos comentários. Vou adorar saber. 🙂
Quer ler mais?
Confira meus títulos publicados:
E-book de Poesias “Fragmentos.”
Livro Virtual “O Nascer da Escrita: encontre sua voz (e a de seus clientes) por meio das palavras.”
a Natureza e eu.
amor de quarentena.
o que a arte faz.
sobre escrita, Natal e doar palavras.
Quando escrevo, gosto de pensar que minhas palavras são como sementes.
Planto, boto no papel e depois espalho por esse “terreno” chamado internet, esperando que sejam férteis. Que cheguem às pessoas certas, no momento certo.
Faço isso porque acredito que palavras têm potência. São capazes de deixar marcas que transcendem o tempo. Principalmente se carregarem amor.
Foi refletindo sobre tudo isso que decidi escrever sobre duas ideias que me ocorreram ontem:
1º – Neste Natal, escreva algo para quem você ama. Um bilhete, uma carta. Expresse o que está no seu coração. No papel ou por e-mail mesmo, se o Covid não permitir contato.
2º – Se você deseja presentear alguém com algo além das suas palavras, dê também outras palavras de presente. Ofereça um livro, uma obra que realmente acredite que é capaz de impactar profundamente a vida da pessoa.
Meu 2020, enquanto escritora, foi muito sobre isto: tentar “presentear” as pessoas com um pouco do que sei oferecer. Palavras.
Por isso, também decidi disponibilizar até dia 31 de dezembro o meu E-book de poesias e fotografias, “Fragmentos”, com 50% de desconto.
Basta inserir o cupom AMOR-2020 ao finalizar a compra: https://bit.ly/fragmentos-livro-
Que as palavras alimentem nosso Natal e o ano novo que chega. ♥️
carta a mim mesma.
Eu te perdoo. Por se desculpar demais e por não se desculpar às vezes.
Te perdoo pelas agressões, pelos limites que ultrapassei. Te perdoo pelas comparações, medos, excessos cometidos.
Por às vezes amar demais e às vezes silenciar o coração.
⠀⠀⠀
Te perdoo porque descobri que, assim como sempre perdoou aos outros, és capaz de estender esse amor também a ti. E porque és merecedora de tudo.
Não esquece, não: corpo, mente e consciência não precisam ser um campo de batalha.
(escrevi pra mim, mas dedico a todas as mulheres – 2020 foi ainda mais foda para nós. sejamos carinhosas conosco mesmas. 🤍)
Quando deixo a superfície
As nuvens passavam, eu pensava sobre profundidade.
E me assustava. Talvez diante da ideia de jamais encontrar alguém capaz de mergulhar tão fundo na vida comigo.
Por que não me contento com o banal?
Tentei. Sei bem que tentei. O problema é que já não me percebo capaz de habitar contextos em que as conversas são tão iguais.
Tudo é trabalho, política, dinheiro, meta. Investimento, plano, matéria.
Concreto. Lucro.
Só que eu queria falar das flores. Dos contornos. Das sombras que formam desenhos nas paredes.
Daquilo que gostaria de fotografar. De arte. De morte e vida também.
Música. Poesia.
Por que o abstrato não interessa a ninguém? Só por que não é produtivo?
Bem, este é meu coração.
Tentei congelá-lo para me adequar ao sistema. O problema é que cada dia tinha um resquício de suicídio.
Estava desnutrida de existir.
Foi contemplando as ondas do mar em Garopaba, meu lar de alma, que finalmente entendi.
Nós somos como as ondas. Estas, que batem em uma rocha e, no instante seguinte, já desaparecem.
“Como podemos ser tão frágeis?”, refletia.
Em essência, não somos. É só que todo externo se vai rápido.
Hoje sinto compaixão.
De quem vive no raso sem saber que, no fundo, já está morto.
Se você não contempla, não existe.
Desculpe a profundidade.
Aliás, desculpe não.
Só sei ser assim. E não peço mais perdão por isso.
Aqui o espaço para quem faz questão de ficar na margem acabou.
Porque já mergulhei onde não dá pé faz tempo.