amor de quarentena.

o que a arte faz.

sobre escrita, Natal e doar palavras.

Quando escrevo, gosto de pensar que minhas palavras são como sementes.

Planto, boto no papel e depois espalho por esse “terreno” chamado internet, esperando que sejam férteis. Que cheguem às pessoas certas, no momento certo.

Faço isso porque acredito que palavras têm potência. São capazes de deixar marcas que transcendem o tempo. Principalmente se carregarem amor.

Foi refletindo sobre tudo isso que decidi escrever sobre duas ideias que me ocorreram ontem:

1º – Neste Natal, escreva algo para quem você ama. Um bilhete, uma carta. Expresse o que está no seu coração. No papel ou por e-mail mesmo, se o Covid não permitir contato.

2º – Se você deseja presentear alguém com algo além das suas palavras, dê também outras palavras de presente. Ofereça um livro, uma obra que realmente acredite que é capaz de impactar profundamente a vida da pessoa.

Meu 2020, enquanto escritora, foi muito sobre isto: tentar “presentear” as pessoas com um pouco do que sei oferecer. Palavras.

Por isso, também decidi disponibilizar até dia 31 de dezembro o meu E-book de poesias e fotografias, “Fragmentos”, com 50% de desconto.

Basta inserir o cupom AMOR-2020 ao finalizar a compra: https://bit.ly/fragmentos-livro- 

Que as palavras alimentem nosso Natal e o ano novo que chega. ♥️

carta a mim mesma.

Eu te perdoo. Por se desculpar demais e por não se desculpar às vezes.

Te perdoo pelas agressões, pelos limites que ultrapassei. Te perdoo pelas comparações, medos, excessos cometidos.

Por às vezes amar demais e às vezes silenciar o coração.
⠀⠀⠀
Te perdoo porque descobri que, assim como sempre perdoou aos outros, és capaz de estender esse amor também a ti. E porque és merecedora de tudo.

Não esquece, não: corpo, mente e consciência não precisam ser um campo de batalha.

(escrevi pra mim, mas dedico a todas as mulheres – 2020 foi ainda mais foda para nós. sejamos carinhosas conosco mesmas. 🤍)

Quando deixo a superfície

foto sob perspectiva de cima das ondas batendo no mar

As nuvens passavam, eu pensava sobre profundidade.

E me assustava. Talvez diante da ideia de jamais encontrar alguém capaz de mergulhar tão fundo na vida comigo. 

Por que não me contento com o banal? 

Tentei. Sei bem que tentei. O problema é que já não me percebo capaz de habitar contextos em que as conversas são tão iguais.

Tudo é trabalho, política, dinheiro, meta. Investimento, plano, matéria.

Concreto. Lucro.

Só que eu queria falar das flores. Dos contornos. Das sombras que formam desenhos nas paredes.

Daquilo que gostaria de fotografar. De arte. De morte e vida também.

Música. Poesia.

Por que o abstrato não interessa a ninguém? Só por que não é produtivo?

Bem, este é meu coração.

Tentei congelá-lo para me adequar ao sistema. O problema é que cada dia tinha um resquício de suicídio. 

Estava desnutrida de existir.

Foi contemplando as ondas do mar em Garopaba, meu lar de alma, que finalmente entendi.

Nós somos como as ondas. Estas, que batem em uma rocha e, no instante seguinte, já desaparecem.

“Como podemos ser tão frágeis?”, refletia.

Em essência, não somos. É só que todo externo se vai rápido.

Hoje sinto compaixão. 

De quem vive no raso sem saber que, no fundo, já está morto.

Se você não contempla, não existe.

Desculpe a profundidade.

Aliás, desculpe não.

Só sei ser assim. E não peço mais perdão por isso.

Aqui o espaço para quem faz questão de ficar na margem acabou.

Porque já mergulhei onde não dá pé faz tempo.

a beleza do caos.

imagem com o texto: "Ser furacão e calmaria nem sempre é fácil. Mas já descobri que existe beleza nesta fusão".

Monólogo interno

obra de arte feita com teias metálicas com uma menina sentada ao fundo

“Ninguém iria notar se você simplesmente desaparecesse e nunca mais escrevesse nada.”

“Como você foi capaz de cometer um erro de português tão idiota naquele artigo?”

“Você está passando vergonha se acha que vai chegar a algum lugar com um blog estúpido.”

Essas eram as linhas da batalha interna, o discurso torturante de minha mente contra mim mesma no último fim de semana.

Decidi reler e revisar alguns dos artigos, poemas e textos que postei desde que criei  coragem de expor minhas palavras na internet e nas redes sociais.

O resultado foi o recém mencionado monólogo silencioso e autodepreciativo comigo mesma.

Às vezes é assim: minha mente começa a falar coisas horrendas e simplesmente se recusa a parar. Algo em mim – talvez uma consciência mais elevada – buscava contra-argumentar.

“Mas houve tantos textos sem nenhum erro.”

“Tantas pessoas já comentaram que gostaram do livro e foram tão carinhosas em comentários por aqui. Algumas até escreveram para dizer que você as inspira!”

“Você chegou até a dar entrevistas para podcasts este ano falando sobre o seu trabalho.”

Parecia não importar. Meu cérebro já havia decidido me machucar.

Não foi a primeira vez que aconteceu. Também duvido que será a última.

Porém, nos últimos tempos descobri algumas formas de encontrar respiro em meio a esse filme de terror que por vezes se instala internamente aqui.

O patriarcado tem culpa, sim.

Na verdade, diria que a grande transformação tem sido compreender melhor o porquê se desencadeia esse processo de descida ao inferno da impostora dentro de mim.

O patriarcado é a primeira razão. Isso não é “mimimi” ou vitimismo. 

Acontece que todas as mensagens subliminares da sociedade gritam à mulher: “você só merece um lugar de destaque se for perfeita – física e intelectualmente. Nada menos que perfeita.” (Naomi Wolf explica bem a construção de tal mecanismo em “O Mito da Beleza”, recomendo a leitura). 

Aí já está o primeiro entrave. Afinal, a perfeição é uma exigência muito elevada. Errar é premissa básica de ser humano.

Então, com suas narrativas, a sociedade ocidental forja dentro do inconsciente feminino esta mensagem: “não adianta nem tentar. Esconda-se. De preferência, no vazio invisível do trabalho doméstico.”

Essa lógica foi embutida a fórceps dentro de mim pela mídia, pela disparidade salarial, por todo o contexto que me cerca – e olha que, dentro de casa, tive uma criação muito livre, nunca fui encaixada em um estereótipo pelos meus pais, por exemplo.

Buda também estava certo: domine sua mente, ou ela o dominará

A segunda razão é que a mente tem mesmo essa tendência de não parar de falar quando se apega a determinado assunto. Aí só Yoga entra mesmo para me salvar.

Somente a respiração, o centramento, a meditação são capazes de me fazer perceber que quando algo dentro de mim está tagarelando maldades, muito provavelmente, é a minha mente. Esta, condicionada por conceitos e pressões sociais, que não é a minha verdadeira essência.

A prática diária me fez compreender, como diz minha professora Maria Nazaré Cavalcanti, que a mente é nada mais que uma bailarina tímida. 

Quando elevamos a consciência pela prática, ela se aquieta. É aí que mora a liberdade. Só assim a batalha interior finda.

E por que decidi partilhar um artigo sobre isso?

Porque imagino que você – especialmente se for mulher nesta sociedade machista – já deixou de fazer algo que gosta, ou até de acreditar e bancar alguns de seus sonhos, por conta desse tipo de tortura mental programada como um software de computador.

Portanto, queria frisar aqui:

  1. Você não está sozinha;
  2. Você não precisa ser perfeita;
  3. Não deixe de percorrer seu caminho e fazer o que ama por conta desse peso;
  4. Cerque-se de pessoas que elevam sua autoestima – e não o contrário;

De minha parte, o que posso dizer é que também não vou ceder à mente. Vou continuar aqui.

Rabiscarei minhas palavras e as deixarei soltas ao vento, partilhando um pouco do que acredito com o mundo. 

Mesmo sabendo que não serei perfeita. Nem tendo certezas absolutas sobre para onde o caminho me levará.

Sei que vou errar. Talvez seja criticada. Ou mesmo ignorada.

Ainda assim… Não. Vou. Parar. Porque hoje reconheço que meu processo nunca foi sobre a chegada. Ele tem sido sobre estar em movimento.

Não deixe esta sociedade doente, preconceituosa e julgadora destruir seu sonho. Qualquer que seja.

Parafraseando Emicida:

“Você é o(a) maior representante do seu sonho na face da Terra”.

Não esqueça disso quando estiver em uma das suas batalhas internas.