Você já se perguntou de onde as ideias criativas vêm?
Para a escritora @elizabeth_gilbert_writer, elas simplesmente vivem por aí – no ar! – apenas aguardando um momento em que baixemos a guarda, nos permitindo que se expressem.
Seja por meio da música, do desenho, da escrita, da fotografia, ou de qualquer outra manifestação que nos mova.
É sobre isto que versa seu belo livro “A Grande Magia”.
A persistência em permitir que sejamos veículos para a criatividade, deixando de lado os medos dos julgamentos, críticas e, até mesmo, da prisão dos elogios.
Em paralelo, a autora também desconstrói a ideia de que criar é um processo doloroso. Ou de que há certo glamour no estigma d@ “artista criativ@ sofredor@“.
Afinal, se a arte lhe escolher como veículo para se expressar, por que haveria de lhe querer mal? Sem você na equação, como poderia se manifestar?
Super recomendo a leitura, que me fez refletir também sobre formas de tornar meu próprio processo de escrita mais acolhedor, suave e leve – e menos autocrítico.
E você? Como se relaciona com a escrita e a criatividade?
E pesados foram os últimos anos para a população brasileira, em sua maioria. (Lembrando que voltamos em 2021 ao Mapa da Fome, segundo relatório da ONU).
De modo que trazer ao teatro em 2022, ano eleitoral, uma releitura sobre um de seus emblemáticos personagens – Ricardo III – aspirante ao trono da Inglaterra, se mostrou uma iniciativa certeira da Cia Teatro ao Quadrado.
Luciano Abarse (diretor), Marcelo Adams (@marceloadamsteatro) e Margarida Peixoto (@margaridapeixotoatriz) reconstruíram a figura de um vilão que representa, em si, não apenas “Ricardo III”, mas monarcas e genocidas que por eras surgem e ressurgem no mundo.
E perduram somente até dado momento – homens pequenos que são por trás das máscaras autoritárias.
O que lhes sobra? Em seu próprio íntimo, uma incapacidade de conviver consigo mesmos diante da lembrança do sangue que derramaram em seu percalço.
O texto rápido, ágil, tragicômico, em sintonia com os elementos cênicos, traz camadas constantes de intensidade e tensão ao espetáculo.
A meu ver, reflete a confusão mental para a qual líderes autoritários procuram nos submeter (presos em suas próprias distorções psíquicas), utilizando estratégias de discursos genéricos, pouco específicos e contraditórios.
Viva o teatro.
Que nos faz pensar.
Repensar.
Resistir.
Porque o Inverno precisa acabar. Os tiranos sempre caem eventualmente – creio fortemente nisso – mas a cada minuto que estão no poder, vidas são ceifadas.
Então, que caiam rápido.
❤️ Obrigada, Cia Teatro ao Quadrado, pela experiência e por terem me proporcionado uma primeira vivência shakespeariana que ficará na lembrança.
Senti lágrimas quentes nos olhos – um sentimento misto de tristeza e alegria. Ouvi aplausos da plateia e me juntei a eles.
Os créditos na tela subiam e o coração palpitava. Assim foi o fim da sessão que acompanhei de Marte Um (filme nacional que representará o Brasil no Oscar, dirigido por @gabitomartins). 👏
O longa mineiro conta a história dos Martins – uma família negra de classe média baixa, vivendo em um Brasil governado pelo presidente Jair Bolsonaro. Redundante dizer, portanto, que é um filme pautado na atualidade.
Para o pai, a esperança de vida melhor é que o caçula, Deivinho, seja um jogador de futebol famoso. Talvez a mais ousada – embora não impossível, mas raramente concretizável – idealização de um brasileiro.
Aquilo que move um pai trabalhador “comum” a cumprir outro dia de serviço. A fé no menino. No esporte. No futuro. 🙏🏾
Algo que lhe impede de tomar aquele primeiro gole e recair no alcoolismo. Algo que ele preserva como um ideal, mesmo quando as contas apertam e a rotina se torna mais difícil diante da ascensão de uma extrema-direita.
Só que Deivinho tem planos diferentes….Quer ser astrofísico. Mais especificamente: colonizar Marte.
Mesmo sabendo que ir até lá deve custar “alguns milhões de dólares”. 😅 E, em um misto de ingenuidade infantil com ímpeto da alma (coisa linda de se ver), o menino começa com itens velhos de casa a construir seu primeiro telescópio.
O filme mostra, bravamente, como a política é interseccional ‼️ e, de fato, atravessa diferentes momentos da vida de cada personagem. E, para além do longa, a vida de tod@s/todes nós, creio eu.
Nossa fé, nosso otimismo e humor, nossa forma de comer e de amar. Os atritos do cotidiano, as crenças e os costumes.
Não há como sermos apolíticos, penso. Mesmo não cientes, por vezes, a política nos atravessa.
A tod@s/todes- porque impacta a tod@s/todes. Emocional, financeira, espiritualmente.
Porque não existimos sozinh@s neste mundo. Nem aqui, nem em Marte.
E é direito de todo ser humano viver em paz, sem armas ao redor, com dignidade para sonhar e um horizonte mais concreto que lhe permita realizar.
Em resumo: belíssimo é sensível filme 🎥. Mais um pra gente lembrar da importância do dia 2 de outubro. Escolher bem.
Não só nosso presidente, mas quem vai nos representar neste Congresso onde as decisões efetivamente são tomadas.
Que a gente retome nosso direito democrático de sonhar ❤️ e reconstruir um Brasil para os “Deivinhos”, seus pais e cada um de nós vivermos com mais dignidade.
Nós merecemos isso.
ps: aqui em POA, o filme ainda está em cartaz na Casa de Cultura e no Espaço de Cinema. Corre lá! 🎊
Senti um aperto no peito. Li a última frase com olhos marejados. Sabia que o final ia doer, mas não esperava com tamanha intensidade.
E, aqui para você, não quero dar spoilers. No entanto, preciso recomendar a leitura de “As Inseparáveis”, romance inédito de Simone de Beauvoir publicado no Brasil em 2021.
Espécie de texto autobiográfico, ele versa sobre a relação entre Beauvoir (Sylvie, na ficção) e Zaza (Andrée, na ficção). Como o título sugere: ambas foram amigas de infância e adolescência inseparáveis.
No entanto, entre deveres burgueses, pressões familiares em relação ao casamento e amores dilacerados, Sylvie acaba por ver Zaza entrar em uma espiral de autodestruição que só poderia findar em tragédia.
Simone entendeu, diante da história da amiga, como a cultura mata. Aniquila a vida de mulheres diariamente.
O jornal El País, em razão do lançamento recente da obra, levantou a questão: haveria uma Simone de Beauvoir, esta que nos brindou com O Segundo Sexo – livro que emancipou e emancipa tantas mulheres (e que, penso eu, todas precisam ler) – sem uma Zaza?
Depois de conhecer em detalhes essa história forte, dolorida, mas repleta de doçura pelo desabrochar de uma amizade sincera e verdadeira brilhantemente descrita em palavras, acredito no mesmo.
Obrigada Simone, obrigada Zaza. Pelo seu legado. Por terem sido quem foram. Por continuarem a nos libertar.
Me lembro bem do dia: estava na livraria @livrariamegafauna, no Centro de São Paulo, imersa naquele “mar de livros” incríveis.
Por me encontrar sozinha na megalópole e passando por um momento interno intenso de transformações, acho que meu inconsciente me levou à capa deste livro…
“A Vegetariana”.
Folheei algumas páginas, percorri alguns trechos e logo me dei conta: estava diante de uma leitura arrebatadora. Feminista. Doída. Brilhante!
Já havia ouvido críticas positivas, mas não sabia nem se estava pronta psicologicamente para ler a obra inteira.
Deixei passar uns dias….Voltei lá e comprei o romance da autora sul-coreana Han Kang.
Que já inicia com esta premissa forte: uma mulher casada, Yeonghye, tem um sonho ruim envolvendo carne e decide virar vegetariana.
Mas se engana quem julga o livro pelo título e crê que se trata de uma obra intelectual sobre prós e contras desse “lifestyle”.
A meu ver, o ponto central envolve inúmeros mecanismos de controle do sistema patriarcal sobre a mulher.
Versa sobre distintos aspectos de uma sociedade estruturada com base em valores quase que exclusivamente masculinos: poder, virilidade, coerção.
O impacto das figuras masculinas (marido, pai, irmão) no destino devastador de Yeonghye são brutais, dolorosas. E, se eu disser mais, já estou dando spoilers…
A questão que me ficou mais presente é: as opressões contra a mulher na sociedade são tantas que é difícil saber onde começam e terminam.
Às vezes, podem iniciar com coisas pequenas – como a tentativa de controlar e dizer o que temos ou não que comer.
E, se não estivermos atentas, podem levar a extremos – como a doença e a autodestruição.
Ficou curios@? Super recomendo a leitura. Ou, se você já leu, me conta aqui nos comentários o que achou?
👉 Você acredita que, ao lidarmos com o mundo manifesto apenas por meio dos nossos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar), estamos percebendo a totalidade do que é a vida?
Quem somos nós, afinal? Somos seres que apenas interagem com o mundo ao acaso? Ou algo mais? Será que podemos criar mundos e realidades?
Sou fã dos livros do @deepakchopra 🤍 e, nesta leitura, ele propõe uma tese que me faz refletir bastante e ecoa com meus estudos de Yoga.
O autor aponta que a realidade manifesta, na verdade, é alicerçada em pensamentos, dimensionados em energias que criam tudo aquilo que é externo, material, palpável.
Segundo ele, a mente é, portanto, a fonte de tudo o que existe no Universo que criamos para nós e ao nosso redor. 🧠
Nós somos uma verdadeira “sopa de energia”. (Você já reparou nisso, provavelmente, ao entrar em uma reunião com clima tão pesado que se podia sentir no ar). A energia se torna densa.
🤓 A própria fórmula de Einstein corrobora a ideia. E (Energia) = M (Massa/Matéria)
✔️ Em resumo: o livro trata de física quântica e expõe a ideia de que, ao percebermos a realidade mais profunda do Universo, somos capazes de identificar pistas, notar “coincidências” e, de certa forma, visualizar que estamos amparados por forças maiores.
Elas estão aí para nos proteger e ajudar a tomarmos decisões que fortaleçam nossa trajetória de vida.
De certa forma, temos poder de receber orientação e também fortalecer nosso mecanismo de tomada de decisões certeiras para que a vida se torne mais fluida, alegre, leve e feliz. 🌷
O caminho apontado para perceber tudo isso com mais clareza? Meditação!
👍 Ainda não terminei a leitura e já estou adorando, por isso decidi compartilhar.
Do mesmo autor, também já li e recomendo os livros:
📚 Você tem fome de quê? 📚 Supercérebro
Você já leu algo do Chopra? Gostou? Ficou com vontade de ler? Me conta nos comentários que vou adorar saber. 🌟
👉 Você já reparou em como os pequenos diálogos do nosso dia a dia podem ser violentos?
Ou enriquecedores e estimulantes, claro – penso que tudo depende de como nos expressamos.
Acredito que muitos dos maiores problemas em empresas e famílias têm raízes em falhas de comunicação.
Nesse sentido, o livro de Marshall B. Rosenberg foi uma das melhores leituras que fiz na VIDA.
Me abriu os olhos para pontos como:
🔸 Compreender que, ao expormos algo, é interessante que identifiquemos nossas NECESSIDADES.
O ideal não é “acusar” os outros por seus comportamentos que achamos “errados”. Mas, sim, expressar como nos sentimos e sugerir como apreciaríamos que agissem de modo que as necessidades sejam atendidas e a paz prevaleça.
Abrir o diálogo e também ouvir a outra parte envolvida.
🔸 Entender que a RAIVA é provavelmente fruto de necessidades nossas que não estão sendo atendidas;
🔸Perceber que comentários genéricos geralmente são julgadores. “Fulano é feio” (julgamento) é uma percepção pessoal, mas não exprime algo que é necessariamente a realidade.
Comentários mais específicos e que nos incluem na percepção exposta são menos violentos. “A aparência de Fulano não me atrai” (observação).
Isso vale também para elogios: “Beltrana é bonita (julgamento) difere de “A aparência de Beltrana me atrai” (observação).
🔸 Identificar que, mesmo quando não conseguimos nos conectar com palavras, a empatia nos ajuda a ter uma comunicação mais pacífica – observando a postura do outro, seu olhar, seu tom de voz. Isso ajuda a nos conectar.
E você? Já leu o livro? Se sim, o que achou? Se não, ficou com vontade? Me conta nos comentários que vou amar saber. 💜🌷
“Enquanto a ignorância e a miséria permanecerem no planeta, haverá necessidade de livros como esse” – Hauteville House, 1862
O ano de 2020 foi extremamente marcante em minha vida. Não só por conta da pandemia.
Como já mencionei em algumas outras postagens, se houve algo de positivo após o colapso do convívio social foi a oportunidade de me reconectar – ainda mais – com os livros.
Foi graças a um desafio literário lançado pelo podcast Tinha Que Ser Mulher que acabei mergulhando na leitura de um calhamaço que se tornou um dos mais fascinantes que já li. Os Miseráveis.
Difícil resumir mais de 1.400 páginas de enorme profundidade filosófica, histórica, religiosa e moral em breves palavras. Inquestionavelmente, mergulhar na narrativa publicada pelo escritor francês Victor Hugo em 1862 me fez repensar sobre inúmeros aspectos da vida em sociedade e da própria existência humana.
Naturalmente, também não poderia deixar de vir aqui compartilhar alguns aprendizados e frases marcantes da obra. Topa mergulhar comigo nas reflexões?
O amor sustenta uma existência
Há muitas frases em Les Mis que versam sobre o amor. Toda a narrativa (que perpassa a história de vida do personagem Jean Valjean) tem a capacidade de amar do ser humano quase como personagem atuante.
Victor Hugo parece querer frisar que uma solução possível para todas as esferas da miséria humana – da material à ética e moral – passa pela aptidão empática e existente em nós de amar.
É o amor que dá sentido a uma vida quando todo o mundo externo assusta e implode. O que me fez pensar: será que no contexto de nossa realidade cada vez mais acelerada e tecnológica, ainda encontramos tempo de amar?
Indo além…o que vai sobrar do tecido da nossa vida quando não mais estivermos aqui, se não deixarmos uma marca de amor no coração de alguém? São questões sobre as quais refleti e ainda pondero hoje.
Não basta dar “emprego” – é necessário dar dignidade ao ser humano
Tendo a Revolução Francesa e seus ideais de Igualdade, Liberdade e Fraternidade como pano de fundo de alguns acontecimentos centrais, Os Miseráveis também nos impele a ponderar sobre problemas de cunho social e trabalhista que culminam em conflitos.
Ao traçar um paralelo com a realidade atual, como a desigualdade social no país vem aumentando – tendo se acentuado ainda mais com a pandemia -, novamente pensei mais a fundo sobre a importância da equidade.
No contexto de Brasil em que vivemos, necessitamos começar a refletir mais não apenas sobre como empregar pessoas ao invés de robôs. Mas, principalmente, em como gerar cargos e empregos dignos, que viabilizem a evolução humana.
Um salário não basta para formar intelectualmente um cidadão. Se queremos uma sociedade com menos criminalidade e brutalidade, precisamos desenvolver as pessoas. Ajudá-las a terem a capacidade de evoluir até o alcance de seu pleno potencial.
20 frases do livro “Os Miseráveis” para pensar além
O que compartilhei até aqui foram algumas de minhas percepções pessoais acerca da obra-prima de Victor Hugo. Abaixo, traduzi da versão em Língua Inglesa mais 20 trechos que aparecem no livro para que você leia, releia, questione e aprofunde.
Espero que goste:
“Amar ou ter amado. Isso é o suficiente. Não peça nada mais. Não há outra pérola a ser encontrada nas dobras escuras da vida. O amor é uma consumação.”
“Vamos compreender melhor o que diz respeito à equidade, pois se a liberdade é o cume, a equidade é a base; (…) civilmente, ela é todas as aptidões tendo iguais oportunidades; politicamente, todos os votos tendo o mesmo peso; religiosamente, todas as consciências tendo direitos iguais.”
“Se salvar pelos meios que lhe arruinaram, essa é a obra-prima dos grandes homens.”
“Viajar é um constante nascer e morrer.”
“A maior felicidade da vida é termos a convicção de que somos amados.”
“Com os olhos fechados é a melhor forma de olhar para uma alma.”
“Pobres daqueles que só amam corpos, formas e aparências. A morte levará tudo deles. Procure amar almas, você as encontrará de novo.”
“Monstros se incomodam facilmente.”
“Destrua o buraco Ignorância e você destruirá a toupeira Crime. O único perigo social é a escuridão. (…) Humanidade é similaridade. Todos os homens são a mesma argila. Não há diferença, aqui na Terra ao menos, por predestinação. A mesma escuridão antes, a mesma carne durante, as mesmas cinzas depois. Mas a Ignorância, mesclada com a composição humana, escurece essa percepção. É assim que a Ignorância possui o coração do homem e, daí, surge o Mal.”
“Diante daqueles cujo olhar não tem luz, reflita e estremeça. A ordem social tem seus mineiros sombrios. Há um ponto em que minar torna-se um sepultamento e toda a luz se vai.”
“Um cético cedendo a um crente é algo tão simples quanto a lei das cores complementares. O que nos falta nos atrai. Ninguém ama a luz como um homem cego.”
“O deleite que inspiramos nos outros tem esta encantadora peculiaridade: longe de ser diminuído como qualquer outro reflexo, ele retorna a nós mais radiante do que nunca.”
“É estranho como uma consciência clara resulta em uma geral serenidade.”
“Sobre métodos para se rezar, todos são bons, desde que sejam sinceros. Feche este livro e você está no infinito.”
“Este é, na verdade, o mais desastroso dos sintomas sociais: todos os crimes do homem começam com a vadiagem na infância.”
“Certamente nós falamos conosco mesmos; não há um ser pensante que não tenha experimentado isso. Alguém até poderia dizer que a palavra é um mistério ainda mais magnífico quando, dentro de um homem, ela viaja de seu pensamento até a consciência, e retorna da consciência ao pensamento.”
“A lei sagrada de Jesus Cristo governa nossa civilização, mas não a penetra. Eles dizem que a escravidão desapareceu. Isso é incorreto. Ela ainda existe, mas agora pesa especialmente sobre a mulher e se chama prostituição.”
“Em cidades pequenas, uma mulher desafortunada parece estar completamente nua diante do sarcasmo e da curiosidade de todos. Os maliciosos têm uma obscura felicidade (…) E algumas pessoas são maldosas pela simples necessidade de falar.”
“Ensine aos ignorantes tanto quanto puder; a sociedade é culpada por não prover educação universal gratuita, e deve responder pela escuridão que produz. Se uma alma é deixada na escuridão, pecados serão cometidos. E a responsabilidade não é de quem comete o pecado, mas daqueles que causam a escuridão.”
“Ser perverso não garante prosperidade.”
E você? Já leu Os Miseráveis ou ficou com vontade de mergulhar na obra? Fique à vontade para compartilhar suas percepções comigo aqui nos comentários. Vou adorar saber. 🙂
Tenho 26 anos, o que se traduz em uma experiência de vida ainda bastante limitada. No entanto, ouso dizer que 2020 tem sido um dos anos mais difíceis na história do Brasil. Por quê?
Bem, pois está escancarada bem diante de nossos olhos a abismal desigualdade social de nosso país patriarcal. Tudo isso em meio a um genocídio (sim, assim descrevo o que acontece quando mais de 170 mil pessoas perdem sua vida, devido à necropolítica praticada por um governo).
Ontem mesmo, o LinkedIn divulgou nova pesquisa do Ministério da Economia, apontando que as mulheres concentraram 65,6% dos empregos formais eliminados na pandemia.
Em um lado da balança, os extremamente ricos ficaram ainda mais ricos: segundo levantamento do banco suíço UBS, a fortuna dos bilionários em meio à pandemia passou de 10 trilhões de dólares. Enquanto isso, a miséria extrema também avançou (onde uns têm demais, outros têm de menos, por obviedade).
Para contextualizar melhor a introdução deste texto (antes que alguém me chame de socialista de iPhone ou comunista), primeiro quero frisar: sei bem que sou uma menina branca, de classe média. E que, provavelmente, ainda vivo em uma bolha de inúmeras maneiras.
Só que isso não me impede de tentar enxergar outras realidades além da minha. Penso, inclusive, que é o mínimo dever que tenho diante dos privilégios que possuo enquanto cidadã.
Além disso, acredito que minha função como jornalista é realmente procurar falar por aqueles que não têm voz. Foi por isso que, no texto de hoje, decidi compartilhar cinco livros que me ajudaram a “sair um pouco da bolha” neste ano de 2020, justamente para compreender melhor o contexto que me cerca neste país.
Sair de bolhas é dolorido, eu sei. É um processo – muitas vezes desconfortável – reconhecer privilégios, mas isso nos engrandece enquanto seres humanos. Nos torna mais gratos e empáticos.
Além disso, enquanto nós da classe média – e alta, principalmente! – não observarmos para além das nossas bolhas, viveremos com medo da violência e da barbárie, que são frutos da desigualdade social.
“Que efeito surpreendente faz a comida em nosso organismo! Eu, que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.”
Nunca passei fome na vida, mas fui capaz de ter dimensão da experiência com a história de Maria Carolina de Jesus. Em seu livro, amplamente comentado neste ano de 2020 e já citado em palestras da Feira do Livro de Porto Alegre e Araxá (que, aliás, estão rolando online pelo Youtube com palestras e convidados incríveis!), é possível mergulhar na vida dos moradores da favela de Canindé, em São Paulo, década de 50.
A obra, tristemente, segue atual. O mundo ainda está repleto de “Marias Carolinas de Jesus”. Basta você passar por uma grande cidade para perceber. Enquanto mulher, esse livro me tocou muito e fez com que pudesse desenvolver um senso de gratidão ainda maior pelas coisas mais simples da vida, como a beleza do entardecer e um prato de comida.
“O que é a história de Fantine? É a sociedade comprando uma escrava. De quem? Da miséria. Da fome, do frio, do isolamento, do abandono, da privação. Dolorosa negociação. Uma alma por um pedaço de pão. A miséria oferece, a sociedade aceita. […]. Dizem que a escravidão desapareceu da civilização europeia: é um erro. Existe ainda, mas não pesa senão sobre a mulher, e chama-se prostituição.”
Ainda não finalizei a leitura deste clássico calhamaço, mas já vale a pena dividir algumas palavras por aqui. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que a obra de Victor Hugo é das mais tocantes que já li em toda a minha vida. Principalmente porque versa sobre a miséria humana em todos os espectros possíveis: do âmbito financeiro ao moral.
Este livro tem me feito compreender diversos tipos de miséria que permeiam a existência. A do dinheiro é apenas uma delas – e que exige, de fato, muita atenção e compaixão por parte de todos nós que nunca passamos pela privação extrema.
Por outro lado, a obra também abre o coração do leitor para o que é realmente o aspecto mais importante da vida: amar. Sem amor, somos todos miseráveis (ricos ou pobres).
‘Depois do sucesso da segunda onda do movimento das mulheres, o mito da beleza foi aperfeiçoado de forma a impedir o avanço do poder em todos os níveis na vida individual da mulher. As neuroses modernas na vida de um corpo feminino se espalham de mulher para mulher em ritmo epidêmico.”
Enquanto mulher, também faço parte de uma minoria oprimida da sociedade. Mas, neste contexto, há ainda outras bolhas mais profundas, que afligem diferentes camadas sociais.
A obra da jornalista Naomi Wolf me fez ter a sensação de sair de uma nova bolha este ano: aquela que permeia a “obsessão pelo corpo perfeito”, que atinge tantas e tantas mulheres neste exato momento.
Neste livro, ela tece um argumento poderosíssimo de que, para brecar o avanço intelectual das mulheres e suas conquistas profissionais, a sociedade patriarcal associou o crescimento patrimonial da mulher à uma “beleza comprável”, por meio de cosméticos, cílios, maquiagens e horas gastas na academia.
Em outras palavras: a sociedade de consumo aprisiona a mulher em seu ideal de corpo, de modo que despendemos nossos salários (já mais baixos), muito frequentemente, em coisas relativamente fúteis – quando poderíamos estar lendo um livro, ou nos cuidando em casa mesmo…
A quem interessa, afinal, que sejamos ignorantes e apenas belos “cabides” maquiados, ao invés de seres pensantes?
“Somos úteros de duas pernas, isso é tudo: receptáculos sagrados, cálices ambulantes.”
Embora seja ficcional, a obra de Atwood me fez sair da bolha no sentido de pensar profundamente sobre as diferentes experiências de dor que podem impactar a mulher em uma sociedade. Sobre como somos colocadas em caixinhas e, frequentemente, julgamos umas às outras pelos papeis que assumimos (mãe, amante, esposa fiel, “lésbica”, dona de casa, etc).
As palavras da autora despertaram em mim compaixão por outras mulheres que, com certa vergonha, hoje confesso que já cheguei a julgar. Me fez aprofundar também a compreensão de que a única forma de modificarmos a estrutura patriarcal, inserida no contexto do fanatismo religioso, é ajudando umas às outras, jamais competindo e apontando dedos.
ps: já escrevi uma outra resenha mais completa sobre “O Conto da Aia”, você pode ler neste link.
“As flores do campo e as paisagens têm um grande defeito: são gratuitas. O amor à natureza não estimula a atividade de nenhuma fábrica.”
A distopia de Huxley foi perfeita para o momento de quarentena, pois acentuou minha percepção do que estava por trás do colapso social e econômico que pautou 2020: a diferença de salários e o nível de valorização que permeiam distintas profissões, além da alienação coletiva que ocorre, justamente, quando não saímos da bolha.
Por que as pessoas não pararam de trabalhar em meio à uma pandemia? Algumas não tiveram opção, precisavam do dinheiro. Outras não aguentaram o peso de sua consciência dentro de casa e, mesmo com bens acumulados para três gerações, acabaram saindo. Houve, ainda, aquelas que mal pararam para refletir sobre tudo o que está acontecendo e seguiram rotinas em um automatismo assustador.
A ignorância continua a mover grande parte da massa populacional do Brasil. E o maior problema dela é justamente o fato de ser mortal, como ficou claro com o Covid-19.
E você? Já leu alguma dessas obras? Se quiser me contar aqui nos comentários, vou adorar saber!
Observação: os livros indicados neste post contêm meus links de afiliada. Ao comprar por meio deles, você não paga nada a mais, mas ajuda a rentabilizar meu trabalho para que eu possa seguir escrevendo esses textos. Obrigada!
Acompanhei a primeira temporada da série “O Conto da Aia” no início de 2019, quando os primeiros instintos mais fortes ligados à causa feminista começavam a aflorar dentro de mim. As cenas eram impactantes, duras de assistir, mas persisti até o fim. Na época, porém, ainda não tinha dimensão real do que tudo aquilo significava.
Passa um ano. Brasil, 2020. Fanatismo religioso. Pandemia. Isolamento social. Acabei, enfim, com um exemplar em mãos do livro que deu origem à série, escrito pela canadense Margaret Atwood.
Eu, a mesma pessoa, mas agora já também com mais de um ano de estudos feministas na bagagem, graças ao projeto desenvolvido junto à minha amiga Carolina Marco, o NÓS (por meio do qual criamos conteúdo gratuito para empoderar mulheres), pude realmente me aprofundar nessa obra crítica brilhante. Talvez equivocadamente chamada de distopia.
O fato é que, a meu ver, o mundo em que vivemos hoje parece tornar-se cada vez mais próximo do cenário da série. Vou explicar o porquê.
Elementos centrais de O Conto da Aia
Distopia, segundo o dicionário, seria uma antítese de utopia. Em outros termos, diz respeito a um estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação (antítese de utopia). Sob tal perspectiva, caso ainda não tenha ouvido falar da série ou do livro, a classificação estaria correta.
Para dar um breve resumo, a história se passa na chamada República de Gileade. Trata-se de uma sociedade estabelecida nas fronteiras do que antes eram os Estados Unidos da América, tomado por um movimento fundamentalista de reconstrução cristã autointitulado “Filhos de Jacó”.
Por meio de um golpe, ele suspende a Constituição sob o pretexto de “restaurar a ordem” social diante de um problema central: o país se encontrava tão poluído e tóxico que a saúde e a fertilidade da maioria da população feminina foi afetada e as mulheres pararam de ter filhos.
Basicamente, o que se passa é que sob o pretexto religioso é criado um Estado completamente totalitário, militarizado, hierárquico e fanático, que distorce textos do Velho Testamento para reorganizar o país sob um elemento central: a reprodução. As mulheres não têm mais a possibilidade de leitura, estudo ou autonomia de qualquer tipo.
Naturalmente, elas acabam divididas em “castas” estabelecidas, claro, por sua capacidade reprodutiva (existente ou inexistente). Cada uma está predestinada a executar uma função. A personagem principal, Offred, faz parte do grupo das Aias – mulheres obrigadas a se vestirem de vermelho e copularem com os Comandantes das casas que habitam, cujas esposas já são inférteis.
Mas há também as mulheres destinadas à limpeza e aos serviços domésticos, por exemplo. Cada uma na sua “caixinha”, no seu papel. Odiando – ou invejando – a outra pelo que ela ocupa. São justamente esses elementos sutis da narrativa que parecem transformá-la não mais em algo distópico. Mas, sim, em algo próximo da realidade de todas as mulheres, independentemente da classe social.
Na verdade, O Conto da Aia simplesmente mistura aspectos já existentes e fortíssimos da opressão à mulher e imagina-os levados à máxima potência.
Violência que transparece nas palavras
Tive o insight de que o livro não era totalmente imaginativo justamente porque palavras são muito expressivas. Como a obra inteira é narrada em primeira pessoa, fui capaz de sentir o mesmo que Offred em diversos aspectos de sua descrição quanto à objetificação de seu corpo, os olhares de julgamento de outras mulheres e a educação estruturada com base na cultura de estupro, que tende a culpabilizar as vítimas pelos abusos.
Tomei a liberdade de expor, aqui, alguns trechos diretos que corroboram o que digo. Por exemplo: quando, no Centro de Treinamento ao qual às mulheres são enviadas assim que a República de Gilead é estabelecida, as “Tias” (espécies de freiras treinadoras) lhe fazem uma lavagem cerebral para que se submetam ao regime.
“Janine está contando como foi currada por uma gangue aos catorze anos e fez um aborto. (…) – Mas de quem foi a culpa?, diz Tia Helena, levantando o dedo roliço. ‘Foi dela, foi dela, foi dela, entoamos em uníssono.’ ‘Quem os seduziu?’, Tia Helena sorri radiante, satisfeita conosco. ‘Ela seduziu. Ela seduziu. Ela seduziu. ‘Por que Deus permitiu que uma coisa tão terrível acontecesse? ‘Para lhe ensinar uma lição. Para lhe ensinar uma lição. Para lhe ensinar uma lição. Na semana passada, Janine explodiu em lágrimas. (…) Nesta semana, ela nem espera que comecemos com as zombarias. ‘Foi minha própria culpa’, diz ela. Foi minha própria culpa. Eu os incitei, os seduzi. Mereci o sofrimento’. ‘Muito bem, Janine’, diz Tia Lydia. Você é um exemplo.”
Forte, não é?
Ou esta descrição de como Offred se sente em relação ao seupróprio corpo:
“Eu costumava pensar em meu corpo como um instrumento de prazer, ou um meio de transporte, ou um implemento para a realização de minha vontade. Eu podia usá-lo para correr, apertar botões deste ou daquele tipo, fazer coisas acontecerem. Havia limites. Mas meu corpo era, apesar disso, flexível, sólido, parte de mim. Agora, a carne se arruma de forma diferente. Sou uma nuvem.”
Ok, não podemos dizer que a realidade atual do Brasil está nesse nível de totalitarismo, obviamente. Mas, se você for mulher, provavelmente vai se identificar com algumas sensações evocadas pelo livro. Talvez sinta alguma cosquinha engraçada que lhe diga: já experimentei tal sentimento. Ou, inclusive, “já julguei outra mulher assim”.
Foi muito interessante que, quando terminei a leitura, compartilhei lá no meu Instagram justamente a perspectiva de que “O Conto da Aia” não é uma distopia. A Mariana Blauth, que foi minha colega na faculdade de Jornalismo e hoje coordena um projeto literário super bacana chamado Página Cem, me chamou no inbox e contou:
“Sabia que a própria autora falou em uma entrevista que ela classificaria sua obra como ficção especulativa, não distopia?”
Aí a ficha caiu. De fato, a narrativa do livro não é completamente impossível. Para algumas mulheres, em maior ou menor grau, é uma extensão da realidade. Daí, mais uma vez, a importância da luta feminista: é sobre fazer prevalecer nossos direitos para que a vida se torne melhor para as mulheres – e não pior.
Porque o pior émuito, muito, muito assustador. Como Atwood já alertou em sua fascinante obra-prima que parece distante no tempo, escrita em 1985, mas se torna a cada dia mais atual.
E você, já leu o livro ou acompanhou a série? O que achou? Teve alguma percepção semelhante? Me conta aqui nos comentários que eu vou amar saber!