Lapide sua essência, na vida e na escrita. E nunca abra mão dela.

caderninho para escrita com caneta sob uma mesa de madeira com uma xícara de café e jarra de leite

“Fala se tens palavras mais fortes do que o silêncio, ou então guarda silêncio.”- Eurípedes

No artigo desta semana, meu objetivo é mesmo tecer uma reflexão. Ou melhor: fazer um convite. Que você repense a sua própria trajetória.

Creio que cada uma de nós pode ter uma opinião diferente acerca do porquê estamos aqui. Por que habitamos este mundinho, entre tantas galáxias? O que estamos fazendo neste espaço? Qual é, afinal, a razão disso tudo?

Pessoalmente, acredito que estamos aqui para contribuir de alguma maneira. E, se você tem algum tipo de identificação com a escrita, creio ser muito provável que o seu propósito – ou dharma, em sânscrito – pode ter a ver com as palavras. Já identifiquei que o meu, sem dúvidas, tem.

A relação entre propósito e uma carreira com a escrita

Acredite você ou não que cada uma de nós nasceu para realizar algo – e, em caso negativo, saiba que respeito sua opinião também – de qualquer forma, isto é fato: o que torna a vida prazerosa, o que nos faz ter vontade de viver é um senso de propósito. Sem isso, tudo perde a cor, o brilho.

Gosto de uma frase de Rick Warren. “Viver com propósito é a única maneira de viver de verdade. Todo o resto é apenas existir”. Propósito é isso. É o que nos dá rumo, motivação, sensação de pertencimento, poder pessoal, esperança no futuro.

O que tudo isso tem a ver com escrita? Tudo. Porque o nascer da nossa escrita está estritamente ligado ao florescer de nosso propósito. Esse encontro com a essência lapida nossa vida e, por consequência, a forma que escrevemos.

Por isso, aí vai uma sugestão prática e a qual atribuo a possibilidade que vivi de encontrar realização profissional: escreva para projetos nos quais você acredita.

Procure se envolver com clientes, agências e marcas que carregam uma mensagem na qual você, de fato, crê. De verdade: vai ser muito mais fácil deixar florescer as palavras, emprestar sua voz a um projeto pelo qual você se apaixona.

Identifique-se com os projetos para os quais você escreve. É isso que dá vida à sua escrita – e também o que vai dar sentido à sua vida. Posso afirmar com firmeza: em todos os blogs dos quais já participei – escrevendo desde sobre mercado financeiro, até fotografia e decoração – eu mergulhei de cabeça. E nunca me arrependi.

Se você escrever sobre o que gosta, as pessoas vão gostar do que você escreve

E como saber do que eu gosto, afinal? Minha resposta número um seria: autoconhecimento. Isso não se trata só de fazer terapia, por exemplo.

Na vida, de modo geral, acho que é sempre interessante buscar a ideia de se autoconhecer como uma prática diária – por meio da própria escrita, por vezes, como também da Yoga, meditação e outros aspectos espirituais (só você pode sentir qual é o caminho ou a prática que mais combina com a sua realidade).

Isso tudo justamente para que consiga entender o que realmente importa no mundo para você. A chave é isto: a evolução do seu processo de escrever está intrinsecamente atrelada à sua evolução pessoal. Esta, por sua vez, é contínua e ininterrupta.

Permitir-se olhar mais para dentro, portanto, sempre irá beneficiar a sua escrita. À medida que as palavras brotarem, ao mesmo tempo, você também se perceberá mais confiante enquanto ser humano.

Palavras sinceras são um legado seu ao mundo

Em diversos momentos da minha vida, eu sentia que não pertencia ao local onde estava inserida. Achava que ninguém me compreendia. Sentia aquela vontade de morrer, de sumir, de deixar de existir.

Soa vulnerável dizer tudo isso. Mas, confessa aí: sei que você também já experimentou tudo isso em algum momento.

Só que a gente foi educado a esconder. E, quando decidi parar de esconder tudo o que eu sentia e comecei a escrever meu blog, compartilhar meus pensamentos, aprendizados e processos de crescimento enquanto pessoa e profissional, os feedbacks foram incríveis.

Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que a escrita preservou minha sanidade nos momentos mais escuros da vida.

Portanto, se você é afeiçoado de qualquer maneira pela escrita – seja de uma forma íntima e pessoal, ou mesmo profissional – por favor, peço apenas que não pare de viver esse processo.

Sei que escrever é doloroso às vezes. Há pessoas que podem lhe dizer que é perda de tempo. Ou até que, se você escreve por hobby, que este seria um hábito sem utilidade. Não ouça. Por favor, não ouça.

Se você sente a mesma conexão com as palavras que eu sinto, não acredite. Evite permitir que entre em sua mente a ideia de o futuro é totalmente audiovisual, que ninguém mais lê. A escrita continuará por aqui, nós a defenderemos. E deixaremos o legado das palavras, seja na internet ou nos livros.

Na obra Born to Blog, uma das que costumo indicar para quem trabalha ou está começando a trabalhar na área de Marketing de Conteúdo, os autores Schaefer e Smith nos convidam a refletir sobre esse gigantesco poder da palavra e, principalmente, dos blogs no contexto digital.

Para as futuras gerações, os textos que publicamos hoje (seja em um blog pessoal ou corporativo de um cliente) serão documentos da realidade que experimentamos. Assim como antigamente ocorria com os desenhos feitos nas paredes das cavernas.

Veja que trecho fantástico:

“É fascinante imaginar um futuro em que os historiadores irão ‘cavar’ através de arcaicos drives repletos de entradas de blogs. Pela primeira vez, arqueologistas terão acesso à história emocional de nossa cultura. Diferentemente da arte na parede das cavernas (…), nossa civilização possui uma moldura com tamanho infinito. Nosso compartilhamento só é restrito pelo nosso tempo e pela nossa experiência. É empolgante pensar que, através de um blog, ninguém precisa ter medo de ser esquecido. Se você escreve um blog, está deixando uma permanente pegada digital”, escrevem os autores.

Impactante, não é? Então, para finalizar, quero provocar você uma última vez. Qual é a mensagem que você quer deixar ao mundo? Se soubesse que iria morrer amanhã, quais palavras deixaria? Sua escrita é e será seu legado, sempre.

Escreva, por você. O que você quer escrever já está aí dentro. Você só precisa permitir que o nascimento das palavras aconteça.

E, haja o que houver, como diz o escritor Neil Gaiman: faça boa arte. Pratique a escrita verdadeira. Permita que ela aconteça, esteja você feliz, triste, com raiva ou extasiado.

Escrever é permitir-se. Permita-se.

O que lhe toca no mundo? Aí está sua inspiração para escrever

menina na garupa do pai

“As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade.” – Victor Hugo

Somos pessoas diferentes, com histórias de vida distintas. Cada um de nós sabe a dor e a delícia de ser o que é. Aí está a beleza de tudo: somos únicos.

Não é louco pensar que todos enxergamos um mundo próprio? Que tudo que vemos “aqui fora” é reflexo da nossa mente, moldada por nossas histórias de vida?

O dia pode estar cinza lá fora e, como eu gosto do inverno, posso pensar: “uau, que delícia de friozinho e de clima gostoso para escrever”. Outra pessoa, no mesmo dia, no mesmo horário – e que talvez tenha algum trauma com o frio – pode pensar “nossa, como eu detesto passar frio! Gostaria de ficar na cama hoje e não fazer nada!”.

Por mais desconexo que possa parecer de início, isso tem tudo a ver com a escrita. Como a monja Jetsunma Tenzin Palmo escreve no livro “O Coração da Vida”, nossas percepções criam a nossa realidade.

Quando olhamos alguma coisa, simplesmente vemos tal coisa por um momento, mas imediatamente depois entram em cena nossos julgamentos, opiniões e comparações.

Isso porque a forma como enxergamos o mundo depende de nossa história de vida, o DNA que nos moldou. Dentro de uma grande cidade, há várias coisas que podem chamar a minha atenção, mas não a sua – e vice-versa.

Eu posso reparar em uma flor escondida, você em uma pessoa ou situação. Deu para captar o que quero dizer?

 O fato é o seguinte: há uma lente sob tudo o que enxergamos. Ela é singular para cada pessoa – na verdade, isso que cria uma certa separatividade em cada indivíduo.

Em muitos contextos, tristemente, é isso que pode nos separar. Por outro lado, porém, também pode nos unir. 

 Porque podemos encontrar uma forma de conectar essas diferentes visões. A arte faz isso. A música faz isso. A fotografia faz isso. A escrita faz isso.

Escrever um texto é aproximar suas leitoras e leitores do que você enxerga no mundo

Por meio das palavras, você pode me apresentar à sua realidade. A um mundo completamente novo que, até então, somente você havia enxergado. Todos nós temos esse potencial. Costumo ver inspiração por todos os lados.

Trata-se apenas de treinar – e focalizar – o olhar. O mundo é amplo, muitas vezes caótico e complexo. Justamente por isso um exercício interessante para começar a coletar suas referências para a escrita é desenvolver uma atenção mais plena para aquelas coisinhas que realmente lhe tocam na neste planeta.

Há uma verdadeira infinidade de fatores que podem receber nossa atenção. A vida das pessoas menos favorecidas, moradores de rua, virou pauta de um livro inteirinho da brilhante jornalista Eliane Brum, chamado “A Vida que Ninguém Vê”. 

Em outra de suas maravilhosas obras, “O Olho da Rua”, ela também traz reportagens sobre parteiras na Amazônia e outras histórias sobre as quais a maioria de nós jamais reflete na vida cotidiana.

O que Eliane fez? Ela simplesmente lançou um olhar inédito e cheio de sensibilidade para realidades que costumamos ignorar.

São apenas exemplos. Mas há uma verdadeira lista de temas, histórias e conteúdos pelos quais você pode desenvolver até uma certa obsessão.

Culinária? Plantas exóticas? Pets? Viagens? Construções inteligentes e sustentáveis? Empreendedorismo? You name it. De verdade, as possibilidades são muito amplas.

 Vale até mesmo pensar sobre aquilo que lhe causa algum tipo de dor. Sim, porque certamente há algo no mundo que deve impactar você de uma forma mais profunda nesse sentido também.

Alguma experiência traumática pela qual passou em um relacionamento, o medo de envelhecer, questões de trabalho. Sempre há alguma questão permeando nossa vida. Mesmo aquilo que incomoda a gente pode ser inspiração para a escrita.

A raiva, a dor, a tristeza, a indignação, a incompreensão, o medo. Todos esses nossos sentimentos também anseiam por uma válvula de escape. E a palavra sempre é um caminho.

Quando decidi lança este blog em 2019 e escrever meus próprios textos, refleti muito sobre o que me tocava no mundo naquele exato momento. Queria lançar um novo olhar sobre a minha geração, falar sobre diferentes formas de se viver e trabalhar, sobre a experiência de ser freelancer e viajar a trabalho, vivendo uma vida minimalista.

Desde então, já escrevi mais de 60 textos que mesclam assuntos sobre todos esses universos do nomadismo digital, trabalho remoto e minimalismo. Acho que a paixão que tenho pelos temas citados, somada ao fato de trazer relatos muito pessoais e reais das experiências que tenho vivido, cria uma aproximação com as pessoas.

Eu mesma também me transmutei nesse processo. Ganhei coragem de explorar outros vieses literários. Ousei até publicar crônicas e poemas. Quebrei barreiras mentais. Me aperfeiçoei como escritora e pessoa desde que passei a me permitir assinar meus próprios textos.

Em termos de pauta, eis outro exemplo: à medida que também fui crescendo enquanto pessoa e profissional, um tema que se tornou central em minha vida foi a questão da carreira das mulheres. Por que eu tive que trabalhar tanto a mais que um homem para ter o mesmo salário? Por que tive que me preocupar sempre tanto com o meu corpo, se não sou “só um corpo”?

Levando essas questões para uma amiga, ela também apresentou os mesmos desconfortos. Em sintonia com outros movimentos que estouraram no mundo – como o #MeToo, por meio do qual diversas atrizes reportaram casos de assédio em Hollywood e trouxeram o feminismo de volta às manchetes – nós decidimos que era hora de fazer algo.

 Assim, lançamos um projeto chamado NÓS, uma plataforma de conteúdo, por meio da qual publicamos conteúdos feito por e para mulheres (hoje o projeto está em pausa por falta de tempo, mas esperamos retomar em breve!).

Nele, o que nos propusemos a fazer foi trazer uma visão sobre cultura, música, empreendedorismo, beleza e sustentabilidade – sempre sob uma perspectiva feminina, sempre com enfoque na realidade das mulheres (independentemente de idade, cor ou classe social).

Bem, o que eu posso dizer é o seguinte: nunca, nunquinha, faltou assunto para publicarmos em nossos canais digitais. Porque a realidade sempre nos dá material para criar.

Sabemos que todos os dias mulheres sofrem abusos de todo o tipo, violência física e psicológica, lutam contra a disparidade salarial, encaram pressões estéticas e mentais.

Está na mídia, nas relações pessoais e profissionais, nos conflitos entre gerações. Enquanto houver desigualdade entre homens e mulheres, sempre haverá material a ser escrito permeando o tema do feminismo.

Há muita desconstrução pela frente. Como poderia, então, faltar inspiração para escrever?

Os maiores entraves: hiperestimulação com conteúdos alheios e desatenção

É por isso que eu afirmo: para você escrever e ter ideias de conteúdo, o primeiro passo é justamente identificar o que lhe toca no mundo. Ao aprimorar essa sensibilidade, você vai ver como uma infinidade de temas e acontecimentos do cotidiano podem se relacionar com isso.

Você pensou aí agora “hmmmmm, não tenho a mínima ideia do que me toca no mundo! E agora???”. Minha resposta é: acredito que só precisa prestar um pouquinho mais de atenção. Entendo você. Às vezes a vida é tão, mas tão corrida que a gente não sabe mesmo onde focalizar nosso olhar.

Eu, por exemplo, percebi que não seria capaz de ter foco para produzir conteúdo para mulheres, para blogs de viagem, finanças, empreendedorismo, saúde e, ao mesmo tempo, para o meu próprio blog. Tive que reduzir. Focar.

Entender o que era, de fato, mais relevante. Aquilo que realmente tocava o meu coração.

 O fluxo de informação acelera a gente demais. Percebo que uma das maiores dificuldades para criadores de conteúdo que querem trabalhar profissionalmente no mercado online é justamente saber por onde começar.

Definir as suas próprias linhas editoriais, ou que tipo de cliente almejam atender. E por quê? Bem, porque passam tanto tempo consumindo conteúdo de outras pessoas, que na hora de criar o seu simplesmente travam.

Já passaram por uma exposição tão exagerada a outros conteúdos e referências que se sentem perdidos. Então, por mais paradoxal que possa parecer, talvez o primeiro passo para você coletar boas referências para a escrita seja ficar offline.

Desligar um pouquinho do celular em determinados momentos. Olhar para a vida como ela é. Assim a criatividade começa a nascer e fluir.

Inspiração para escrever: exemplos criativos

Um amigo me contou que a Billie Eilish – cantora que tem músicas incríveis, diga-se de passagem – adora andar pela cidade e gravar sons.

Em uma canção dela, ele me disse, o “pano de fundo” não é um instrumento. Mas sim o barulho de um semáforo na Austrália (ou algo do tipo). Isso, meus amores, é criatividade.

Fotógrafos também são um ótimo exemplo para contextualizar o que quero dizer. O que está por trás de uma fotografia incrível do Sebastião Salgado ou da Annie Leibovitz? É muito mais do que a técnica.

É a sensibilidade de captar os detalhes, de enxergar aquilo que só eles veem. Você não precisa entender de fotografia para olhar as imagens e se encantar.

 Mais uma vez: não é tanto sobre o tema, é sobre o olhar que você dá a ele. Como escritores, também fazemos isso. Extraímos fragmentos da realidade.

Colocamos nossa percepção neles. E entregamos ao mundo, soltamos, deixamos tocar o outro, da forma que for possível.

Claro que a gente não começa a escrever e se torna de cara uma Annie Leibovitz das palavras. Mas lembre-se de que o importante é começar. A perceber, antes de mais nada.

Viver a vida de uma forma mais consciente, presente, atenta. Depois, transformar nossas percepções em palavra se torna mais simples.

 Ouso até dizer que se torna necessário. Quando você começa a olhar o mundo com mais profundidade, atenção e intenção, percebe que realmente as pessoas vivem “adormecidas”. Correndo contra o relógio, com os olhos grudados no smartphone. Não existe tempo disponível à contemplação.

 “A maioria das pessoas apenas existe. Viver é raridade”, disse o Oscar Wilde – ou algo nesse sentido. Pois bem, reparar nisso pode ser bem assustador. Mas é aí que entra a palavra.

Você também vai conseguir transitar melhor por esse mundo de automatismo com essa ferramenta essencialmente humanitária em mãos. Posso afirmar: se for capaz de fazer isso, suas palavras vão mesmo ser ferramentas políticas de transformação social.

Uma das minhas maiores alegrias enquanto escritora é ler os feedbacks que meus leitores escrevem. Soube de pessoas que tomaram decisões importantes depois de lerem algum texto meu.

Outras me escreveram dizendo “nossa, você descreveu exatamente o que eu sinto”. Ou, então, “seu texto me fez repensar algo”. Esse poder de transformação das palavras é realmente muito incrível.

E faz um bem danado para a nossa própria alma saber que o que escrevemos é capaz de tocar o coração de outra pessoa, chegar a esse lugarzinho íntimo e especial.

Então, bora começar?

Este texto é uma adaptação reduzida do quarto capítulo do meu livro: “O Nascer da Escrita: encontre sua voz (e a de seus clientes) por meio das palavras”. Clique aqui para garantir seu exemplar e conferir na íntegra.

O poder da palavra para pessoas e marcas

mãos escrevendo em um caderno, com uma xícara de café e croissant ao lado

“Qualquer história é melhor do que o caos. Na verdade, pode-se dizer que o caos da vida é uma condição crônica para a qual as histórias são o remédio” – Derek Thompson

O mundo é caótico. Eu mesma jamais imaginei na minha vida que sentaria em frente ao computador para escrever um livro durante uma pandemia mundial. Ainda assim, a realidade de 2020 foi essa.

A questão é que nós, homo sapiens, bem que tentamos organizar tudo. Mas grandes catástrofes e pequenos imprevistos diários sempre estão aí para nos lembrar: a verdade é que não temos controle real sobre nada. Isso nos assusta. Por isso, necessitamos de histórias e narrativas que sustentem nossas rotinas e escolhas de vida.

As histórias, pelo menos, nos dão um senso de controle. Uma ideia de que estamos seguindo em uma direção que faça sentido. Vivemos delas, nos alimentamos delas, criamos, cada um de nós, um certo roteiro de vida por meio das narrativas sociais em que acreditamos.

O brilhante historiador Yuval Harari fala sobre isso no livro “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”. Como espécie, para significarmos nossa existência, criamos narrativas. Marcas são narrativas. Personal branding em redes sociais não deixa de ser uma “narrativa” que criamos sobre nós mesmos. Cargos profissionais são narrativas.

Uma das ferramentas mais poderosas que sustenta todas essas narrativas é a palavra. Ela já imortalizou personalidades ao longo da história (quem não se lembra de emblemáticos discursos de Obama, Steve Jobs, J.K Rowling ou mesmo Churchill?). A palavra é o fio que costura postagens em redes sociais, blogs e toda esfera digital.

Derek Thompson, autor da frase que abre este texto, aborda a questão em “Hit Makers”, um livro que analisa minuciosamente como surgem as tendências globais. Ele conclui que a palavra, principalmente se bem colocada e repetida com uma frequência aceitável, porém não exagerada, é capaz de mover multidões.

Você sabia que na transcrição oficial da campanha “Yes, We Can” de Obama, a palavra “promessa” foi repetida 32 vezes? Há muita estratégia por trás do uso de palavras por parte de muitos marqueteiros e políticos. O que demonstra, por outro lado, que ela também pode ser perigosa. Determinados discursos, por meio da repetição, são capazes de alienar.

A escrita como revisão do que se passa em nós

É por isso também que, na esfera pessoal, penso que escrever seja tão assustador. Às vezes, quando escrevo meus diários (o que considero uma espécie de autoterapia), fico chocada ao contemplar o que está “saindo de mim”. Às vezes uma raiva, que eu nem sabia que estava ali, ou um sentimento inesperado por alguém.

Na correria da vida moderna, raramente paramos, respiramos e refletimos. Dar uma pausa e escrever é, portanto, uma maneira de “revisar” o que se passa dentro de nós. De não simplesmente engolir direto tudo que a gente escuta, ouve ou presencia. Todas as situações do nosso cotidiano geram um impacto emocional.

Quando não olhamos para isso, parece que tudo vai acumulando, acumulando, acumulando. Parar e escrever é uma forma de elaborar sentimentos e, até mesmo, eternizar momentos. Há textos que escrevi em determinados momentos da vida que, quando releio, parece que estou experimentando todas as sensações de novo.

Guardei, por meio de minhas palavras, lembranças de pessoas que se foram, memórias de momentos íntimos, detalhes de dias inesquecíveis. Muito do que fui e sou está ali. E posso ter acesso novamente a tudo isso quando quiser. É uma forma de compreender melhor quem já fui, o que aprendi e, a partir daí, moldar com mais clareza quem almejo ser daqui para frente.

Resumindo: a escrita é mágica. É por todos esses motivos que defendo veementemente que a palavra seja usada com responsabilidade, com alma, com verdade. Acredito que ela pode nos curar de diversas formas e, se você sonha em trabalhar escrevendo, penso também que poderá causar transformações sociais ao “emprestar” suas palavras a clientes/marcas.

Toda palavra nasce da emoção. Escrever acontece quando a gente experimenta um sentimento – prazeroso ou não – e tenta exprimir algo dali, entender, colocar no papel (ou Google Drive, ou Word, ou bloco de notas no celular). Às vezes travamos, o que é normal. Às vezes começamos a escrever tanto, que a mão chega a doer de tão feroz que é a experiência. Mas não dá para escrever sem sentir.

E o mundo, nos dias de hoje, parece se esforçar para não sentir. Medo, raiva, tristeza, melancolia, amor, dor, vontade, desejo, paixão. Parece que nada é permitido, você já teve essa impressão? Suprima tudo, tome um remédio para depressão, permaneça produtivo. O tempo é muito curto para lidar com sentimentos.

No cenário atual, escrever é quase um ato revolucionário de humanismo. Isso porque demanda justamente a necessidade de parar, ficar offline, desligar das redes, da poluição sonora e visual do mundo externo. A escrita demanda interiorização. Olhar para dentro. Resgatar o eu perdido.

Para citar também outra pessoa que me inspira muito: a jornalista Ana Holanda, autora do livro “Como se Encontrar na Escrita: o Caminho para Despertar a Escrita Afetuosa em Você”, diz em seu capítulo introdutório que escrever se tornou para ela justamente isto: uma experiência amorosa, humana em sua essência.

Quando aliada ao trabalho jornalístico ou de Marketing de Conteúdo, em sintonia, pode transformar-se então em ferramenta política e de transformação social. Revoluções hoje acontecem graças a pequenas telas de smartphones, que nos permitem partilhar instantaneamente uma mensagem a milhares de pessoas.

Hoje não posso mudar políticas, mas posso transformar a vida das pessoas pelas palavras. Quando isso acontece, a mudança acontece também”, escreve Ana Holanda. Pois eu sinto a mesma coisa.

O fluir das palavras

Escrever é, conforme referi, uma forma de contribuição. Primeiro e antes de mais nada, de mim para mim mesma. Escrevo sobre meus sentimentos, sobre minha forma de enxergar o mundo e minhas percepções, pois entendo que há padrões em mim que necessito observar. Como poderia usar com responsabilidade as palavras em outros projetos, sem estar bem comigo mesma?

Por isso, recomendo que, se você deseja também escrever profissionalmente, ensaie antes olhando para os seus próprios sentimentos. Captar o DNA de qualquer projeto de Marketing de Conteúdo depende de você estar alinhado(a) com o poder das suas palavras. Ter a dimensão de onde elas podem chegar.

Rabisque, teste, brinque com a sua escrita. Deixe por um momento os templates de lado. Posso dizer com propriedade: não é “copiando a fórmula” de alguém que você vai criar um caminho de escrita único e manter uma cartela legal de clientes.

Busque referências de escrita, capacite-se, sim. Mas faça questão de tirar um momento também para não pensar em nada disso. Desconecte-se de vez em quando.

O próprio Einstein dizia:

Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio: e eis que a verdade se me revela.”

Eu observei esse processo em mim mesma. A escrita mais pura não nasce de fórceps.

Nasce de um silêncio interior, de uma quietude quase que sublime.

Você tem se permitido essa quietude?

Este texto é uma adaptação do segundo capítulo do meu livro recém-lançado: “O Nascer da Escrita: encontre sua voz (e a de seus clientes) por meio das palavras”. Clique aqui para garantir seu exemplar e conferir na íntegra.

Como descobrir sua voz (e a de seus clientes) por meio das palavras

imagem de uma mulher de calça jeans e camisa branca escrevendo em um caderninho

“A escrita que abraça, acolhe, encontra uma quantidade maior de pessoas não é aquela cheia de palavras inatingíveis, mas a que todos têm capacidade de compreender”

 Ana Holanda

Escrevo profissionalmente desde que comecei minha carreira no Jornalismo, em 2013. De lá para cá, descobri que nossa forma de escrever pode ser afetada por inúmeras referências, técnicas de escrita e demandas de mercado. A forma como nos expressamos com palavras varia de acordo com nosso trabalho e o momento em que vivemos.

Por exemplo: a reportagem jornalística possui uma liberdade poética mais ampla do que um texto informativo de jornal, que preza por conceitos de objetividade e esclarecimento de fatos. Já uma monografia ou Trabalho de Conclusão de Curso exige cuidados pontuais mais específicos em relação a citações e referências.

Na internet, um texto bem focado em SEO (otimização para buscadores) demanda a observação de inúmeros detalhes minuciosos – como a repetição bem colocada de determinadas palavras-chaves e a formatação de intertítulos. Um post escrito para uma rede social, por sua vez, pode incluir emojis e outras “ferramentas de linguagem”.

Se você atua no mercado digital, muito provavelmente também já ouviu o termo “Copywriting”. Trata-se de um estilo de escrita mais persuasivo, que leva em consideração a necessidade de conduzir o leitor a tomar uma ação. Apresenta uma estrutura mais envolvente, sedutora, com o intuito de promover produtos/serviços e converter vendas.

Outra técnica amplamente utilizada em filmes, séries e na internet é a do Storytelling, a já bem conhecida “jornada do herói”. Ela consiste, para explicar de forma bem resumida, em relatar fatos por meio de narrativas, acompanhando a trajetória de um personagem que passa por provações e, no fim da história, encontra uma solução e as supera.

O que quero dizer com tudo isso? Que, se falarmos em “fórmulas” de escrita, a lista é praticamente interminável. E, ao longo da vida e de nossa jornada como escritores(as), nos deparamos com muitas delas! Particularmente, acho ótimo ter um repertório, conhecer técnicas diferentes, dominar habilidades variadas.

Eu mesma estudei todas as que acabei de referir. Jamais diria que foi desnecessário ou perda de tempo. Pelo contrário, anseio cada vez mais por mergulhar nos mais distintos caminhos de escrita e estilos literários. Adoro ver referências, analisar templates e metáforas, ampliar minha compreensão acerca do uso da palavra.

A grande questão é que, como toda a “regra”, fórmulas mágicas de escrita também podem nos tornar mais tensos e travados. É o que acontece com muita gente na hora de fazer o trabalho de conclusão da faculdade. São tantos detalhes para se pensar…parece que tudo simplesmente não flui.

Percebo muita gente perdida quando começa a ouvir termos como Copy e SEO. De fato, são universos tão profundos que você poderia passar anos estudando. Mas, vamos lá: de que adianta fazer mil cursos online diferentes e nunca colocar nada em prática? A pessoa se afunda em teoria e peca na prática.

Quando, na verdade, praticar é sempre melhor do que ficar só na teoria. Você melhora sua escrita a partir dos feedbacks que recebe. Só que, para obtê-los, precisa começar a mostrar seu trabalho.

Onde surge o entrave?

Acontece que também há uma razão para tudo isso. No livro Hit Makers, Derek Thompson relembra que as mentes mais brilhantes por trás de hits – sejam eles textos, músicas, filmes ou quaisquer tipos de produtos – são aquelas capazes de transcender a ideia da fórmula. Sua habilidade com as palavras, digamos, é tão intrínseca que a mecânica se torna invisível.

O texto simplesmente flui. Quase que sem perceber, você já está fisgado pela história. Porque quem realmente se destaca com as palavras não leva apenas a escrita como processo, mas sim como um ato de total devoção e entrega. O amor pelo trajeto de criação da obra é o ingrediente principal da narrativa.

Assim, o texto toca algum lugar mais profundo e se torna como um amigo, um carinho. É algo semelhante a quando você assiste um seriado e lembra de alguém. Ou escuta uma música e se transporta imediatamente para uma situação ou lugar. Está além da superfície. A identificação chega até a alma. 

Aí está o ponto-chave sobre o porquê as fórmulas não funcionam. Porque, como gosto de dizer, tudo na vida está em constante fluxo de movimento. Se há uma “fórmula para um texto de sucesso” e todos optam por segui-la, logo aquele formato provavelmente não será mais tão atraente assim. Por quê? Porque terá virado simplesmente um lugar comum.

O centro da escrita é sempre a pessoa

Quero reforçar, portanto, que provavelmente a melhor “técnica” para escrever melhor seja justamente começar a olhar mais para as pessoas. E sabe o que faz falta para a maioria delas? Justamente sentir. Falar de sentimentos, das delícias e dores de estar vivo. 

As pessoas anseiam por isso. E querem se conectar com sua essência, ainda que talvez não saibam disso de forma consciente. Como disse brilhantemente uma das minhas professoras de Yoga, Maria Nazaré Cavalcanti, todos nós estamos constantemente buscando reencontrar algo dentro de nós que é verdadeiro e lúcido.

Todos nós, sem exceção, possuímos uma necessidade interior muito forte de reconexão com a nossa origem, com a nossa natureza essencial. É por isso que uma escrita fluida e honesta é capaz de impactar multidões. Não falo apenas no sentido de escrever textos sobre devaneios próprios. Essa sensibilidade pode ser aplicada em basicamente qualquer contexto/projeto.

A linguagem é muito poderosa e, se você colocar honestidade e um DNA próprio nela, sua força é quase imensurável.

Qualquer que seja o tema em pauta.

ps: este texto é um pequeno spoiler do meu novo lançamento literário que vou anunciar na semana que vem, destinado principalmente a amantes das palavras, escritoras/escritores e produtores de conteúdo.  🤍

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Dicas para escrever: 5 formas de inserir as palavras na sua rotina

menina com caderno nas mãos em frente a um rio

Dicas para escrever pipocam diariamente pelas redes sociais e o que não faltam por aí são fórmulas prontas sobre como produzir conteúdos incríveis. Acontece que, a meu ver, permitir que a escrita aconteça nada tem a ver com processos engessados.

Conforme mencionei em outro artigo recente, compreender que existem técnicas e demandas de mercado para variados contextos de escrita pode até ser legal para começar a escrever. Mas só isso não basta.

Escrever, para mim, é como respirar. É como se as palavras aqui dentro aguardassem pelo encontro da caneta com o papel – ou a tela do computador. Por meio delas, tudo o que ainda não foi bem elaborado internamente começa a ficar mais claro.

Vale a pena seguir dicas para escrever prontas?

Minha escrita é um ato revolucionário de reencontro comigo mesma. Justamente por isso me permito publicar aqui um artigo com dicas para escrever: acredito que, quando aceitamos dar vazão ao que sentimos e transformamos nossas percepções em palavras, processos muito profundos acontecem.

Ainda assim, para não ser incoerente, preciso dizer que talvez as dicas a seguir não são as que vão funcionar melhor para você. Elas têm muito a ver também com a rotina que estabeleci para minha vida, com práticas que fazem parte do meu dia a dia.

Mas isso sou só eu. Você não precisa ser igual. Ainda assim, se quiser alguma dose de inspiração para começar, acredito que as ideias abaixo realmente podem ajudar. 🙂

5 ideias práticas para começar a escrever

1) Tire 15-30 minutos por dia para meditar ou fazer uma prática formal de Yoga

A escrita mais bela sempre vai nascer de um encontro com você mesmo. Só que você precisa permitir que esse encontro aconteça.

Sei que a vida é, muitas vezes, corrida. Lembre-se, porém, de que tudo é uma questão de saber eleger prioridades. Em minha opinião, nada pode ser mais importante do que se permitir, uma vez por dia, ficar consigo mesmo.

Portanto, reserve esse tempinho para você. Permita-se. Está tudo bem largar o celular, desligar o rádio e a televisão por alguns momentos. O mundo não vai acabar nesse meio tempo. Acredite.

Há muitas e muitas formas de você meditar. Eu comecei com um aplicativo mesmo – chamado Insight Timer – que tinha um cronômetro e me permitia colocar barulhinhos de chuva, vento, ou músicas relaxantes. Depois que comecei a ficar mais confortável com o silêncio, nem senti mais necessidade do app.

Em relação ao Yoga, sei também que existem aplicativos (embora nunca tenha experimentado), e diversos vídeos no Youtube. Mas recomendo que, para começar, você procure um professor ou uma professora de confiança. Busque essa orientação. Com certeza vai ajudá-lo(a) a ter disciplina e tranquilidade para praticar.

Mas o grande barato é justamente isto: depois que você conhecer algumas das principais posturas e técnicas de respiração, também desenvolverá autonomia para realizá-las sozinho, no quarto, ou em qualquer lugar.

A chave é começar. Permita-se criar um vínculo com a prática. Olhar para o seu corpo e senti-lo, prestar atenção aos seus pensamentos, mas sem julgamentos. Deixe o encontro acontecer. Ele pode ser assustador a princípio, porém é mágico na mesma proporção.

2. Faça uma caminhada contemplativa

Você já parou para pensar que é possível também meditar ativamente? Caminhar sem rumo, para mim, é uma forma de fazer isso – aliás, já ouvi falar também de vários escritores e espiritualistas que defendem essa prática. A ideia de vagar sem o propósito de chegar a algum lugar determinado é, por si só, um exercício de contemplação.

Vou dar um exemplo: escrevo estas palavras em meio à pandemia do Coronavírus. Nas poucas vezes que tenho saído de casa, reparo em tudo. No andar das pessoas, naquelas que usam e não usam máscaras. Nas cores das máscaras. Em como a vida diária, o andar, as feições das pessoas se transformaram.

Só isso já me rendeu inspiração para diversos textos. Como escritora, se não sou capaz de olhar para a realidade e fazer alguma leitura, refletir, internalizar de alguma forma o que estou observando, não terei acesso a material criativo.

Não adianta só beber em outras fontes, ver conteúdos de outras pessoas. Preciso captar aquilo que eu vejo.

3. Anote um pensamento ou sentimento no moleskine (ou bloco de notas). Elabore-o

Sentir e pensar. Algo que todos nós fazemos diariamente, não é? O problema é que ficamos no raso. É gostoso lá. A gente não precisa elaborar nada.

A questão é que, para escrever textos que realmente valham a pena, é necessário aprofundar. Texto bom é texto que reflete na alma. Então, comece por aí. Capte um pensamento. 

Permita-se sentir a sua alma. Como ela reage a tudo o que você escuta, assiste, ouve?

Pode ser um sentimento de indignação frente à política. Ou algo positivo, como um pequeno gesto de amor que você observou entre um casal na rua. O que isso desperta em você? Você lembra de um antigo amor? Ou de um possível novo amor? Alguém que você ama e está longe?

Procure mergulhar nessa autoanálise. Quando faço esse processo, gosto bastante de fugir do celular. Coloque esse pequenino em modo avião, pelo menos por uma horinha. Pegue um caderninho e uma caneta. E deixe fluir. Conecte-se a esse fio de sentimento que brotou a partir da observação.

Não existe certo e errado. Porque, no momento em que começar a escrever, você já vai estar criando. Isso é arte. Ela não precisa de roteiro. Deixe brotar, florescer.

Esqueça a cobrança embutida pela sociedade sobre seu pensamento ser “certo” ou “errado”. Ou sobre gêneros de escrita. Invente. Passeie pela crônica, pela poesia, pelo texto informativo.

Brinque com seu texto. Ele é seu. Portanto, você é livre para fazer o que quiser com essa criação.

4. Converse com um estranho e preste atenção

Quando éramos crianças, nossos pais nos advertiram – com sabedoria – a não falar com estranhos. Afinal, isso poderia ser perigoso. No entanto, a vida adulta nos permite ser um pouco mais ousados. Creio muito que, para escrever algo incrível, é necessário sair da bolha.

E como saímos dela? Falando com pessoas que, muitas vezes, não estão inseridas nela.

Fale com a caixa do supermercado. Pergunte algo a ela. Troque ideias com pessoas que são de classes sociais diferentes, que têm origens étnicas distintas da sua. Agora, durante a pandemia, você pode fazer isso pelas redes sociais mesmo.

Garanto: você vai se surpreender ao ouvir as histórias das pessoas.

A vida humana, por si só, já é a maior fonte de inspiração possível à escrita. Mas precisamos saber ouvir uns aos outros. Confiar mais.

Sair da nossa prisão mental e escrever melhor também depende da habilidade de se permitir abrir-se ao outro. Ser vulnerável. Parar de erguer muros.

Ouça mais. Fale menos. 

5. Descreva algo que lhe machucou no seu dia

Vamos ser sinceros aqui? Cá entre nós: nossas vidas não são tão maravilhosamente perfeitas conforme mostramos lá no Instagram. Nada é 100% lindo o tempo todo.

Mas sabe o que eu acho bonito? Quando a dor se transforma em arte. Escrita que brota da tristeza é algo lindo, pois nos aproxima, nos faz sentir compreendidos quando tudo está uma droga.

Então, se você quer escrever, comece se abrindo à possibilidade de admitir que você sente dor. Que às vezes as coisas não saem conforme o planejado. Que às vezes você se percebe triste, com inveja, ciúme, ou raiva. Todos esses sentimentos estão dentro de nós e, volta e meia, eles batem na porta.

A questão é: como você lida com isso? A escrita também é uma excelente companheira nesse sentido. Ela nos permite canalizar toda essa dor e transformá-la em algo para o mundo. Alguns textos meus, extremamente vulneráveis, foram também os mais difíceis de escrever.

Mas foram justamente eles que renderam comentários do tipo: “me identifiquei muito com a sua história”, “passei por algo muito parecido, obrigada por ter compartilhado isso”.

Porque, por trás das máscaras, a verdade é que todo mundo sofre de vez em quando. Liberar isso por meio das palavras ajuda em nosso processo de cura, ao mesmo tempo em que auxilia outras pessoas na trajetória delas também.

Então, diante de um dia ruim, ao invés de deitar na cama e sofrer com ansiedade, a dica é: transforme o que é ruim também em inspiração para escrever. Descreva como alguém lhe machucou, lhe ignorou ou foi injusto com você. Bote para fora. Quem sabe a dor não vira crônica ou poesia?

Um comovente exemplo que posso trazer aqui nesse sentido é o da Carolina Maria de Jesus. Ela é autora de um dos livros mais tocantes que li nos últimos tempos, chamado “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”.

Como o próprio nome da obra entrega, ela foi escrita por uma ex-moradora da favela de Canindé – uma das primeiras de São Paulo, na década de 50.

O livro é, na verdade, uma série de extratos dos diários de Carolina Maria, descritos com uma lucidez impressionante e, ao mesmo tempo, marcados pela dor de uma mulher relegada pela sociedade capitalista.

É excruciante ler os depoimentos dela narrando, por exemplo, a tortura da fome e os pensamentos suicidas provenientes de acordar diariamente sem saber se haverá comida na mesa para ela e para os filhos.

A linguagem que ela utiliza é simples – mas nada simplista -, há erros de português, mas ao mesmo tempo tudo isso só confere um realismo ainda mais impressionante à narrativa.

É belo e torturante de ler. Eis um exemplo de alguém que transformou dor em escrita. No caso dela, possivelmente as palavras lhe tenham salvado a vida inúmeras vezes.

Recomendo muito a leitura, mas aqui lhe apresento ela como ilustração de que a dor também pode se transmutar em uma escrita pura e que transcende qualquer pretensão de ser algo específico.

Explore sua dor. Não a ignore. Ela pode lhe ajudar a escrever melhor.

E a lidar com a vida – em toda a sua profundidade – também.

Curtiu as dicas? Já colocou ou vai colocar alguma delas em prática? Me deixa saber aqui nos comentários. 🙂 vou adorar ouvir sobre o seu processo.




Como produzir conteúdo interessante? Esqueça um pouco a técnica

mãos escrevendo em um caderninho, com notebook e café ao lado

“A escrita que abraça, acolhe, encontra uma quantidade maior de pessoas não é aquela cheia de palavras inatingíveis, mas a que todos têm capacidade de compreender” – Ana Holanda

Escrevo profissionalmente desde que comecei minha carreira no Jornalismo, em 2013 – de lá para cá, pude acumular uma boa dose de insights sobre como produzir conteúdo relevante.

Se você está começando a trilhar um caminho no Marketing Digital como redatora ou redator e deseja trabalhar com produção de conteúdo, portanto, este artigo é justamente para lhe ajudar.

Durante a faculdade e minha trajetória profissional, descobri que nossa forma de escrever pode ser afetada por inúmeras referências, técnicas de escrita e demandas de mercado. A forma como nos expressamos com palavras varia de acordo com nosso trabalho e o momento em que vivemos.

Sei que parece óbvio, mas você topa aprofundar para entender melhor como tudo isso impacta no momento da escrita e, portanto, no resultado do conteúdo?

Entender o contexto é essencial para identificar como produzir conteúdo de valor

Vou iniciar com exemplos. Você já deve ter notado que a reportagem jornalística possui uma liberdade poética mais ampla do que um texto informativo de jornal, que preza por conceitos de objetividade e esclarecimento de fatos.

Já uma monografia ou Trabalho de Conclusão de Curso exige cuidados pontuais mais específicos em relação a citações e referências.

Na internet, um texto bem focado em SEO (otimização para buscadores) demanda a observação de inúmeros detalhes minuciosos – como a repetição bem colocada de determinadas palavras-chaves e a formatação de intertítulos. Um post escrito para uma rede social, por sua vez, pode incluir emojis e outras “ferramentas de linguagem”.

Se você atua no mercado digital, muito provavelmente também já ouviu o termo “Copywriting”. Trata-se de um estilo de escrita mais persuasivo, que leva em consideração a necessidade de conduzir o leitor a tomar uma ação. Apresenta uma estrutura mais envolvente, sedutora, com o intuito de promover produtos/serviços e converter vendas.

Outra técnica amplamente utilizada em filmes, séries e na internet é a do Storytelling, a já bem conhecida “jornada do herói”. Ela consiste, para explicar de forma bem resumida, em relatar fatos por meio de narrativas, acompanhando a trajetória de um personagem que passa por provações e, no fim da história, encontra uma solução e as supera.

O que quero dizer com tudo isso? Que, se falarmos em “fórmulas” de escrita, a lista é praticamente interminável. E, ao longo da vida e de nossa jornada como escritores(as), nos deparamos com muitas delas!

Particularmente, acho ótimo ter um repertório, conhecer técnicas diferentes e dominá-las.

Eu mesma estudei todas as que acabei de referir. Jamais diria que foi desnecessário ou perda de tempo. Pelo contrário, anseio cada vez mais por mergulhar nos mais distintos caminhos de escrita e estilos literários.

Adoro ver referências, analisar templates e metáforas, ampliar minha compreensão acerca do uso da palavra.

A grande questão é que, como toda a “regra”, fórmulas mágicas de escrita também podem nos tornar mais tensos e travados. É o que acontece com muita gente na hora de fazer o trabalho de conclusão da faculdade. São tantos detalhes para se pensar…parece que tudo simplesmente não flui.

mãos escrevendo em um notebook
Foto: Unsplash

Percebo muita gente perdida quando começa a ouvir termos como Copy e SEO. De fato, são universos tão profundos que você poderia passar anos estudando. Mas, vamos lá: de que adianta fazer mil cursos online diferentes e nunca colocar nada em prática? A pessoa se afunda em teoria e peca na prática.

Quando, na verdade, praticar é sempre melhor do que ficar só na teoria. Você melhora sua escrita a partir dos feedbacks que recebe. Só que, para obtê-los, precisa começar a mostrar seu trabalho.

Eliminando entraves na produção de conteúdo para a web

No livro Hit Makers, o escritor norte-americano Derek Thompson relembra que as mentes mais brilhantes por trás de hits – sejam eles textos, músicas, filmes ou quaisquer tipos de produtos – são aquelas capazes de transcender a ideia da fórmula. Sua habilidade com as palavras, digamos, é tão intrínseca que a mecânica se torna invisível.

O texto, no caso, simplesmente flui. Quase que sem perceber, você já está fisgado pela história.

Porque quem realmente se destaca com as palavras não leva apenas a escrita como processo, mas sim como um ato de total devoção e entrega. O amor pela criação da obra também é ingrediente da narrativa.

Assim, o artigo toca algum lugar mais profundo e se torna como um amigo, um carinho. É algo semelhante a quando você assiste um seriado e lembra de alguém. Ou escuta uma música e se transporta imediatamente para uma situação ou lugar.

Está além da superfície. A identificação chega até a alma. 

Vou propor outro exemplo para contextualizar melhor. Você já deve ter assistido seu filme favorito mais de uma vez, não é? Há pessoas que relatam com alegria, por exemplo, já terem visto a série Friends milhares de vezes (eu também!). Por quê? Porque gostamos dessa familiaridade.

Nossas séries e músicas prediletas se tornam parte de nós. Se transformam em uma linguagem de lembranças.

O mesmo pode acontecer com um texto, perfil de Instagram, blog, ou qualquer projeto de conteúdo online. Pense aí: qual é o DNA do seu conteúdo que gera esse impacto nas pessoas?

O que vai fazê-las quererem ler, reler seus textos, ou acompanhar seus vídeos semanalmente? Como você toca as pessoas de modo que elas anseiem pelo que você publica?

Aí está o ponto-chave sobre o porquê as fórmulas não funcionam. Porque, como gosto de dizer, tudo na vida está em constante fluxo de movimento.

Se há uma “fórmula para um texto de sucesso” e todos optam por segui-la, logo aquele formato provavelmente não será mais tão atraente assim. Por quê? Porque terá virado simplesmente um lugar comum.

Nenhuma série que copiasse Friends seria tão perfeita quanto Friends. Friends é Friends. O que torna o seu texto seu? Como seu projeto de conteúdo revela uma singularidade? Você não vai obter essa resposta de modo exclusivamente analítico.

Apenas voltando a sentir. A saber, afinal, o que torna você única ou único.

Se você quer saber como criar conteúdo interessante, foque nas pessoas

Para concluir o raciocínio, penso que é muito mais válido pensar na escrita e na criação de conteúdo como um processo de libertação, não como algo a ser feito para se atingir um determinado objetivo final. O que vale, como na vida, é a caminhada.

Ao pensar dessa forma, você automaticamente se liberta do “peso” de quaisquer julgamentos e medos de escrever. Pelo menos comigo tem sido assim.

Enquanto escritora, há textos meus dos quais morro de orgulho. Outros, releio e não gosto tanto. Penso que poderia aprimorar. Mas isso tudo é parte do processo. Assim como estou em constante transformação, minha escrita também está.

Isso vai acontecer com você também. Só que é preciso se permitir viver essas transições.

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Foto: Unsplash

Não entenda mal, mais uma vez: eu mesma recomendo – e fiz – cursos de SEO, Storytelling, Branding e Escrita Criativa. A grande questão é que, ao analisar todas essas técnicas, fui percebendo de forma cada vez mais cristalina como o centro de tudo são as pessoas.

A pessoa que escreve e a pessoa que lê.

As pessoas são tudo. Um bom texto é aquele capaz de impactar outro ser humano.

Então, se você quer realmente produzir conteúdo relevante, observe ao seu redor. Olhe para as pessoas. Não há nada mais inspirador do que a própria vida para escrever.

E comece.




Memórias póstumas de um ano nômade

imagem de uma janela de avião

Eu adorava sentar na janela. Colocar os fones de ouvido, minha música favorita do momento e ficar ali quietinha. Só esperando o ônibus ou avião começar a andar, até que as paisagens se transformassem em traços coloridos ou nuvens. Se diluíssem, como a antiga versão de mim que ficava para trás a cada nova viagem.

Pensava comigo mesma que a vida, enfim, se transformara em uma versão do monólogo que a Lana Del Rey – assumidamente uma das minhas letristas contemporâneas favoritas – profere no clipe que antecede a canção Ride.

“Quando as pessoas que eu conhecia descobriram o jeito que eu estava vivendo, elas me perguntaram ‘por quê’? Mas não há sentido em falar com pessoas que têm um lar. Elas não têm ideia do que é buscar a segurança em outras pessoas e o seu lar ser onde você encosta a sua cabeça. (…) Eu não pertencia a ninguém e pertencia a todos. Não tinha nada e queria tudo, com um desejo por cada experiência e uma obsessão por liberdade que me levaram à uma loucura nômade que me deixava deslumbrada e aterrorizada. (…) E, se eu dissesse que não havia planejado para ser assim, estaria mentindo”.

Não sei se eu mesma seria capaz de descrever tão bem o que se passava dentro de mim. No ano de 2019, eu simplesmente precisava vagar. Havia me planejado para isso. Ainda assim, assumir esse lugar não foi simples. Se você é homem, sinceramente, provavelmente nem vai entender o que vou dizer agora.

É que, para uma mulher, entrar em um avião sozinha, rumo muitas vezes ao desconhecido – principalmente no Brasil – é um misto de sentimentos. Por um lado, sensação de independência e orgulho pela realização do sonho construído. Por outro, o medo gritante da exposição e da violência. Um país machista é perigoso, afinal.

Acontece que existe essa partezinha de mim que gosta de flertar com o perigo. Onde moro hoje, na verdade, ninguém gosta dele. Há um certo vício por estabilidade, uma necessidade de fugir do medo. O que, paradoxalmente, parece só gerar ainda mais medo.

Os muros estão cada vez mais altos. Há câmeras por todos os lados. E olha que estou falando de uma cidade pacata.

Talvez por isso eu não me encaixe tão bem. São vidas estruturadas demais, quadradas demais, presas demais. Acabam ficando tão entediados diante da própria existência que começam a comentar a dos vizinhos.

Sei lá. Acho um desperdício tão grande de vida. Cada vez mais tenho dificuldade em compreender esses comportamentos ortodoxos demais. Só que foi justamente a estrada que me fez ter mais clareza sobre tudo isso. Antes, eu era parte da bolha. Hoje, vivo nela, porém desprendida. Ainda que signifique, muitas vezes, estar só.

Meu ano nômade causou esse senso de não pertencimento em mim, mas não me arrependo. Ele dividiu meu coração em pedacinhos e lhes deixou espalhados por diferentes partes do mundo. O nomadismo me fez relembrar o que é a essência do amor.

Me fez recordar que é possível amar pessoas mesmo sabendo pouco sobre elas e que o mundo é cheio de seres humanos incríveis com ideais similares aos meus. Nós já não queremos mais tanto dinheiro ou posses. 

Queremos nos embebedar da vida. Já não temos tanto medo de ganhar ou perder. Nossa ambição maior é transformar nossa existência em arte. Deixar algum tipo de legado.

Nesta terça-feira gelada, reflito sobre tudo isso. O Coronavírus acabou com o nomadismo, pelo menos por enquanto. Por estar bastante ligada à comunidade de nômades por aí, sei que nossas almas ansiosas por desbravar o mundo estão sofrendo bastante com isso.

Ainda assim, restam as memórias de tudo o que vivi. Gosto de olhar para trás com esse sentimento de que tudo valeu a pena. Hoje, percebo com mais clareza que o nomadismo me trouxe também outro aprendizado importante no decorrer do caminho: às vezes, ficar requer mais coragem do que partir

O mundo é gigante e usá-lo como refúgio de si mesmo nem sempre funciona. Estar em quarentena no Brasil, na Europa, na Ásia ou qualquer outro lugar não nos permite fugir. Agora, chegou o momento de começar outro tipo de viagem. 

Não há saída: a maior aventura será para dentro da gente.

Por aqui, essa viagem tem sido intensa.

*A tradução foi minha mesmo e adaptada ao contexto do texto.





Você calcula o custo emocional das suas decisões no trabalho remoto?

plaquinha de fundo rosa com o texto "don´t panic"

Decidir. Eis uma imposição que a vida sempre nos apresenta. Cada um de nós, todos os dias, se percebe diante da necessidade de tomar decisões – algumas de maior importância, outras nem tanto. No contexto do trabalho remoto, porém, a percepção acerca da relevância de fazermos escolhas inteligentes se acentua ainda mais.

De certa forma, foi isso que percebi no decorrer da minha jornada de quase um ano e meio trabalhando exclusivamente como produtora de conteúdo freelancer. Ocorre que, quando nossa casa também se torna nosso escritório, é inevitável que a vida profissional se misture um pouco mais com a vida pessoal

Em outras palavras, torna-se mais fácil identificar que suas decisões profissionais terão um impacto muito forte na qualidade do seu dia como um todo, bem como na sua própria sanidade mental. Especialmente agora, em um período de tantas incertezas.

Topa aprofundar um pouco mais a reflexão?

Não meça o valor do seu trabalho apenas pelo dinheiro, mas pelo impacto em sua saúde

Se você trabalha como freelancer, provavelmente se depara diariamente com questionamentos do tipo “será que estou precificando bem o meu trabalho?”, ou “será que eu deveria trabalhar mais, ou menos?”. Sei bem como é. Desde que optei por esse modelo de trabalho, essas são questões constantes em minha vida.

Mas vejo que até mesmo quem ainda está no modelo CLT, neste momento de home office, pode encontrar certos dilemas na rotina diária. “Será que devo fazer uma pausa no trabalho agora?”, “reservo um tempinho para me exercitar, ou dou conta de toda essa demanda de uma vez?

Em ambos os contextos, são questões que nos levam a tomar decisões. Estas, nem sempre fáceis. Por isso, penso ser este momento de pandemia o timing perfeito para observarmos mais atentamente a forma como trabalhamos, nosso nível de exigência e cobrança interna.

Principalmente porque, trabalhando em casa, qualquer tendência workaholic fica mais evidente. Você pode se perceber pulando uma refeição, trabalhando até muito tarde, ou observando seus níveis de ansiedade chegarem às alturas. 

No trabalho remoto, sentimo-nos mais livres, por um lado. Mas é preciso cuidado, uma vez que a sociedade de desempenho embutiu em nosso inconsciente a ideia de que para sermos “vencedores” precisamos trabalhar incansavelmente, sem nenhum descanso. Até atingirmos a ideia de um certo “eu-ideal-bem-sucedido” completamente ilusório.

Acho brilhante a forma como o filósofo Byung-Chul Han descreve esse processo no livro “Sociedade do Cansaço”.

“Frente ao eu-ideal, o eu real aparece como fracassado. O eu trava uma guerra consigo mesmo. Nessa guerra não pode haver nenhum vencedor, pois a vitória acaba com a morte do vencedor. O sujeito do desempenho se destrói na vitória. (…) É assim que doenças psíquicas como burnout ou depressão, enfermidades centrais do século 21, apresentam todas elas um traço altamente agressivo a si mesmo. A gente faz violência a si mesmo e explora a si mesmo. Em lugar na violência causada por um fator externo, entra a violência autogerada, que é ainda mais fatal, pois a vítima acredita ser alguém livre”.

Passei por várias fases desses processos mencionados por ele – e até hoje ainda caio em armadilhas de vez em quando. Mas é justamente por isso que, atualmente, antes de abraçar um trabalho ou projeto, não penso apenas na precificação em termos de execução. Avalio o custo emocional que haverá para mim em atender tal demanda.

Às vezes, não há preço que pague.

Em tempos de Coronavírus, nenhum trabalho vale a sua saúde física e emocional

Diante de todo o contexto que acabei de mencionar, confesso que me espanta também a forma como algumas pessoas estão simplesmente “vivendo a vida normal” no meio de uma pandemia mundial. Na esfera digital, principalmente, observei que há até mesmo um certo aumento de demanda e aceleração de processos.

Claro que aqui falo somente por mim, do meu ponto de vista. Mas acho válido compartilhar que, nas últimas semanas, cheguei a recusar trabalhos justamente pelo custo emocional que teria ao assumir novos projetos em meio a um contexto de caos social. Para você, talvez pareça loucura ir na contramão e decidir trabalhar menos em um cenário econômico delicado.

Porém, hoje compreendo que o preço da minha ansiedade, somada à ansiedade externa do mundo, seria elevado demais. Não há como precificar minha saúde mental neste momento. Aliás, aproveito aqui o gancho para compartilhar novamente algo bem pessoal.

Tive um caso de Coronavírus dentro da minha família. Sabe quando as estatísticas ganham contornos físicos reais? Pois é. Meus familiares se recuperaram, mas um amigo que havia viajado com eles faleceu, infelizmente. A proximidade dos acontecimentos, assim, torna toda a questão ainda mais tangível para mim.

Mais uma vez, a vida me escancarou: a morte é a única certeza que temos. Foi por esse motivo que tomei ainda outra decisão ousada: abandonar alguns projetos pelos quais tinha enorme carinho, simplesmente para ficar mais offline, trabalhar no livro que quero lançar, ter mais tempo dedicado a mim mesma. 

Pretendo fazer uma espécie de quarentena sabática. Como minimalista que sou, vivendo com menos, gastando muito menos e, por consequência, trabalhando menos. Porque é fato: as pessoas estão morrendo. O mundo que eu conhecia até então mudou. E preciso de tempo para respirar e focar na minha saúde.

Essa é a minha decisão agora. Sei que cada um tem a sua história. Mas sinto que, de alguma forma, preciso externalizar este sentimento: lembre-se, por favor, de que neste momento da história a sua saúde é mais importante que qualquer dinheiro, trabalho, ou qualquer outra demanda que aparente ser prioritária.

Cuide-se. Pegue sol em casa, se possível. Respire, medite. Ouça música. Evite a tendência de se esconder da realidade e do Coronavírus afundando em mais trabalho. Permita-se desligar e ame-se mais.

Como disse o filósofo Clóvis de Barros Filho: a vida hoje vale mais.




4 lições poderosas sobre produção de conteúdo do livro Hit Makers

desenho de duas mãos coloridas se tocando

Eu sei. Sei que você já leu neste oceano de informações da internet milhares de dicas sobre como criar conteúdos incríveis. Mas o livro Hit Makers, sobre o qual decidi falar neste artigo, não é apenas uma obra que aponta caminhos acerca de como ser um “creator” (o novo termo da modinha), capaz de criar estratégias e textos incríveis.

É um livro sobre comportamento humano, essencialmente. Sobre sociedade. Sobre cultura. Sobre o porquê as pessoas fazem o que fazem. Compreender todos esses aspectos é, em minha visão, o ponto mais relevante para se tornar um bom produtor de conteúdo.

Por quê? Porque, embora seja fácil chamar seus seguidores/clientes de leads, não dá para esquecer a grande verdade: do outro lado da tela, consumindo seu conteúdo, está um ser humano. É para ele/ela que você quer escrever. 

Então, topa um mergulho mais profundo comigo na obra escrita pelo Derek Thompson?

Hit Makers não entrega fórmulas, mas instiga a pensar

Um dos aspectos que mais me fascinou na obra do editor-sênior da Revista The Atlantic é justamente este: seu objetivo não é propor uma estrutura milagrosa, aquela “ideia secreta” por trás da fabricação de um HIT. Pelo contrário.

Ao investigar e apresentar no livro os bastidores dos mercados de criadores de conteúdo (nos mais variados formatos, desde música, cinema, arte e, claro, a própria internet), ele aparenta concluir justamente o oposto. Há muito caos na vida. Diversos HITS se tornaram fenômenos com uma importante ajudinha do acaso.

Bem diferente do que o mercado de Marketing de Conteúdo em geral tenta nos vender, não é? “Use a estratégia x e tenha o resultado y” (hahahaha. Sério, se você ainda acredita nisso, por favor, não seja ingênuo). Mas ok, vamos lá. Não é só porque o livro não traz fórmulas que deixe de apresentar argumentos interessantíssimos.

Ao tecer entrevistas com neurocientistas, produtores musicais, donos de canais de televisão por assinatura, entre diversas outras autoridades no mercado de HITS, Thompson aponta algumas direções interessantes. Embora não exista receita de bolo, ao observar o comportamento humano sempre é possível ter insights que, a meu ver, colocam o produtor de conteúdo em uma direção mais certeira.

Abaixo, compilei quatro deles.

TOP 4 insights do livro Hit Makers para produtores de conteúdo

Já abriu o bloquinho de notas aí? Espia algumas sacadas geniais que tirei de Hit Makers:

1. Crie uma linguagem de lembranças por meio do seu conteúdo

“As pessoas gostam de repetir experiências culturais, não somente porque querem se lembrar da arte, mas também porque querem se lembrar de si mesmas, e existe alegria no ato de se relembrar” – Derek Thompson

Você já deve ter assistido seu filme favorito mais de uma vez, não é? Há pessoas que relatam com alegria, por exemplo, já terem visto a série Friends milhares de vezes (eu também!). Por quê? Porque gostamos dessa familiaridade. Nossas séries e músicas prediletas se tornam parte de nós. Se transformam em uma linguagem de lembranças.

Pense aí: qual é o DNA do seu conteúdo que gera esse impacto nas pessoas? O que vai fazê-las quererem ler, reler seus textos, ou acompanhar seus vídeos semanalmente? Como você toca as pessoas de modo que elas anseiem por seu conteúdo?

2. Esqueça a ideia de “aceitação”

“Talvez a genialidade floresça em um espaço levemente protegido da necessidade de ganhar um concurso de popularidade. (…) Talvez a maior obra venha dos criadores que procuram alguma coisa além da aceitação, empurrando a fronteira mais adiante”.Derek Thompson

Se você ainda tem medo de publicar conteúdo, ou medo de se expressar pela falta de aceitação, esqueça isso. De verdade. Sei que é difícil. Às vezes eu publico conteúdos pensando: “talvez fulano e beltrano não gostem disso que eu escrevi”. Mas, se me prendesse a isso, não teria chegado a publicar dois textos aqui.

Não produza conteúdo pensando sempre em agradar alguém. Seu conteúdo é sua arte na internet. Ele pode – e deve – ser autoral, original e, às vezes, crítico. Faz parte não agradar todo mundo. Talvez seja mais interessante fazer com que as pessoas reflitam, do que buscar sua aceitação unânime.

3. Humanize seu conteúdo

“As necessidades básicas das pessoas são complexas, mas antigas. Elas querem se sentir únicas e também querem pertencer a algo; querem banhar-se em familiaridade e também ser um pouco provocadas”. – Derek Thompson

O maior erro do produtor de conteúdo que se prende a templates e regrinhas é, repito, esquecer que do outro lado da tela existe uma pessoa. De que forma seu conteúdo dialoga com as necessidades mais intrínsecas do ser humano? Como ele resolve um problema, oferece uma solução, gera senso de pertencimento?

Vou ser meio enfática, mas lá vai: se você não pensa nisso ao produzir conteúdo, acredito que está dando um tiro no pé e, ao mesmo tempo, prestando um desserviço à sociedade. A internet não precisa de mais lixo eletrônico. Precisa de conteúdo com verdade, alma e propósito.

4. Reforce a mesma mensagem, de formas distintas, prezando pela simplicidade

“Conforme nós crescíamos, tentávamos ser tudo para todo mundo. Nós tentávamos promover todas as coisas em vez de focarmos em poucas. (…) A ESPN havia se tornado uma rede que servia muitos pratos medíocres, como um restaurante barato” – John Skipper, ex-presidente da ESPN

Ah, o tal do minimalismo. Viu só como ele serve para o mercado de produção de conteúdo também? Vou ser bem sincera: para oferecer um bom resultado aos seus clientes, não creio que seja necessário estar presente em todas as redes sociais e plataformas. Apresentar todos os formatos possíveis. Falar sobre 15 assuntos diferentes.

Foque no essencial. Se você for capaz de fazer o essencial bem feito, já tem tudo para conseguir resultados.

E aí, curtiu as dicas? Já leu o livro? Ficou com vontade? Vou deixar o LINK aqui, caso você queira adquirir seu exemplar pela Amazon.*

Se você também já vem estudando o mercado de produção de conteúdo e deseja se aprofundar, sem essa de firulas ou fórmulas prontas, mas mergulhando de cabeça mesmo em como entender seu cliente e criar uma estratégia, convido a espiar os Cursos de Produção de Conteúdo que já fiz e recomendo.

AH! E, se você ler o livro do Thompson, não deixa de vir aqui também depois me contar o que achou! 🙂

*Observação: o livro e os posts indicados neste post contêm meus links de afiliada. Isso significa que, ao comprar através deles, você ajuda a rentabilizar meu trabalho para que eu possa seguir escrevendo esses textos. Obrigada!




Meu ego estava me matando. A estrada ajudou a me salvar.

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Eu só precisava ser livre

Quando tatuei a palavra “free” (“livre”), na lateral do meu pulso direito no ano de 2018, ainda nem tinha dimensão de como seu significado se desdobraria na minha vida. Sempre desejei ser livre. Isso é um fato incontestável sobre mim. Na época, porém, era muito mais sobre o trabalho.

Marquei isso na pele porque finalmente sentia que estava na direção do meu sonho de vida: dentro de alguns meses, pediria demissão da CLT e me tornaria a empresária autônoma que sempre tinha desejado ser. O mais empolgante de tudo? Começaria meu projeto de ser nômade digital.

O engraçado é que, naquele ponto, eu já me sentia até bem “satisfeita” com a minha vida. Trabalhava 6h em uma agência de Marketing Digital (curtia mesmo o que eu fazia), tinha ótimos clientes também como freelancer e, no fim do mês, uma soma “boa” de salário – considerando a realidade do Brasil.

Aparentemente, tudo perfeito, né? O que nem percebia com tanta clareza na época é que essa rotina tinha um custo emocional grande. Quando me dei conta, já não tomava mais café da manhã, malhava 6x por semana (para aliviar uma ansiedade oculta) e comecei a ter algumas questões de saúde, como alterações menstruais.

Aliás: se você for mulher, fique atenta. Alterações no seu ciclo podem ser fortes indícios de desequilíbrios. Resumo da ópera: cheguei a pesar 56kg para meus 1,68m de altura. Mas, para mim – e para a sociedade – estava tudo bem. Afinal, eu era magra, produtiva e ainda “bem sucedida”, não é?

Estava apenas dando tudo de mim para ser aquilo que as pessoas esperam de uma mulher: perfeita. E aí começou o nomadismo. Ele seria o ápice da realização do meu ego. 

A agonia do ego ao sair da bolha

Mas, ao contrário da glamourização que aparece em alguns perfis de redes sociais, descobri que viajar e trabalhar na verdade pode ser um enorme golpe ao nosso “falso eu” nos bastidores. Por quê? Porque você começa a perceber que, aí fora no mundo, você não tem tanta importância quanto na sua família ou no seu trabalho “fixo”.

Você realmente percebe que é ignorante. Que sabe, de fato, MUITO pouco sobre outras culturas, idiomas, formas de vida. É como ser criança novamente. Aliás, em uma das minhas andanças no ano passado, me deparei com uma frase de Pablo Neruda em uma livraria, que dizia assim:

“Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente encontrarás a ti mesmo. E essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de tuas horas.”

Esses dias chegaram para mim com o trabalho remoto e o nomadismo. Comecei a me ver obrigada a olhar de frente para aquele meu ego que insistia em me definir exclusivamente pelo meu sucesso profissional, minha aparência ou minha conta bancária. Na estrada, há coisas maiores em jogo. Você tem que se virar.

Vai ficar em um Airbnb ou na casa de alguém? Terá que aprender a limpar, dormir em outra cama, lavar louça, limpar banheiro. Só isso já traz uma dimensão mais apurada da realidade. A importância do trabalho dos outros que, quando estamos presos somente em nosso mundinho, muitas vezes não reparamos.

A verdadeira libertação

Ontem, assistindo um filme do Gandhi, algo me inspirou a escrever este texto. Em uma determinada cena, ele pede que sua mulher limpe uma latrina. A princípio, ela se recusa – depois cede. 

A essência do gesto era demonstrar justamente isto: não nos definimos exclusivamente pelas funções que executamos, mas pelas pessoas que somos. E nosso ego detesta isso, porque ele adora se apegar em personagens. Ama se sentir importante.

Embora não seja profissional da saúde mental, acredito que não é por acaso o sofrimento de muitas pessoas trabalhando em casa devido ao Coronavírus. O ego sente essa porrada. Pode acontecer de você perceber que não é o rei ou a rainha do pedaço que era lá no escritório. Mas, acredite: sentir isso é parte de um processo de cura.

A frase de Neruda, em minha concepção, diz respeito a essa percepção. Dissolver o ego para, então, olharmos de frente para nós mesmos de novo. Esse é o verdadeiro encontro com a essência. Assustador, a princípio, mas libertador em seguida.

Hoje, a palavra “free” no meu braço tem um sentido diferente. Não almejo necessariamente uma liberdade geográfica (embora isso ainda seja importante para mim). Quero, na verdade, me libertar cada vez mais desse ego que me aprisiona. Posso fazer isso viajando, ou dentro de casa, refletindo, lendo, escrevendo, meditando.

O processo é longo, não acontece de um dia para o outro. Mas tenho certeza, cada vez mais, de que esse é o caminho para uma vida mais plena.

Se você é nômade, me conta se passou por algum processo semelhante? Ou, se está na carreira corporativa, compartilha se em algum momento seu ego já começou a te consumir por inteiro e como você lida com isso? Adoraria saber!