eu não teria nenhum problema
com os padrões de beleza
se eles não estivessem
basicamente nos matando
dói meu coração quando vejo
mulheres irmãs absolutamente lindas
se sentindo tristes e feias
maltratando seus corpos
como se fossem coisas
apenas para exibi-los
a olhares maldosos que julgam
caso você já tenha se odiado
em algum momento deste dia
eu te peço, por favor,
ame-se e liberte-se
você é bonita porque a beleza
só pode vir de dentro
quem quer que venda o oposto
é que está mentindo.
a beleza do desespero.
o meu choro
é o de quem sente
tudo está no ser
o êxtase e a dor
o ganho e a perda
a vida e a morte
eu vivo em mim e sinto tudo
percebo ciclos
identifico padrões
e, acima de tudo, sigo
talvez até as lágrimas me enfeitem
deixem meu rosto molhado
pela essência da verdade
a crueza de sentir
que nunca pede licença
simplesmente transborda
mas ainda me faz ter certeza
de que mesmo na confusão
vivo, respiro
e estou aqui.
como nasce a empatia.
diariamente
quando o amor cresce
dentro de mim
e também por mim
cada vez mais
sou capaz de compreender
perdoar, entender e amar
também as outras pessoas.
quem te olha e vê?
algo em mim mudou
desde aquela primeira
troca de olhares
quando ela enxergou
algo além da superfície
e mergulhou no oceano inteiro
ela me olhou
mas foi mais que isso
ela realmente me viu
e ser vista muda tudo.
nuances.
é meio complexo
de se compreender
mas justo nos dias
mais doloridos e vulneráveis
que a vida nos brinda
com a oportunidade
de evoluirmos para conhecer
as nuances mais elevadas
de nós mesmos.
paciência.
paciência é
chorar, esperar e saber
que o mundo não vai mudar
da noite para o dia
mas aguardar e lembrar
que cada amanhecer
é uma oportunidade
da gente se transformar
com amor e aos poucos
no nosso tempo.
porque não me calo.
eles me crucificaram
a sociedade
com seus padrões e pressões
pelo perdão
me libertei da carga da raiva
mas jamais esqueço
a violência cometida
tendo falhado
em me executar
sem querer eles me deram
capacidade de autoexpressão
me brindaram com aquilo
que mais temiam conceder
a uma mulher:
voz.
lunar.
é como se todas as dores
que eles já causaram
me atingissem com mais força
nesta lua do mês
e a única forma de me livrar
dos resíduos da destruição
fosse sangrando
pela minha vagina
então eu vivo esse luto
que não é preto
é vermelho
me derramo
porque depois de tudo
sei que estarei recriada
e o que resta
do meu escorrimento
eu doo às plantas
porque é lindo pensar
que a minha morte
pode ajudar outros seres
em seu florescer.
poema escrito originalmente para a Revista Matilda.
a Natureza e eu.

amor de quarentena.
