É possível evitar a Guerra? Eis uma pergunta-legado do filme “Golda: A Mulher de Uma Nação”

Trailer: Divulgação/Diamond Films

“Golda: A Mulher de Uma Nação” apresenta a brilhante Helen Mirren no papel de Golda Meier  – Fundadora e Ex-Primeira Ministra de Israel. 

Vemos, no decorrer do longa, a “Dama de Ferro israelense” (como a crítica avaliou) conduzir sua nação – coordenando a inteligência e a Força Militar – durante a Guerra do Yom Kippur (1973). Isto quando Egito e Síria atacaram Israel de surpresa no Dia do Perdão, um feriado religioso, deixando um saldo de mais de 2.500 israelenses mortos durante 19 dias de conflito.

Em sintonia com o jogo político, econômico e religioso que se estrutura – envolvendo também o Sionismo (a luta do povo judeu pelas terras de Israel) – o diretor israelense radicado nos Estados Unidos, Guy Nattiv, nos leva também aos bastidores das guerras “interiores” das personagens. Sobretudo, no que diz respeito às mulheres.

A de Golda, que se mantém firme diante das lideranças, mas, nos bastidores do “jogo de xadrez” , ainda age de forma autodestrutiva consumindo doses elevadas de cigarros e xícaras de café. Isto ainda em meio a sessões de radioterapia para um câncer que trata escondida. 

Também a de uma mãe, no papel de secretária, que datilografa as atas das reuniões políticas, sabendo que seu filho está na linha de frente de combate e será diretamente impactado pelas decisões ali tomadas. Seu drama – entre a documentação de fatos e lágrimas – traz a dimensão ainda mais tangível do impacto da Guerra sobre a vida humana.

Assim, imerso em uma fotografia de atmosfera sempre cinza e melancólica, o longa nos deixa algumas “perguntas-legado”, como referenciei no início deste texto:

  • Afinal, é possível evitar a Guerra? 
  • Por que o diálogo entre nações, tantas vezes, só se torna possível APÓS mortes e ameaças? Não seria melhor à humanidade poupar as vidas que se perderam antes?
  • Ao se considerar a trajetória política de uma mulher, de que modo seus sacrifícios pessoais em favor de uma nação se aprofundam ainda mais?

São alguns dilemas provocados. Em especial, quando o roteiro traz frases marcantes atribuídas a Golda. Por exemplo: “saber quando se está perdendo é fácil, difícil é saber quando se está ganhando”.

Em minha opinião particular, a Guerra – independentemente do lado vencedor – é, de algum modo, uma derrota. Quando o inconsciente triunfa em relação ao consciente e as trevas da psique humana ofuscam a luz, enfatizando todo o horror que gera a impossibilidade de uma comunicação humana não-violenta.

Isto, ainda, arrastando consigo um saldo negativo de valor inestimável e um lastro de dor irreparável. Aquele da perda de vidas. Portanto, não sei se seria possível evitá-la. Mas, como escreve Freud em “A Interpretação dos Sonhos”, em uma sociedade civilizada, “a tarefa da humanidade é evoluir”.

Se não for possível evitar a Guerra ainda por completo, então, que possamos seguir ao menos nortead@s por este ideal. Como? A partir da autoanálise, do autoacolhimento e da empatia para com as outras pessoas.

Por fim, creio que sim: as mulheres na política – como em outras profissões e diversos aspectos da vida em sociedade -, tendem a um sacrifício maior de suas vidas para ocuparem qualquer espaço de poder.

A começar pelo simples fato de sustentarem um lugar que não costumava ser legitimamente por elas ocupado – ainda que seu pulso seja firme e sua posição, respeitada. Tanto é que, nos momentos em que a “Síndrome da Impostora” atacava Golda, era Lou Kaddar (sua amiga e assistente, vivida pela atriz Camille Cottin), quem a acolhia.

Em minha percepção, uma prova de que, no que se refere às mulheres, só conseguimos ocupar espaços de poder se estivermos de mãos dadas, firmes e unidas.

E tu? Conseguiste acompanhar o filme? Se quiseres, sinta-se à vontade para deixar tua opinião nos comentários. 

Resenha – Filme “A Baleia”

ator Brendan Fraser com expressão triste e agoniada no filme "A Baleia"

Foto: A24/Divulgação

Até que ponto pode chegar o ódio por nós mesm@s?

Para mim, esta é a pergunta-legado do novo filme de Darren Aronofsky – diretor que figura na lista dos meus favoritos -, chamado “A Baleia”.

No longa, uma de suas mais recentes críticas ao modelo norte-americano capitalista de sociedade, deparamos com um personagem protagonista empenhado em um processo (que por vezes parece consciente, em outras não) de completa autodestruição pelo ato de comer compulsivamente.

Em minha percepção, o “comer compulsivo”, embora literal, é, no entanto, também uma simbólica metáfora pela busca de nutrir um buraco mais profundo deixado pelo vazio existencial e um vibrante, potente, irrefreável sentimento de culpa. Esta, motivada por uma série de razões que, no decorrer do longa, tornam-se mais nítidas.

Entre elas, questões demasiadamente humanas e atuais: “fracasso” na relação matrimonial, dificuldades na relação parental, um amor homossexual tido pela sociedade – e a religião, em especial – como “errado”. Religião esta, aliás, que, diante de seu próprio feito de destruição psíquica, parece depois querer enviar “mensageiros” dispostos a corrigir os danos por ela mesma criados. 

O filme apresenta discussões que podem se estender por horas em distintas direções, permeando temas como o surgimento de seitas, os danos em potencial causados pelo teletrabalho, a dificuldade em se estabelecer um diálogo não-violento nas relações, o distanciamento social, o sedentarismo e a ascensão de ideologias de extrema-direita.

O que se pode constatar ao longo do filme, sobretudo, é que observar alguém em processo autodestrutivo, como já evidenciou Aronofski em outras de suas obras, simboliza uma das mais doloridas experiências humanas. 

A agonia talvez seja proveniente justamente pela constatação de por vezes ser impossível para alguém de fora refrear no outro esta necessidade tão mórbida de se punir. O trunfo final da obra é, em minha percepção, escancarar a questão: até que ponto cabe a nós decidirmos por outro alguém seu direito de viver e morrer? E como isso se dará?

 É legítimo acolher o suicídio (consciente ou inconsciente) de alguém, quanto este alguém escolhe ir? Ir é, afinal, uma escolha? Já não estamos todes indo, de todo modo, em direção à morte?

Talvez o que nos caiba, sobretudo, é cuidarmos também um pouco mais de nós mesmos. Isto é um modelo de autoamor.

Afinal, como em dado momento constata o personagem, o desejo de ajudar ao outro já é inerente ao ser humano – embora, muitas vezes, seja justamente aí que “passamos os pés pelas mãos”. 

Quanto ao outro, portanto, talvez procurar causar o mínimo de dano possível já seja um imenso trabalho. Um pouco de estrago, sob a perspectiva de Aronofski, possivelmente seja inevitável.

Mas que possamos amar a nós mesm@s, então, pode ser o mais próximo a uma mensagem de esperança deixada pelo diretor. A possibilidade de amparar outro alguém só é possível quando também nos amparamos.

E você? Acompanhou o filme? Sinta-se livre para expressar sua opinião nos comentários.

RESENHA – Livro “Uma Duas”

Terminei de ler “Uma Duas”, de Eliane Brum, depois de um dia de faxina. Externa e interna.

Lavei roupas e louças pensando se haveria uma forma mais suave de fazer aquilo. Algo que fizesse as coisas durarem mais.

Mas a crueza de minha percepção se alinhou ao estarrecimento diante das últimas páginas do livro. Sim, procurar mais delicadeza é sempre possível. No entanto, em algum momento, na vida, tudo vai se desgastar de qualquer forma.

Foi o que me fez constatar a narrativa tecida pela jornalista, revisitando uma relação conturbada entre mãe e filha. Isto, ainda, diante de uma observadora exigente, que explicita com urgência esta impossibilidade de cessar o fim de uma existência sem nenhum arranhão.

A Morte.

Importante dizer: uma narrativa apresentada na versão de ambas: Eliane, em sua imensa generosidade, escancara em palavras dois lados de uma história marcada por amor e dor. A da mãe. A da filha.

É uma trama, a meu ver, de tom psicanalítico e social. Duas vertentes que se cruzam de certa maneira, prendendo atentamente quem lê. Porque são palavras que falam de nós. Mulheres. Homens. Pessoas.

Para ir mais além do raso, a grande beleza da história de Eliane, em minha percepção, é levantar questões pessoais – transpondo-as ao coletivo.

  • Onde começam e terminam nossos corpos?
  • Como a presença de nossos genitores em nós nos torna seres sociais – em termos positivos e negativos? O quanto nos ajuda? O quanto nos destrói?
  • Como experiências de abuso afetam estas percepções?

São perguntas-legado do livro de Eliane. Perguntas que, em meu entendimento, são urgentes que façamos ainda em vida.

Antes da morte nos olhar pelo canto do olho, derrubando falsas ilusões e alienações esmagadoras.

Afinal, como a autora escreve, “a morte encerra todos os jogos”. E, mesmo quando não aparece de modo iminente, sua temática necessita se fazer presente em nosso existir.

A vida, afinal, só ganha perspectiva diante de um contemplar da Morte, penso.

A ti que me lês, recomendo uma vírgula: aprofundar estas questões, seguir a reflexão. E, claro, em especial sugiro a leitura de “Uma Duas”, disponível pela Arquipélago Editorial.

RESENHA – Filme “Close”

Cena dos amigos Léo e Remi no filme Close. Um está ao lado do outro, com as cabeças próximas. Léo olha para frente - direcionando o olhar a outra pessoa. Remi também, mas com a cabeça de modo mais lateral.

Foto: A24/Divulgação

“De repente a gente vê que perdeu ou está perdendo alguma coisa…morna e ingênua que vai ficando no caminho.

Que é escuro e frio, mas também bonito, porque é iluminado pela beleza do que aconteceu há minutos atrás”.

Os versos são de Ney Matogrosso. Me vieram à mente ao relembrar o filme francês “Close”, dirigido por Lukas Dhont.

Um longa lindamente triste. Tristemente lindo. Nele, plantações de flores mimetizam ciclos de vida, morte, perdas e renascimentos – acompanhando a trajetória de dois amigos de infância, Léo e Remi.

Cena após cena, o(a) espectador(a) se vê tensionado a refletir:

Quando é que morre a inocência em uma criança? E quando esta “morte” se torna tão abrupta a ponto da dor de seguir vivo parecer insuportável?

Talvez seja esta a grande questão proposta pela narrativa.

É extremamente angustiante ver a amizade e sensibilidade entre dois amigos ganhar ares de malícia e passar a ser alvo de bullying.

Por que e como ainda permitimos que a cultura de nossa sociedade destrua a pureza das relações pela imposição de comportamentos idealizados por papéis de gênero?

Assim como mencionei que o filme “A Primeira Morte de Joana” apresenta este debate enfocando na relação entre duas meninas, acredito que “Close” nos permite analisá-las no contexto da relação entre dois meninos.

Tais reflexões são pontos-chave para compreendermos a violência mortal que espreita os jovens também nas escolas do Brasil.

Particularmente, creio cada vez mais que a violência começa pela morte do “sentir”.

Toque. Olhar. Afeto. Proximidade. São expressões de humanidade. E não podem ser perdidas pelo temor à sexualidade.

RESENHA – Filme “A Primeira Morte de Joana”

cena do filme "A Primeira Morte de Joana", uma menina sopra levemente o rosto da outra

Você quer entender o que acontece com jovens e crianças no Brasil?

Eu quero. Ainda machuca a lembrança dos atentados que vimos acontecer em escolas do país neste ano.

Para onde caminhamos na educação? E por quê?

Mais uma vez, a arte pode trazer pistas.

Acompanhei recentemente uma exibição do filme “A Primeira Morte de Joana”.

A história narra a trajetória de Joana e Carol – duas amigas que frequentam a mesma escola no interior do Rio Grande do Sul.

👇 Temas muito atuais permeiam o enredo:

🔸 machismo estrutural escancarado (o que “gurias” não podem fazer e “guris” podem)
🔸 sexualidade como “tabu” (tema pouco abordado em casa e na escola)
🔸influência cada vez mais notória da religião no contexto familiar e escolar
🔸 bullying escolar por parte de outr@s jovens que, talvez por medo e repreensão dos próprios pais, são incapazes de aceitar qualquer expressão do “diferente”

Um filme que causa tristeza, mas também aponta caminhos envolvendo a beleza da sensibilidade que Joana e Carol se descobrem capazes de preservar pelo olhar, o toque, a diversão inocente – mesmo entre brigas e reconciliações comuns a esta fase da vida.

Há sempre esperança.

Mas, para que esta permaneça acesa, a arte há de se preservar viva.

É o que se passa diante dos olhos de quem acompanha o desabrochar das protagonistas em meio à observação dos cataventos de Osório, que rodam incessantemente marcando a passagem de um tempo… A juventude!

Esta tão decisivamente penetrante no íntimo para a formação psíquica do ser adulto posterior. E que merece atenção e olhar atento, amoroso e afetuoso.

Agradecimento especial à Paula Taitelbaum pela indicação do filme. Recomendo que você também acompanhe.

A relação completa de todas as salas está disponível em @aprimeiramortedejoana

Foto: Okna Produções/Divulgação

RESENHA – Abra e Leia

Um dos aspectos mais belos do ato da escrita, a meu ver, é a possibilidade de eternizar o cotidiano em palavras.

“Abra e Leia”, livro de contos de Milton Ribeiro (Editora Zouk, 2021) é exatamente isto: um presente elegante que, ao ser desembrulhado, traz histórias que provocam lágrimas, riso, reflexão social, alívio à mente.

Também uma importante lembrança de que a vida “comum” é, em verdade, uma profusão borbulhante de pequenos grandes atos magníficos – ora sincrônicos, ora caóticos.

Atos estes que conduzem a leitora e o leitor a, invariavelmente, lembrarem de suas próprias perdas, ganhos, sortes, azares e amores vividos.

Como ocorre quando se escuta uma orquestra, Milton convoca também nossa subjetividade à interpretação: alguns contos parecem inacabados. Um convite à imaginação.

E, de fato, se não houvesse a palavra somada à imaginação, para onde iriam todas estas histórias?

Grata a ti, Milton, por eternizá-las.

O autor que se propõe a observar a vida sob a lente do detalhe, do aparentemente banal – e nem por isso menos extraordinário – é um ser humano generoso, acredito.

E a ti que me acompanha por aqui, fica esta baita dica de leitura. 😊

RESENHA – Pós-F: Para além do masculino e feminino

O que é cafonice para você?

Eu não sei exatamente definir.

Sei o que talvez sintetizaria seu oposto.

Fernanda Young.

Direta. Contraditória. Profunda. Vulnerável. Firme. Ambiciosa. Audaciosa.

São adjetivos que me parecem definir a complexidade de sua obra e, possivelmente, da própria Fernanda enquanto mulher escritora.

Em “Pós-F”, a autora expõe com coragem suas percepções acerca de questões de gênero, apontando para uma pergunta que também julgo cada vez mais urgente:

Quando é que, finalmente, poderemos transcendê-las?

Quando é que, finalmente, poderemos enxergar homens e mulheres em sua beleza humana – para além de identificações aprisionantes?

Quando é que a dolorosa Guerra dos Sexos – geradora de sofrimento para tod@s/todes – irá finalmente acabar?

Infelizmente, a própria Fernanda não apresenta uma resposta muito otimista.

Desde que li a Beauvoir tendo a concordar: ainda precisaremos de muito tempo, possivelmente séculos, para ir além de discussões sobre gênero e simplesmente vivermos em paz, igualdade.

Mas Fernanda, generosa, deixa uma sugestão para que até lá o percurso seja mais leve:

Cuidemos de nossa autoestima.

Trabalhemos para nos acolhermos, em nossas individualidades, potencialidades e obscuridades.

Se amarmos a nós mesm@s, seremos também melhores em amor aos outr@s. Para além de uma visão restrita envolvendo rótulos.

RESENHA – Na Minha Pele

“Quando você se deu conta de que é branca?”

Esta é uma das questões mais relevantes para reflexão que ficou marcada em mim recentemente, trazida por @olazaroramos, em seu livro “Na Minha Pele”.

Ao mesclar a narrativa de trechos marcantes de sua vida pessoal – a criação na Bahia, a relação com @taisdeverdade, os valores que busca passar aos filhos – aos seus questionamentos enquanto autor, diretor e cidadão negro, ele nos provoca a buscar soluções para uma sociedade mais justa.

Ao admitir que ele próprio, tampouco, possui todas as respostas, enriquece nosso pensamento crítico ao apresentar novas perguntas importantes.

Uma delas:

Como brancas e brancos podem participar ativamente de uma educação antirracista?

Ele sugere leituras como as de “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves e “O Olho Mais Azul”, de Toni Morrison.

Também coloca os questionamentos:

“Como as negras e os negros podem se sentir mais valorizadas(os), acolhidas(os), representadas(os)? Que formato de representatividade é necessário para isso?

Importantíssimos também os pontos do autor acerca da solidão da mulher negra – que hoje ainda é a mais desvalorizada em toda a hierarquia social.

Em geral, recebe menos afeto, menos salário, menos assistência (mesmo na hora do parto, com menos anestesia!)

Como garantir a dignidade da mulher negra?

São questões atuais e urgentes. Agradeço a Lázaro que, por meio de seu livro, as colocou em pauta.

Temos um novo governo começando. Estas questões, agora mais do que nunca, precisam ser pautadas – pelos nossos representantes políticos (por meio de políticas públicas que ajudem a solucioná-las) e por nós, sociedade civil, igualmente.

E você? Tem alguma sugestão acerca delas?

#racismoestrutural#resenhas#leituras2023#racismoestruturalnobrasil#racismoestruturalnao

RESENHA – A Grande Magia

Você já se perguntou de onde as ideias criativas vêm?

Para a escritora @elizabeth_gilbert_writer, elas simplesmente vivem por aí – no ar! – apenas aguardando um momento em que baixemos a guarda, nos permitindo que se expressem.

Seja por meio da música, do desenho, da escrita, da fotografia, ou de qualquer outra manifestação que nos mova.

É sobre isto que versa seu belo livro “A Grande Magia”.

A persistência em permitir que sejamos veículos para a criatividade, deixando de lado os medos dos julgamentos, críticas e, até mesmo, da prisão dos elogios.

Em paralelo, a autora também desconstrói a ideia de que criar é um processo doloroso. Ou de que há certo glamour no estigma d@ “artista criativ@ sofredor@“.

Afinal, se a arte lhe escolher como veículo para se expressar, por que haveria de lhe querer mal? Sem você na equação, como poderia se manifestar?

Super recomendo a leitura, que me fez refletir também sobre formas de tornar meu próprio processo de escrita mais acolhedor, suave e leve – e menos autocrítico.

E você? Como se relaciona com a escrita e a criatividade?

#leiamulheres

RESENHA (Peça de Teatro): O Inverno de Nosso Descontentamento – Nosso Ricardo III

🎭 Shakespeare.

O nome, por si só, carrega peso.

E pesados foram os últimos anos para a população brasileira, em sua maioria. (Lembrando que voltamos em 2021 ao Mapa da Fome, segundo relatório da ONU).

De modo que trazer ao teatro em 2022, ano eleitoral, uma releitura sobre um de seus emblemáticos personagens – Ricardo III – aspirante ao trono da Inglaterra, se mostrou uma iniciativa certeira da Cia Teatro ao Quadrado.

Luciano Abarse (diretor), Marcelo Adams (@marceloadamsteatro) e Margarida Peixoto (@margaridapeixotoatriz) reconstruíram a figura de um vilão que representa, em si, não apenas “Ricardo III”, mas monarcas e genocidas que por eras surgem e ressurgem no mundo.

E perduram somente até dado momento – homens pequenos que são por trás das máscaras autoritárias.

O que lhes sobra? Em seu próprio íntimo, uma incapacidade de conviver consigo mesmos diante da lembrança do sangue que derramaram em seu percalço.

O texto rápido, ágil, tragicômico, em sintonia com os elementos cênicos, traz camadas constantes de intensidade e tensão ao espetáculo.

A meu ver, reflete a confusão mental para a qual líderes autoritários procuram nos submeter (presos em suas próprias distorções psíquicas), utilizando estratégias de discursos genéricos, pouco específicos e contraditórios.

Viva o teatro.

Que nos faz pensar.

Repensar.

Resistir.

Porque o Inverno precisa acabar. Os tiranos sempre caem eventualmente – creio fortemente nisso – mas a cada minuto que estão no poder, vidas são ceifadas.

Então, que caiam rápido.

❤️ Obrigada, Cia Teatro ao Quadrado, pela experiência e por terem me proporcionado uma primeira vivência shakespeariana que ficará na lembrança.

Obrigada @dillymariadocarmo e @chicomarshall pela indicação da peça. E @ccmarioquintana – espaço democrático que é por proporcionar esse tipo de vivência. ☀️