, isso é a minha poesia

tudo o que
eu queria explicar
mas não consigo
tudo o que
eu queria dizer
mas tenho receio
tudo que eu queria curar
mas sou incapaz
todo grito abafado
meu e de todas
as mulheres

, mantenha seu coração intacto

se você conseguir
permanecer com
uma alma leve e gentil
mesmo diante
das opressões diárias
poderá até mesmo
transcender essa loucura
que criamos e chamamos
de capitalismo

, hora de despertar

quem foi que me convenceu
de que meu corpo é feio?
de que não são suficiente?
de que sou insignificante?
de que meu intelecto é menos
válido que minha aparência
quem foi que me convenceu
de que sou menos
só por ser mulher?

, curas subjetivas

a arte
atravessa oceanos
transpõe o próprio tempo
e toca o coração
de cada pessoa
com profundidades
que a mente
mal é capaz
de compreender

, o amor não mata

sim, sou feminista
não, não odeio homens
eu os amo profundamente
o que realmente abomino
é a masculinidade tóxica
que emburrece, adoece
aliena e mata
as minhas irmãs
mata – do verbo matar

– paz

ninguém nos conta isso
mas ‘Deus’ está sempre
pertinho de nós
experimente apenas
desligar as luzes um pouco
e mergulhar naquela
sua música favorita
ele – ou ela – te espera ali.

– como eu quebro

não sei me doar
em pequenos pedaços
quando me entrego
faço-o inteira
a questão é que assim
às vezes não sobra
nenhuma parte
para mim mesma.

– nós podemos brilhar

o que me move adiante
é sentir que por trás
de toda a dúvida
de todo o medo
de toda a tristeza
há uma luz que brilha
e não se apaga nunca
se eu apenas fizer
um pacto comigo mesma
de mantê-la acesa.

– o que nos destrói

eu não teria nenhum problema
com os padrões de beleza
se eles não estivessem
basicamente nos matando
dói meu coração quando vejo
mulheres irmãs absolutamente lindas
se sentindo tristes e feias
maltratando seus corpos
como se fossem coisas
apenas para exibi-los
a olhares maldosos que julgam
caso você já tenha se odiado
em algum momento deste dia
eu te peço, por favor,
ame-se e liberte-se
você é bonita porque a beleza
só pode vir de dentro
quem quer que venda o oposto
é que está mentindo.

a beleza do desespero.

o meu choro
é o de quem sente
tudo está no ser
o êxtase e a dor
o ganho e a perda
a vida e a morte
eu vivo em mim e sinto tudo
percebo ciclos
identifico padrões
e, acima de tudo, sigo
talvez até as lágrimas me enfeitem
deixem meu rosto molhado
pela essência da verdade
a crueza de sentir
que nunca pede licença
simplesmente transborda
mas ainda me faz ter certeza
de que mesmo na confusão
vivo, respiro
e estou aqui.